A dominância da OpenAI não se parece com nada que o Vale do Silício já viu

Praticamente toda startup de tecnologia bem-sucedida ao longo da história enfrentou a realidade de que poderia ser engolida ou atropelada por uma grande empresa estabelecida a qualquer momento. É parte da vida diária de um empreendedor. Mas a empresa no centro do boom atual é um tipo diferente de criatura.

Ao contrário das gigantes da indústria de eras passadas, a OpenAI é de capital fechado. Suas finanças são majoritariamente secretas e sua capacidade e disposição de gastar o dinheiro de outras pessoas não têm rival.

E como a OpenAI provou recentemente, através de uma vertiginosa variedade de acordos gigantescos e lançamentos de produtos, o laboratório de inteligência artificial está investindo em toda a pilha — desde as ferramentas básicas (picks and shovels) do desenvolvimento de centros de dados até aplicativos para o consumidor, ferramentas de codificação e até mesmo dispositivos. Seu chatbot principal, o ChatGPT, atingiu 800 milhões de usuários semanais.

“Se você é um empreendedor, você tem que se perguntar: ‘Onde está o espaço em branco (white space)?’”, disse Nina Achadjian, sócia da Index Ventures que se concentra em IA. Não que Achadjian esteja ficando de fora do mercado.

Em uma transação anunciada na quarta-feira, Achadjian e a Index lideraram um investimento de US$ 25 milhões na Quilter, que usa IA para desenvolver software para placas de circuito impresso (PCBs). A empresa foi fundada em 2019 por Sergiy Nesterenko, ex-engenheiro da SpaceX.

Achadjian descreveu a Quilter como “bastante nicho” e “não construída em cima de nenhum modelo”. Ela disse ser improvável que a OpenAI concorra em um espaço onde empresas como Cadence Design e Synopsys desenvolvem há muito tempo tecnologia para design de chips.

Ainda assim, “não há previsibilidade”, ela disse, acrescentando que, em comparação com ciclos passados, “é mais opaco e difícil de prever em que direção esses caras vão seguir”.

Em menos de três anos, a OpenAI inflou de uma startup de IA liderada pelo cara que dirigia a Y Combinator para uma gigante de US$ 500 bilhões que lidera um plano de construção de centros de dados endossado pela Casa Branca e em parceria com a empresa mais valiosa do mundo, a Nvidia. Os últimos meses ficaram ainda mais loucos.

O CEO Sam Altman está em toda parte, forjando acordos maciços relacionados à infraestrutura com Nvidia, Broadcom, Oracle e AMD. Na semana passada, sua empresa lançou seu aplicativo de vídeo Sora AI, que atingiu 1 milhão de downloads em menos de cinco dias, e nesta semana ele foi o orador principal (keynoted) do DevDay da OpenAI em San Francisco, com a presença de cerca de 1.500 desenvolvedores.

No DevDay, Altman anunciou a disponibilidade geral do Codex, o agente de engenharia de software da OpenAI, e disse que o Sora 2 está agora na interface de programação de aplicativos (API), e pode ser testado por coders. Ele também subiu ao palco com o designer do iPhone, Jony Ive, que se juntou à OpenAI em maio como parte de uma contratação de talentos de US$ 6,4 bilhões, com a missão de construir hardware de IA.

Ive permaneceu vago sobre o que exatamente ele está construindo, e disse a Altman no palco que espera desenvolver ferramentas que “nos tornem felizes e realizados e mais pacíficos e menos ansiosos e menos desconectados”.

A OpenAI se posicionou claramente como a empresa definidora da era da IA generativa. Ela segue outras marcas de internet para o consumidor que definiram categorias nas últimas décadas, a saber: Amazon em e-commerce e infraestrutura de nuvem, Google em busca web e anúncios digitais, Facebook em mídia social e Apple em aplicativos móveis.

Nesses booms de mercado, startups de sucesso nasceram, e muitas mais falharam por inúmeras razões, incluindo a incapacidade de encontrar um nicho grande o suficiente para construir um negócio sustentável ou obter distribuição direta.

Desenvolvedores de aplicativos móveis foram forçados a alcançar usuários através de lojas de aplicativos extremamente lotadas, de propriedade da Apple e do Google. Facebook e Google se tornaram os caminhos necessários para encontrar clientes na internet, e a Amazon Web Services emergiu como a plataforma de escolha para startups lançarem suas empresas como uma alternativa mais eficiente à compra de seus próprios servidores.

Em cada caso, as grandes empresas de plataforma lançaram ferramentas e funcionalidades que competiam diretamente com seus clientes, às vezes eliminando-os.

Saiba mais:

Sora, da OpenAI, atinge 1 milhão de downloads em menos de cinco dias

OpenAI expande o ChatGPT Go, mais acessível, para mais 16 países na Ásia

‘Mentalidade de corrida do ouro’

Ethan Kurzweil, managing partner da Chemistry Ventures, disse que a maior diferença hoje é a velocidade. As startups de IA são formadas e rapidamente impulsionadas a avaliações históricas, e a OpenAI está se movendo ainda mais rapidamente, lançando serviços que competem com ferramentas de codificação de IA, kits de agentes e outros aplicativos rodando dentro do ChatGPT.

“É o período de maior movimentação na criação e desestruturação de startups nos meus 17 anos de investimento”, disse Kurzweil, que passou os primeiros 16 desses anos na Bessemer Venture Partners antes de fundar a Chemistry em 2024.

Kurzweil disse que a OpenAI está fazendo muitas coisas que são “teoricamente assustadoras para muitas pessoas”, mas que há uma “mentalidade de corrida do ouro onde muitas empresas se sairão bem.”

Uma visão predominante é que as startups de IA devem visar setores que são fortemente regulamentados ou que têm outras dinâmicas que as tornam menos propensas a escolher serviços de IA de propósito geral.

Na área da saúde, Heidi Health e DUOS anunciaram grandes rodadas esta semana, enquanto EvenUp e Spellbook atraíram grandes quantidades de capital para visar advogados. “Há muitas áreas, como em finanças e saúde, onde os compradores querem alguém que fale a língua deles”, disse Kurzweil.

No final de setembro, a Chemistry organizou um evento com a participação do diretor de operações da OpenAI, Brad Lightcap. Kurzweil disse que um grande tópico de conversa entre os participantes foi que não existem “fossos técnicos”.

Isso é evidente no nível do modelo fundamental, onde a OpenAI está enfrentando a Anthropic, Google, Meta e outras.

Em vez disso, a vantagem que as empresas têm é o seu momentum, o que ajuda a explicar por que a OpenAI alinhou centenas de bilhões de dólares em acordos de alto perfil com grandes players de tecnologia ultimamente, enquanto simultaneamente dá à sua base de usuários em rápida expansão mais aplicativos e funcionalidades.

No processo, a OpenAI está queimando montanhas de dinheiro sem ter que se preocupar com a reação de Wall Street.

“Não há ajuste de contas, porque nenhuma das empresas é de capital aberto”, disse Achadjian, referindo-se principalmente à OpenAI e à Anthropic, que no mês passado disse ter levantado US$ 13 bilhões com uma avaliação de US$ 183 bilhões. “Isso fomenta ainda mais a exuberância da captação de capital, dos gastos de capital e da integração vertical.”

Representantes da OpenAI e da Anthropic não responderam aos pedidos de comentário. No primeiro semestre do ano, os investimentos em estágio de crescimento de venture capital atingiram US$ 83,9 bilhões, impulsionados por cinco acordos de IA de mais de um bilhão de dólares, de acordo com o relatório do segundo trimestre da National Venture Capital Association e Pitchbook.

Em uma base anualizada, isso superaria em muito o pico de 2021, quando US$ 96,1 bilhões foram implementados no estágio de crescimento. “A IA continua a dominar a extremidade superior do espectro de negócios”, disse o relatório.

A Exa Labs, que descreve seu produto como “busca construída para IA”, levantou uma rodada Série B de US$ 85 milhões em setembro, de investidores incluindo a Nvidia, com uma avaliação de US$ 700 milhões. Fundada em 2021, a Exa introduziu seu primeiro mecanismo de busca em novembro de 2022, duas semanas antes do lançamento do ChatGPT.

“Seria realmente surpreendente ver uma empresa que não concorre com a OpenAI”, disse o co-fundador da Exa, Jeff Wang, em uma entrevista esta semana. “Estamos no mesmo barco que todos.” Mas Wang disse que a OpenAI é um ativo para sua startup e para o ecossistema mais amplo, na medida em que está construindo ferramentas que melhoram os produtos de outras empresas.

Wang disse que, embora a OpenAI possa estar no mercado de busca — muitas pessoas estão usando o ChatGPT agora em vez do Google — o novo mundo em que estamos entrando não será dominado por um único mecanismo de busca.

Wang disse que hobbyists e pessoas que constroem produtos de IA estão pagando pelo serviço da Exa, e que ele está sendo usado dentro de empresas que têm “necessidades gigantescas” e específicas.

Nathalia Fruchi

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