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Economia em foco Artur Horta

Despencando do topo: Natura amarga queda histórica sem horizonte definido

Publicado 14/03/2025 • 20:07 | Atualizado há 4 dias

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Artur Horta

Artur Horta é jornalista especializado em economia e investidor profissional nos mercados de ações e commodities.

A Natura &Co, que já foi a queridinha do mercado de ações brasileiro e a favorita entre investidores de prestígio, vivencia hoje um dos capítulos mais sombrios de sua história. Após apresentar um quarto trimestre decepcionante, as ações da companhia despencaram 29,94%, a maior queda intradiária da história, refletindo uma série de desafios que a gigante dos cosméticos não conseguiu superar desde a pandemia.

Os resultados divulgados trouxeram à tona uma série de preocupações. A margem bruta, de 63,2%, ficou distante da expectativa de 66% aventada pelos analistas, impactada por promoções agressivas e um mix de vendas desfavorável como os kits de Natal, conhecidos por suas margens reduzidas. Essa erosão na margem se refletiu inevitavelmente no EBITDA, que veio em R$703 milhões – cerca de 30% abaixo do consenso – com uma margem de apenas 9,1%, marcando uma queda de 70 bps em relação ao ano anterior.

A situação foi agravada por despesas operacionais inesperadamente altas, em parte devido à reclassificação de investimentos em TI, anteriormente considerados como capex, agora reconhecidos como opex, o que, segundo o Bradesco BBI, derrubou as margens em 160 bps. Os royalties crescentes da Avon também adicionaram ainda mais carga, com um impacto adicional de 50 bps.

Em meio aos números desfavoráveis, a Natura também anunciou um prejuízo substancial de R$463 milhões no trimestre, enquanto o mercado esperava lucro. Os custos relacionados ao processo de Chapter 11 da Avon nos EUA consumiram R$843 milhões, contribuindo significativamente para a perda. Além disso, investimentos na integração da transformação e despesas com operações descontinuadas somaram R$114 milhões, ampliando ainda mais o desafio financeiro.

A única nota positiva foi um crescimento na receita de 16,1% em moeda constante, totalizando R$7,7 bilhões, com a marca Natura expandindo 21% no Brasil e atingindo crescimento de dois dígitos na América Hispânica. Mas, como bem destacou o JP Morgan, apesar das robustas tendências de receita, as despesas fizeram com que os resultados ficassem aquém das expectativas.

A operação na Argentina foi mencionada como um ponto crítico pela administração, causando impactos negativos que o CFO Guilherme Castellan acredita não repetir nos próximos trimestres. No entanto, a falta de comunicação e clareza sobre os passos futuros deixou o mercado nervoso, procurando por uma resposta e um caminho claro para a recuperação que se torna cada vez mais urgente para a Natura.

E agora, a Natura precisará vender mais operações para se readaptar? Para os acionistas que sempre acreditaram na missão e nos valores de sustentabilidade e inovação da empresa que tentou ser uma holding global de cosméticos, esta é uma reflexão dolorosa.

Por que não há um plano delineado e apresentado ao mercado? Qual é o verdadeiro potencial de recuperação das operações restantes? O que realmente está acontecendo por trás das portas bem fechadas da diretoria? Até quando vamos assistir a esses prejuízos sem uma narrativa clara de recuperação?

Na última vez que a Natura se viu nessa situação de resultados, decidiu vender a Aesop, uma âncora estável e lucrativa dentro da empresa. A transação zerou a dívida da companhia e a deixou com folga para investir no “turnaround” das outras operações, mas concentrou seu portfólio em um conjunto de ativos que lutam para prover algum retorno.

De agora em diante, a Natura busca resolver a situação da Avon Internacional, explorando alternativas como venda ou investimento minoritário, mas sem clareza de tempo ou estratégia definida. Se mais ativos precisarem ser desinvestidos para resgatar a liquidez e obter um novo fôlego, essa decisão deve ser amparada por uma estratégia sólida, que projete um futuro sustentável, não apenas sobrevivente.

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