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Direto de Nova York Norberto Zaiet

A Apple pode viver seu momento Kodak?

Publicado 19/05/2025 • 12:15 | Atualizado há 1 dia

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Norberto Zaiet

Norberto Zaiet é economista formado pela Universidade de São Paulo com MBA pela Columbia Business School. Foi Head para Mercados Emergentes do banco alemão WestLB AG e CEO do Banco Pine. Hoje é sócio-fundador e CEO da Picea Value Investors, family office sediado em Nova York.

Apple.

Apple.

Divulgação/Apple

“Ninguém, nem mesmo eu, ganhou tanto dinheiro para a Berkshire quanto Tim Cook.” Foi assim que Warren Buffett iniciou a reunião de acionistas em que anunciaria, aos 94 anos, sua aposentadoria como CEO da Berkshire Hathaway. Buffett pediu que Cook se levantasse para receber uma enorme salva de palmas, ofuscada apenas pela ovação que o próprio Buffett recebeu ao final da reunião.

O megainvestidor começou a acumular ações da gigante de tecnologia em maio de 2016, quando o papel negociava ao redor de US$ 23 (ajustado pelos splits que a ação teve ao longo do tempo). Continuou a comprar agressivamente até 2018, chegando a possuir quase 6% do capital da empresa ao final de 2022. Buffett começou a reduzir sua posição somente no segundo trimestre de 2024, quando o papel negociava perto dos US$ 200. Cook, de fato, mereceu a salva de palmas que recebeu dos acionistas da Berkshire Hathaway.

O ganho extraordinário com o investimento é, sem dúvida, impressionante. A recente redução da posição, no entanto, revela muito quando se trata de alguém que, tradicionalmente, não vende quando gosta de uma empresa.

Buffett identificou, em 2016, uma companhia com um ecossistema que gerava alta fidelidade do usuário e o mantinha, até certo grau, insensível ao preço cobrado pelo produto. A Apple tinha em abundância — e ainda tem — o que os value investors tradicionais chamam de “customer captivity”. Em tradução livre, é como se a Apple mantivesse o consumidor “em cativeiro”, uma espécie de refém voluntário dos seus produtos e serviços.

Ao longo dos anos, Cook e sua equipe vêm transformando uma empresa que vendia apenas hardware (e o software associado a ele) em uma provedora de serviços. É como se a Apple tornasse o cativeiro no qual o consumidor vive cada vez mais confortável e, enquanto isso, multiplicasse a margem operacional da companhia. A lógica econômica é clara: oferecer o hardware a preços relativamente baratos em relação à percepção de valor que o consumidor enxerga, enquanto vende outros produtos e serviços com altíssima margem.

O problema é que, desde 2022, as vendas do carro-chefe dessa estratégia, o iPhone, estagnaram. As inovações tecnológicas embutidas a cada nova geração do aparelho não têm sido suficientes para incentivar o usuário a trocar de telefone. A última versão, que embute o tão alardeado conceito Apple Intelligence — o pacote de conveniências alimentado por IA — não trouxe o que todos esperavam: uma Siri mais inteligente. Além disso, a equipe responsável pelo seu desenvolvimento foi trocada recentemente, num sinal de que a espera por algo realmente impactante pode ser maior do que se esperava. Donald Trump foi o responsável por adicionar um elemento externo a esse cenário: a ruptura da atual cadeia global de suprimentos, sistema que mantém a Apple ainda bastante dependente da China e sob pressão do presidente americano, que quer ver iPhones “made in the USA”.

A concorrência não está parada. A gigante chinesa Huawei vem conquistando cada vez mais espaço, além de Samsung, Xiaomi e Google. E o atraso da Apple em IA também abre uma avenida de oportunidades para a Meta.

A situação é desconfortável, mas continua longe de ser irreversível. Afinal, a verdade é que ainda não apareceu uma tecnologia disruptiva que possa ameaçar o ecossistema da companhia. Cada dia de atraso no desenvolvimento efetivo da Apple Intelligence, porém, faz com que esse risco aumente.

Na década de 1980, a Eastman Kodak enfrentou uma situação bastante incômoda, que a Apple precisa evitar: a chegada de um produto ou tecnologia disruptiva que lhe tire a atratividade. A empresa, que era líder no setor de fotografia e imagens, começou a perder relevância. Esse processo se desenvolveu aos poucos, com a introdução pela concorrência de câmeras mais baratas e com qualidade igual ou superior. De repente, a adoção em massa da fotografia digital fez a Eastman Kodak perder completamente a liderança — até se tornar uma sombra do que havia sido.

Para quem vive em seu ecossistema, é impensável, aos olhos de hoje, imaginar que uma empresa como a Apple possa perder seu apelo. Mas o mundo inteiro levou um susto quando a China apresentou o DeepSeek - assim como o Google, praticamente um monopólio como ferramenta de busca, vem perdendo espaço para concorrentes como Perplexity e ChatGPT.

Mudanças disruptivas começam devagar e aceleram rapidamente. Há, hoje, riscos de execução da estratégia que não existiam em 2016 e, apesar disso, a empresa ainda negocia a um múltiplo de 30 vezes lucro.

Buffett não vendeu à toa.

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