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Tendências e Mentalidades Álvaro Machado

IA está desmontando o comando e controle nas empresas e CEOs já perderam parte do poder

Publicado 23/12/2025 • 13:21 | Atualizado há 16 minutos

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Tendências e Mentalidades

Álvaro Machado Dias é um neurocientista e futurista de reputação internacional. Ele é professor livre-docente da Universidade Federal de São Paulo, membro do Painel Global de Tecnologia do MIT e fellow da Brain & Behavioral Sciences (Cambridge).

KEY POINTS

  • A IA está enfraquecendo o modelo tradicional de comando e controle nas empresas. Decisões passam a ser tomadas em tempo real, fora dos ciclos clássicos de validação hierárquica.
  • Planejamento perde protagonismo para modelos adaptativos e algorítmicos. Resultados passam a anteceder explicações, redefinindo a lógica da gestão do século XXI.

Durante décadas, a gestão corporativa foi guiada por diagnósticos, recomendações estratégicas e grandes narrativas sobre controle, eficiência e hierarquia. Esse modelo, no entanto, começa a dar sinais claros de esgotamento, ainda que muitas organizações não consigam nomear exatamente o que está mudando.

Por muito tempo, a lógica corporativa separou quem pensa de quem executa. Estratégias nasciam no topo, desciam pela hierarquia e só então viravam ação. Essa estrutura, segundo o professor, tem raízes na academia, no modelo educacional tradicional e, sobretudo, na lógica militarista, amplamente adotada pelas empresas a partir dos anos 1950 com o apoio de grandes consultorias como a McKinsey.

A tensão surge quando essa fronteira começa a se desfazer.

Com a ascensão da inteligência artificial, decisões deixam de seguir apenas o fluxo de comando e controle. Sistemas algorítmicos passam a agir, aprender e se adaptar em tempo real, produzindo resultados práticos que nem sempre dependem de validações hierárquicas longas.

O lado positivo é a entrada das empresas em um estado permanente de ajuste. O lado crítico é a desestabilização da autoridade tradicional, baseada em cargos, senioridade e ciclos longos de aprovação. Relatórios trimestrais, semestrais ou anuais já não dão conta de explicar um ambiente onde milhares de microdecisões acontecem simultaneamente.

Nesse contexto, a própria ideia de autoridade muda.

Antes, o poder vinha de quem explicava melhor a realidade. Hoje, cresce a percepção de que a legitimidade está cada vez mais associada a quem faz o sistema funcionar melhor. Em ambientes altamente algoritmizados, a decisão ótima em um nicho específico pode escapar até mesmo ao conhecimento do CEO ou das consultorias que analisam o negócio de forma transversal.

Um exemplo claro está no marketing orientado por decisões agênticas. Estratégias se transformam em tempo real conforme a interação com dados e usuários. Fica difícil, de fora, definir se a empresa está priorizando captação de leads, reputação de marca ou outra métrica, porque tudo isso acontece ao mesmo tempo, de forma dinâmica.

O resultado é um enfraquecimento relativo da autoridade explicativa em favor da autoridade operacional.

Essa mudança também impacta a cultura gerencial. Durante décadas, a máxima foi compreender antes de agir. Agora, cresce um modelo em que os resultados precedem as explicações. Primeiro, o sistema chega lá. Depois, tenta-se entender por quê.

Segundo Álvaro Machado Dias, não se trata de uma ruptura brusca, mas de um lento processo de onboarding. Há resistência, riscos e ressalvas legítimas. O planejamento clássico não desapareceu — mas perde centralidade diante de uma lógica mais adaptativa e evolutiva.

Enquanto o planejamento do século XX se apoiava em um desenho racional e antecipado, o novo modelo se aproxima de uma visão darwinista: sinais do ambiente definem o que funciona, o que falha e para onde a organização deve pivotar rapidamente para maximizar utilidade e eficiência.

No fundo, o que está em jogo não é apenas uma nova tecnologia, mas uma mudança profunda na forma como empresas tomam decisões, exercem poder e constroem legitimidade.

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