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Pequenas empresas se endividam para pagar tarifas impostas por Trump

Publicado 17/12/2025 • 19:53 | Atualizado há 11 horas

KEY POINTS

  • Novas tarifas impostas neste ano pelo presidente Donald Trump aumentaram os custos operacionais de pequenas empresas que precisam pagar os impostos de importação.
  • Algumas dessas companhias estão recorrendo a empréstimos com juros elevados para cobrir esse custo.
  • “Sinceramente, sinto que o governo está me tirando do mercado”, disse o proprietário de uma empresa de brinquedos de Nova York. “As tarifas são contra o Sonho Americano.”
Presidente Donald Trump durante anúncio de tarifas em 2 de abril de 2025.

Presidente Donald Trump durante anúncio de tarifas em 2 de abril de 2025.

Daniel Torok/ White House

Algumas pequenas empresas americanas que precisam arcar com a conta das novas tarifas do presidente estadunidense Donald Trump estão recorrendo a empréstimos comerciais de curto prazo com juros elevados (merchant cash loans) e a outras formas de endividamento para cobrir esse custo adicional. Vários empresários que assumiram esse tipo de dívida onerosa disseram à CNBC que temem um desastre financeiro por causa disso.

Empresas que falaram com a CNBC relataram ter recebido ofertas de crédito predatório, com taxas de juros superiores a 30%, para cobrir custos relacionados às tarifas. Esses empresários afirmam que suas companhias podem ficar em um profundo buraco financeiro mesmo que a Suprema Corte mantenha as decisões de tribunais federais inferiores que consideraram as novas tarifas ilegais e ordene ao governo federal o reembolso dos valores já pagos.

A Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA informou, no início desta semana, que arrecadou mais de US$ 200 bilhões (R$ 1,1 trilhão) em tarifas neste ano como resultado dos novos impostos de importação impostos por Trump.

Parte dos empréstimos concedidos ocorre por meio de merchant cash loans e acordos de compra de receitas, que não são regulados pela Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) e não precisam cumprir os padrões federais de concessão de crédito. A FDIC, que possui uma política de supervisão sobre práticas de crédito predatório, recusou-se a comentar. O Consumer Financial Protection Bureau (CFPB), que o governo Trump vem tentando desmantelar, não respondeu ao pedido de comentário da CNBC.

Josh Esnard, CEO da The Cut Buddy, empresa de produtos para barbear, disse que recebe várias ligações por dia de credores com juros elevados. “Eles são muito agressivos e enganosos em suas práticas de contato, tanto por telefone quanto por e-mail”, disse Esnard à CNBC.

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Esnard afirmou que, mesmo que a Suprema Corte decida que as tarifas são ilegais e que sua empresa receba um reembolso, o dinheiro não será suficiente para compensar totalmente a Cut Buddy. Ele recorreu inicialmente a três credores diferentes para pagar as tarifas, com taxas de juros variando entre 24% e 30% nos merchant cash loans. A CNBC analisou esses contratos.

Para ser considerado elegível aos empréstimos, Esnard pagou taxas de originação e análise de crédito que totalizaram US$ 30 mil (R$ 165,6 mil), além dos próprios empréstimos. Ele tomou emprestados US$ 950 mil (R$ 5,2 milhões) nos três financiamentos para pagar tarifas que somaram US$ 800 mil (R$ 4,4 milhões).

“Eu precisava ter uma reserva de US$ 150 mil (R$ 828 mil) para a folha de pagamento e os custos operacionais até receber os pagamentos de varejistas e clientes pelos meus produtos”, disse Esnard. “Vai levar cinco anos para quitar esse empréstimo, então, ainda assim, é um prejuízo.”

Em um dos contratos, Esnard obteve um empréstimo de US$ 250 mil (R$ 1,3 milhões), mas deve US$ 325 mil (R$ 1,7 milhões) por causa das taxas. “Preciso pagar semanalmente”, afirmou, citando os termos do acordo.

Recentemente, Esnard recebeu um alívio financeiro para interromper os pagamentos com juros elevados por meio de um empréstimo do The Business Consortium Fund, entidade focada em empresas de pequeno porte e de propriedade de minorias. O fundo analisou seus empréstimos de alto custo e aprovou um novo financiamento que consolidou essas dívidas.

“Em vez de pagar US$ 35 mil (R$ 193,2 mil) por semana, agora vou pagar US$ 35 mil por mês”, disse Esnard. “Ainda é alto, mas é melhor do que os pagamentos aos credores predatórios. Isso salvou minha empresa de fechar. Estávamos literalmente conversando com corretores de negócios para vender a empresa.”

A Cut Buddy, que apareceu no programa de televisão Shark Tank em 2017, vende seus produtos on-line e em grandes varejistas, como Walmart, Target e CVS. Esnard afirmou: “2025 seria o ano de maior faturamento e lucro líquido da minha empresa. Não é mais. As tarifas acabaram com isso.”

Joann Cartiglia, proprietária da Queen’s Treasures, empresa de brinquedos sediada em Ticonderoga, no estado de Nova York, que projeta e produz móveis artesanais para bonecas de inspiração histórica, disse que precisou contrair empréstimos que mudaram sua estratégia de saída do negócio.

“Estávamos planejando nos aposentar em dois anos”, disse Cartiglia, de 64 anos. “Meu marido e eu investimos grande parte de nossas economias de aposentadoria neste negócio, e agora não tenho absolutamente nenhuma esperança de me aposentar.”

Sua empresa, especializada em bonecas, móveis e roupas da série Little House on the Prairie (Os Pioneiros), ficou animada no início do ano com o anúncio do relançamento da série de televisão, popular nas décadas de 1970 e 1980. Mas a Queen’s Treasures teve de aumentar os preços da boneca da personagem Laura Ingalls e de outros produtos por causa das novas tarifas.

A quantidade limitada de produtos também é um problema em toda a linha, e as vendas caíram 33% devido à falta de estoque. “Agora tenho empréstimos para cobrir as despesas do negócio”, disse Cartiglia. “Minha pontuação de crédito caiu, e os bancos nem sequer me consideram por causa dessa classificação mais baixa. Sou obrigada a pegar empréstimos onde consigo.”

Ela descreveu os empréstimos pagos pela empresa como “taxas de máfia”. “É obscenamente alto, acima de 20%”, afirmou. “É muito difícil ver credores obtendo lucros recordes a partir de uma situação ruim. Este seria um ano de desenvolvimento. Agora não é.”

Mesmo que a Suprema Corte decida que as tarifas são ilegais, ela diz que isso não resolverá os problemas de fluxo de caixa da empresa. “Estamos 100% no vermelho por causa da combinação entre a queda nos pedidos e os custos operacionais”, disse Cartiglia. “O dinheiro que pagamos em tarifas deveria ter ido para as operações do negócio e para a formação de estoque para as festas de fim de ano.”

“Eu sinceramente sinto que o governo está me tirando do mercado. As tarifas são contra o Sonho Americano.”

A Village Lighting Company, sediada em Utah, afirmou que a conta de tarifas sobre importações nos 100 contêineres que encomendou neste ano está se aproximando de US$ 1 milhão (R$ 5,5 milhões). “Cerca de 50% das nossas vendas têm preços fixos, com base em contratos firmados com clientes; portanto, vendemos muitos desses produtos diretamente com prejuízo”, disse Jared Hendricks, coproprietário da empresa, que opera há 23 anos.

A empresa faz pedidos de produtos para as festas com um ano de antecedência, o que significa que não havia considerado os custos das novas tarifas de Trump, a maioria anunciada apenas em abril. “Nós meio que passamos de trabalhar por lucro para trabalhar para pagar tarifas”, disse Hendricks. “Estamos no negócio apenas para quitar nossa dívida com tarifas e, então, olhar para o próximo ano.”

Embora a empresa tenha conseguido um empréstimo bancário para cobrir tarifas e custos operacionais, precisou aumentar preços e viu as vendas caírem desde então. “Os aumentos modestos de preços levaram a quedas significativas nas vendas, forçando-nos a conceder descontos apenas para movimentar o estoque”, disse Hendricks. “Neste ponto, tornou-se cada vez mais difícil recuperar os custos das tarifas por meio das vendas normais.”

Hendricks também afirmou que eventuais reembolsos decorrentes de uma decisão da Suprema Corte não serão uma solução milagrosa para empresas em dificuldades. “Essa experiência demonstra que as tarifas não são sustentáveis”, disse ele. “Os consumidores não conseguem absorver preços mais altos, e o ônus recai inteiramente sobre o importador. Essa dinâmica ameaça a sobrevivência de empresas como a nossa.”

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