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Aumentar faixa de isenção de IR contraria expectativas para corte de gastos, dizem especialistas

Publicado 27/11/2024 • 17:26

Redação Brasil Times Brasil | CNBC

KEY POINTS

  • Os mercados financeiros enfrentaram forte volatilidade nesta quarta-feira, com quedas no Ibovespa, alta no dólar e apreensões nas bolsas europeias.
  • O Ibovespa recuou para o patamar de 127 mil pontos, acumulando uma perda de 2.500 pontos em relação à máxima intradia.
  • No exterior, as bolsas europeias recuaram devido à piora na confiança econômica na França e Alemanha, enquanto o dólar subiu com expectativas de dados econômicos nos EUA.

O Ministério da Fazenda anunciou que Fernando Haddad vai fazer um pronunciamento na TV nesta quarta-feira (27) para falar sobre o aumento da isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5.000 e para explicar as medidas de corte de gastos que o governo deve enviar ao Congresso.

Economistas ouvidos pelo Time Brasil – Licenciado Exclusivo CNBC afirmaram que as medidas fizeram o dólar subir, e o Ibovespa B3, cair.

O economista-chefe da ARX Investimentos, Gabriel Barros, avaliou que a recente disparada do dólar, que atingiu R$ 5,93 nesta quarta-feira (27), reflete uma reação negativa do mercado às medidas anunciadas pelo governo.

Ele destacou que a possível isenção de Imposto de Renda para rendimentos de até R$ 5 mil contraria as expectativas de cortes substanciais de gastos no pacote fiscal e demonstra uma abordagem que não enfrenta os problemas estruturais das contas públicas.

“O mercado está reagindo de forma contundente e negativa aos sinais de perda fiscal e à ausência de ajustes consistentes nas despesas públicas. Essa proposta não só neutraliza as economias previstas no pacote, mas também gera incertezas em relação à política fiscal do governo”, afirmou.

Corte de gastos: Fiesp avalia impacto no mercado e setor produtivo

Igor Rocha, economista-chefe da Fiesp, disse ao programa Radar que a isenção de Imposto de Renda (IR) para rendimentos até R$ 5 mil, embora significativa para os contribuintes, gera dúvidas sobre a compensação fiscal e adiciona incerteza ao cenário econômico.

Segundo Rocha, o impacto da isenção de IR, estimado entre R$ 35 bilhões e R$ 40 bilhões anuais, pressiona a necessidade de medidas compensatórias robustas, como a taxação de super-ricos e cortes no abono salarial.

Ele diz que ainda não se sabe claramente quais serão as ações, e por isso é difícil calcular seus efeitos no equilíbrio fiscal.

“O mercado reage com cautela porque, pelo lado da arrecadação, ainda há incertezas. O governo precisa detalhar como pretende implementar essas compensações”, afirmou.

O economista também analisou os desafios políticos para aprovar medidas como o corte de supersalários no funcionalismo público, que, segundo ele, enfrentam forte resistência no Congresso. “Combater supersalários é, além de fiscal, uma questão moral. No entanto, muitas categorias têm feito lobby para flexibilizar ou até neutralizar essas propostas, o que pode comprometer a eficácia do pacote”, disse Rocha, enfatizando que ajustes fiscais são fundamentais para sinalizar compromisso com a sustentabilidade das contas públicas.

Em relação ao impacto no setor produtivo, Rocha destacou que um Estado mais eficiente, com gastos equilibrados, cria um ambiente favorável para investimentos e crescimento. “Não se trata de um Estado grande ou pequeno, mas de um Estado eficiente. Uma gestão fiscal responsável reduz juros, estimula investimentos e traz previsibilidade, fatores essenciais para o setor industrial e para o desenvolvimento econômico do país”, disse.

Cenário internacional agrava pressão

No exterior, as bolsas europeias recuaram devido à piora na confiança econômica na França e Alemanha, enquanto o dólar subiu com expectativas de dados econômicos nos EUA. No Brasil, Gabriel Barros destacou que o pacote fiscal deveria priorizar a confiança dos mercados para evitar mais volatilidade. “O governo precisa sinalizar comprometimento com ajustes estruturais. Propostas como a isenção de IR até R$ 5 mil são contraproducentes e passam a mensagem errada para o mercado. Isso, somado às incertezas externas, amplia a percepção de risco e pressiona ainda mais o dólar”, concluiu.

Estrangeiro tira dinheiro

Daniel Telles, do Valor Investimentos, afirma que o investidor estrangeiro, que tem um peso muito grande na Bolsa brasileira, retira dinheiro ao ouvir notícias como essa, o que diminui a quantidade de dólares em circulação, e isso eleva o preço da moeda.

“A Bolsa cai, e o dólar sobe. O mercado está bem ansioso por conta desse anúncio de corte de gastos”, e principalmente para saber como essa dinâmica vai se desenrolar após o anúncio”, disse ele.

Deterioração

De acordo com a economista Helena Veronese, o plano de Haddad para o corte de gastos é uma forte deterioração nos preços dos ativos locais. A isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil é polêmica, pois gera um rombo considerável nas contas públicas.

Se a medida aprovada pelo Congresso, será uma “vitória da ala política”, pois é uma promessa do governo Lula, segundo ela.

“A única coisa que nos resta é aguardar pelo pronunciamento de Haddad e entender as medidas, as fontes de financiamento e a estrutura do pacote”, afirmou a especialista. E a grande dúvida que fica é se o pacote será votado e aprovado ainda este ano ou em 2025.

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