Publicado 02/12/2024 • 12:59
KEY POINTS
Próximo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo
Agência Brasil
O diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçou nesta segunda-feira (2), que o papel da instituição é reancorar as expectativas de inflação.
Durante palestra no evento Fórum Político da XP Investimentos, em São Paulo, Galípolo disse que a desancoragem tem elemento estrutural, e que não responde à ideia de um BC passivo, ainda que exista um movimento conjuntural nas últimas semanas. “Esse é um processo de desancoragem, que já está aí há algum tempo e que nos incomoda há bastante tempo”.
Galípolo ainda afirmou que a instituição tem instrumentos para cumprir a meta de inflação. “O BC tem instrumentos para cumprir essa meta de inflação (de 3%). O BC tem instrumentos para cumprir essa meta, com certeza”, garantiu.
Ele salientou que a precificação da política monetária, as medianas do relatório Focus e as respostas do Questionário Pré-Copom (QPC) sugerem que o mercado espera “proatividade” do BC no sentido de aumentar os juros – e não que a autoridade monetária se recuse a fazer o suficiente.
No QPC, ele destacou, as respostas para as perguntas “O que acha que o Copom fará nas próximas reuniões?” e “Na sua opinião, o que deveria ser feito?” são similares. Isso, ele disse, demonstra a percepção de que o Copom ajustará os juros para cumprir a meta.
“Ou seja, você está imaginando que a dose é mais ou menos a mesma do remédio e, ainda assim, você fica imaginando que isso não dá conta de reancorar as expectativas. Tem um lado que está correlacionado com isso, que incomoda muito o BC”, afirmou Galípolo.
Para ele, a dúvida sobre a viabilidade da meta está superada, assim como a incerteza de sucessão do BC caiu. “Havia o questionamento da viabilidade da meta, acho que isso está relativamente superado e afastado. Também acho sobre a questão da sucessão, espero que isso esteja bastante reduzido também hoje do ponto de vista que estava colocado ali”, disse, afirmando que permanece um certo puzzle quando se olha para aquilo que está na pergunta do QPC sobre o que você imagina que o BC vai fazer e o que você faria.
Galípolo falou sobre o assunto quando questionado sobre se a meta de 3% perseguida pelo BC não estaria apertada demais para ser atingida.
“Como eu tenho respondido, esse é um não-tema para diretor de Banco Central. Diretor de Banco Central persegue meta, não tem debate sobre a determinação da meta”, respondeu ele, acrescentando que a meta é uma discussão com página virada e que apenas cabe à instituição persegui-la.
Galípolo disse também que existe uma discussão sobre a potência de transmissão da política monetária na economia brasileira. Aqui, isso se deve a “efeitos mitigadores” em vários setores da economia, e não às transformações do pós-pandemia, como no restante do mundo, afirmou.
Galípolo mencionou o financiamento de habitação via poupança e os títulos públicos indexados à Selic como mecanismos “mitigadores.” “Você vai passando por vários elementos que você tem, canais ou mecanismos de defesa, vamos dizer assim, para um canal de transmissão de política monetária”, afirmou.
Galípolo afirmou que o Brasil possui uma “posição robusta” para lidar com desafios externos. Ele destacou as reservas internacionais do país e o regime de câmbio flutuante como vantagens.
“A gente tem usado esses termos como adverso, desafiador, para o mercado internacional, apesar de o Brasil hoje estar numa posição, em comparação ao passado, mais forte para enfrentar esses desafios”, disse ele durante o evento da XP Investimentos.
Galípolo apontou alguns fatores que tornam o cenário internacional mais complicado. Entre eles, mencionou a incerteza relacionada aos impactos de novas tarifas nos Estados Unidos. Além disso, a força do mercado americano tem atraído investimentos para o país, retirando ofertas públicas iniciais (IPOs) de países emergentes, por exemplo.
“Hoje é mais interessante comprar uma empresa emergente e levá-la para atuar nos EUA do que efetivamente operar no mercado emergente, considerando o desempenho que você observa na bolsa americana”, afirmou Galípolo. “A capacidade dos EUA de atrair liquidez e recursos atualmente é bastante elevada”.
O diretor de Política Monetária afirmou que não espera mudanças na coordenação da política cambial com a chegada de Nilton David. O economista do Bradesco foi indicado na sexta-feira para suceder Galípolo na diretoria. Seu nome, assim como o de outros dois diretores, agora precisa ser aprovado pelo Senado.
“Não vejo nenhum tipo de grande mudança. Agora, o Nilton está chegando, mas ele precisa se ambientar. Ele conhece muito, sabe tudo. É um craque. Mas é preciso chegar lá e entender a dinâmica do BC. Ele vai se adaptar super rápido. O pessoal está muito contente com a possibilidade de ele ser aprovado pelo Senado”, comentou.
Galípolo reiterou que a resposta do BC em relação a intervenções no câmbio já é conhecida pelo mercado: “o Banco Central só intervém em caso de disfuncionalidade”. “Vocês estão cansados de ouvir essa discussão. Acho que o que você está colocando é um pouco a discussão sobre o que define o conceito de desfuncionalidade”, disse quando questionado sobre o assunto.
Galípolo ressaltou que o câmbio flutuante é um dos pilares da matriz econômica brasileira e uma ferramenta essencial para enfrentar momentos como o atual. “Portanto, não vejo nenhuma mudança significativa. O câmbio flutuante está cumprindo seu papel muito bem e seguimos apenas intervindo em casos de disfuncionalidade.”
Já a discussão sobre leilões de linhas no final do ano é sazonal, conforme o diretor. “Estamos sempre acompanhando para ver em que momento isso acontece, o que não se confunde com a outra discussão.” Galípolo garantiu que, de fato, o BC continuará intervindo apenas por questões de disfuncionalidade e que ideias de controlar o câmbio só sobrevivem a uma distância segura da cadeira de Diretoria de Política Monetária (Dipom).
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