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Dólar registra 4º recorde consecutivo com cenário fiscal e declaração de Trump no radar

Publicado 02/12/2024 • 19:14

Estadão Conteúdo

KEY POINTS

  • A moeda encerrou o pregão cotada a R$ 6,0680, uma alta de 1,11%.
  • A moeda foi impulsionada pela combinação do fortalecimento global do dólar e o aumento de prêmios de risco associados à incerteza fiscal no Brasil.
  • A declaração de Donald Trump sobre possíveis tarifas de 100% aos países do BRICS pressionou moedas de mercados emergentes e exportadores de commodities.

O dólar à vista iniciou a semana com forte alta no mercado doméstico, encerrando o quarto pregão consecutivo em nível recorde. A moeda foi impulsionada pela combinação do fortalecimento global do dólar e o aumento de prêmios de risco associados à incerteza fiscal no Brasil, intensificada pela decepção com o pacote de corte de gastos anunciado pelo governo na semana passada.

A declaração do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, sobre possíveis tarifas de 100% aos países do BRICS, caso o bloco avance na criação de uma nova moeda para substituir o dólar como referência internacional, pressionou moedas de mercados emergentes e exportadores de commodities. Entre as moedas fortes, o euro também recuou, afetado pelo impasse na aprovação do orçamento na França e pelas movimentações políticas que ameaçam o primeiro-ministro Michel Barnier.

Após um leve recuo na abertura do pregão, com a mínima em R$ 5,9959, o dólar operou em alta durante o restante do dia, atingindo a máxima de R$ 6,0919 no início da tarde. A moeda encerrou o pregão cotada a R$ 6,0680, uma alta de 1,11%. Este é o quinto avanço consecutivo da divisa, acumulando valorização de 4,52% no período e de 25,03% no ano.

Segundo Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, o real segue pressionado pelo cenário fiscal e pelos “ruídos” gerados pela proposta de isenção de Imposto de Renda para rendas de até R$ 5 mil, prevista para apreciação no Congresso apenas em 2025. “Embora declarações como a de Trump pesem, o fator fiscal é determinante na depreciação do real. A economia esperada com o pacote de corte de gastos é muito inferior ao anunciado pelo governo, ficando entre R$ 40 bilhões e R$ 45 bilhões, contra a projeção de R$ 71,9 bilhões para 2025 e 2026”, avalia Costa.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu nesta segunda-feira (2) com ministros e líderes do governo no Congresso para discutir a tramitação do pacote fiscal. Na última sexta-feira (29), os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, prometeram agilidade na análise das medidas, mas enfatizaram que a isenção do IR só avançará se não comprometer o equilíbrio das contas públicas. No mesmo dia, durante um evento da Febraban, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, indicou que novas ações de contenção de gastos podem ser anunciadas.

Apesar dessas sinalizações, Costa acredita que o governo enfrenta dificuldades para alcançar metas fiscais e conter o crescimento da dívida pública. “As declarações de Haddad não indicam medidas de curto prazo, e a percepção de risco segue elevada, o que mantém o dólar pressionado. Somente um compromisso claro de Lula com a agenda fiscal pode aliviar essa tensão”, afirma o economista.

Em um evento pela manhã, Gabriel Galípolo, diretor de política monetária e futuro presidente do Banco Central, reafirmou a defesa do câmbio flutuante e ressaltou que a atuação da autoridade monetária no mercado de câmbio ocorre apenas em situações de “disfuncionalidade”, como problemas de liquidez e fluxos atípicos de recursos.

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