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Pinacoteca e Chanel: a cultura e a estratégia do luxo

Publicado 04/09/2025 • 18:45 | Atualizado há 12 horas

Foto de Dani Rudz

Dani Rudz

Dani Rudz é comunicadora, criadora de conteúdo, consultora de diversidade corporal e vivências raciais, palestrante, educadora e especialista em moda inclusiva.  Comentarista especialista no Times Brasil - Licenciado CNBC falando ao vivo de Mercado de Luxo e Lifestyle, todas as 6ª feiras. Membro Forbes BLK.

Em um movimento que une dois universos de influência global, a Pinacoteca e a Maison Chanel anunciaram uma parceria para a criação de uma residência artística destinada exclusivamente a mulheres. O projeto, que será sediado em São Paulo, se estabelece como uma plataforma de fomento à produção artística feminina, oferecendo suporte e visibilidade a um segmento historicamente sub-representado no circuito de artes visuais.

A iniciativa, noticiada pelas instituições, representa a confluência de um dos mais importantes museus brasileiros com uma das maiores casas de moda do mundo, unidas sob o mesmo propósito de apoio à criação artística.

O mecenato cultural como estratégia de posicionamento de marca

A parceria entre a Pinacoteca e a Chanel não é um evento isolado, mas sim um reflexo de uma tendência estratégica no mercado de luxo. Grandes marcas têm se afastado da publicidade tradicional e investido cada vez mais em projetos culturais. Essa abordagem permite que a marca construa uma narrativa de legado, sofisticação e responsabilidade social, que ressoa de forma mais autêntica com o consumidor atual.

Para a Chanel, o projeto representa um aprofundamento de sua relação com a arte, algo que remonta à sua fundadora, Coco Chanel, uma notável mecenas. A residência, ao focar em mulheres, ecoa um pilar fundamental da marca: o empoderamento feminino. Ao associar seu nome a uma causa social relevante, a Chanel reforça sua imagem como uma entidade que vai além da moda, atuando como um agente de mudança cultural.

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Por outro lado, para a Pinacoteca, a aliança com uma marca global como a Chanel traz visibilidade, novos recursos e um diálogo internacional, fortalecendo sua posição como um centro cultural de referência. A residência, por sua vez, contribui de forma direta para a produção artística, oferecendo um espaço de criação e visibilidade a artistas que necessitam de apoio.

A relação de Coco Chanel com o mundo da arte e da cultura sempre foi muito profunda, e seu salão em Paris foi um ponto de encontro para a vanguarda do século XX. Ela não apenas vestia os artistas, mas também os apoiava financeiramente e os estimulava em suas criações.

Alguns dos artistas e expressões artísticas que Mademoiselle Chanel apoiou ativamente:

  • Igor Stravinsky – Música: talvez um dos mais notáveis. Após a Revolução Russa, Chanel ofereceu um refúgio e apoio financeiro a Stravinsky e sua família, que se mudaram para uma casa ao lado de sua vila em Garches. Esse mecenato permitiu que o compositor continuasse sua produção musical sem preocupações financeiras.
  • Jean Cocteau – Poesia e Teatro: Chanel era uma amiga e colaboradora constante de Cocteau. Ela desenhou figurinos para diversas de suas peças de teatro, como o clássico Orphée, e foi uma figura central em seu círculo criativo. A relação entre eles foi uma fusão de moda, arte e poesia.
  • Sergei Diaghilev e o Ballets Russes – Balé: Chanel foi uma importante mecenas da companhia russa que revolucionou a dança no início do século XX. Ela financiou produções e desenhou o figurino de Le Train Bleu, colaborando com Cocteau, Pablo Picasso e a coreógrafa Bronislava Nijinska.
  • Pablo Picasso – Pintura: embora não tenha sido mecenas no sentido financeiro, a amizade com Chanel foi marcante. Eles se influenciavam mutuamente e circulavam nos mesmos meios artísticos de Paris. A estilista colecionava suas obras, e sua estética minimalista e cubista dialogava com a visão do pintor.
  • Salvador Dalí – Surrealismo: Chanel fez parte do círculo do movimento surrealista em Paris e manteve uma amizade próxima com Dalí e sua esposa, Gala. Seu suporte moral e sua presença no centro da cena cultural da época foram fundamentais para esses artistas.

O mecenato de Chanel não era apenas sobre dinheiro, mas também sobre uma troca de ideias e a criação de uma rede que impulsionou a revolução cultural do século XX, borrando as linhas entre a alta-costura, a música, o teatro e as artes visuais.

Uma indicação interessante para acompanhar detalhes dessas histórias de Coco com a arte é o livro Mademoiselle Chanel e o Cheiro do Amor – a história do perfume mais famoso do mundo, que conta a história de um dos perfumes mais famosos do mundo: o Chanel nº 5.

O paradoxo do novo mecenato

A filantropia corporativa se tornou uma ferramenta de marketing sofisticada, na qual o benefício social e a valorização da marca andam lado a lado.

Nesse contexto, a residência da Pinacoteca e Chanel simboliza o novo mecenato: um sistema em que o apoio genuíno à arte coexiste com a necessidade de fortalecer a marca e conquistar a lealdade de um público exigente. E torcemos para o impacto positivo a longo prazo sobre as carreiras das artistas e na contribuição real para o cenário da arte contemporânea.

A exposição

A primeira edição da residência artística entre a Pinacoteca e a Chanel já tem data para começar e a primeira artista selecionada já foi anunciada.

O programa, que terá edições anuais, estreou com a artista visual paulistana Juliana dos Santos. Como parte da residência, sua primeira exposição individual, intitulada “Temporã”, foi inaugurada no dia 23 de agosto, na Galeria Praça do edifício Pina Contemporânea. A mostra ficará em cartaz até 8 de fevereiro de 2026, e os ingressos já estão à venda.

Na exposição, Juliana dos Santos aprofunda sua pesquisa sobre pigmentos naturais, utilizando materiais como catuaba e erva-mate para criar suas obras.

Juliana [@julianadossantos_estudio] é artista visual, mestre em Arte/Educação e doutora em Artes pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Participou de exposições coletivas com obras em instalação, vídeo, pintura, performance, fotografia e multimídia.

Em 2018, foi artista residente e professora no departamento de Pintura Contextual da Academia de Belas Artes de Viena, na Áustria. Foi selecionada para a edição de 2019 da Temporada de Projetos do Paço das Artes. Recebeu o terceiro lugar no 16º Salão de Artes Visuais de Ubatuba, em 2020, e integrou a 12ª edição da exposição Abre Alas, da Galeria A Gentil Carioca (RJ). Também participou da 12ª Bienal do Mercosul, com curadoria de Fabiana Lopes e Andrea Giunta.

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