O presidente Luiz Inácio Lula da Silva elevou o tom contra os Estados Unidos ao comentar a sobretaxa de 50% aplicada pelo governo Donald Trump sobre produtos brasileiros. Em discurso em Contagem (MG) nesta sexta-feira (29), Lula classificou a medida como injusta e afirmou que o Brasil pode recorrer à Lei da Reciprocidade Econômica em resposta.
“O Brasil não quer ser tratado como moleque, tem tamanho suficiente para ser respeitado. Não é porque alguém tem mais dinheiro que vai falar grosso com a gente. Educação a gente aprende no berço, aprendi isso com a minha mãe analfabeta”, disse Lula.
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Segundo Lula, a sobretaxa americana foi justificada com base em um dado incorreto.
“O problema é que a taxação americana está baseada em uma mentira muito grande. Eles disseram que iriam taxar países com superávit comercial com os EUA, o que não é o caso do Brasil.”
O presidente também acusou Washington de tentar interferir na soberania nacional ao questionar processos em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
“Querem interferir na nossa justiça. Não sou eu que processo Bolsonaro, ele responde por tentativa de golpe, plano para matar o presidente, o vice e o ministro Alexandre de Moraes. Não podemos aceitar que um deputado enrolado na bandeira americana peça para interferir no Brasil. Esse cidadão será lembrado como o maior traidor da história do país.”
Reciprocidade como resposta
Lula destacou que dos dez produtos mais exportados pelos EUA ao Brasil, oito não pagam tarifa. Por isso, a reciprocidade seria uma forma de reequilibrar a relação comercial.
“O que nós temos que fazer é dar a resposta da reciprocidade. Queremos negociar e aumentar o comércio com os EUA, mas em igualdade de condições. Isso aqui é uma República, uma Nação que tem como paradigma o seu povo.”
O presidente afirmou que, enquanto não há negociação, o governo busca diversificar mercados. O vice-presidente Geraldo Alckmin esteve no México e Lula anunciou uma viagem a 11 países da Ásia em outubro.
“Se alguém não quiser comprar, a gente procura outros mercados. Eu não vou ficar chorando o leite derramado.”
Relação tensa
Lula citou um episódio recente em que o secretário do Tesouro dos EUA suspendeu uma reunião com o ministro Fernando Haddad para se encontrar com o deputado Eduardo Bolsonaro.
“O ministro do Tesouro suspendeu uma reunião com Haddad e foi ouvir mentiras do Eduardo Bolsonaro. O Brasil não aceita esse tipo de tratamento”, criticou.
Apesar do endurecimento, Lula sinalizou que está aberto a negociar:
“Quando quiserem negociar, o Lulinha paz e amor estará de volta. Eu negociei a vida inteira, fazia greve de manhã e negociava de tarde. Mas está faltando interlocutor.”
Programas sociais
O presidente aproveitou o evento em Minas para anunciar medidas sociais. A partir da próxima semana, o governo lançará o programa de gás gratuito para 15,5 milhões de famílias.
“Um botijão sai da Petrobras a R$ 37, mas tem gente que não pode pagar. Vamos dar gás de graça para evitar acidentes com álcool e fogão à lenha”, disse.
Outra medida será o subsídio à conta de luz: consumidores de até 80 mW/mês ficarão isentos, enquanto quem consome até 120 mW pagará apenas uma parte.
Na agenda tributária, Lula reafirmou que quem ganha até R$ 5 mil não pagará mais imposto de renda, enquanto quem recebe acima de R$ 1 milhão por ano terá tributação maior.
“Isso é justiça tributária e justiça social. O pobre paga igual ao dono do banco. Isso vai mudar.”
Política e investimentos
O discurso também teve tom político, com críticas à oposição e defesa da inclusão social.
“Um mandato do Lula incomoda muita gente. Dois mandatos incomodam muito mais. O que está em jogo é se vamos governar para a Faria Lima ou para as pessoas que ainda não têm banheiro.”
Lula destacou ainda investimentos em Minas, incluindo a conclusão de obras do metrô, novos institutos federais e a recuperação da indústria automotiva.
“A Ford foi embora da Bahia, mas os chineses chegaram. Só neste ano já tivemos R$ 180 bilhões em investimentos.”
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