Para driblar juro alto, Volkswagen aceita até grãos como pagamento; veja entrevista com Ciro Possobom, CEO da empresa
Publicado 13/05/2025 • 13:56 | Atualizado há 3 semanas
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Publicado 13/05/2025 • 13:56 | Atualizado há 3 semanas
KEY POINTS
Ciro Possobom , CEO da Volkswagen.
Divulgação Volkswagen.
Primeiro brasileiro a assumir o comando da Volkswagen no país — em março de 2023 —, Ciro Possobom está cauteloso em relação ao crescimento da economia e da indústria automobilística neste ano. Juros altos, inflação, câmbio e tarifaços do governo Donald Trump deixam em alerta todo o setor produtivo global.
O executivo, contudo, acredita em bons resultados da companhia, que em 2024 registrou lucro pelo quarto ano seguido. “O que me deixa otimista é o trabalho que estamos fazendo, com uma nova explosão de 16 lançamentos até 2028”, disse.
O novo portfólio é fruto de um plano de investimentos de R$ 16 bilhões que inclui a produção local de automóveis híbridos flex. Além dos novos veículos, o grupo alemão já tem um rol de medidas a serem adotadas para amenizar principalmente o impacto dos juros elevados, sempre uma urgência entre os desafios do setor. Uma delas, recém-lançada, permite aos produtores rurais comprarem veículos da marca pagando com grãos.
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Em abril, a empresa foi vice-líder no emplacamento de veículos & comerciais leves, atrás da Fiat, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Este ano, a indústria nacional — que está entre as dez maiores globais — estima produção total (automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus) entre 2,7 milhões e 2,8 milhões de unidades, 7,8% acima de 2024.
Até abril (dados divulgados na quarta-feira, 8), a produção já somava 811 mil unidades, 6,7% a mais em relação ao mesmo período do ano passado. São 110 mil empregos diretos.
Para tratar de uma área tão crucial para a economia, foi lançado o Especial Indústria Automobilística, uma série de reportagens exclusivas com as principais lideranças do setor. Na primeira entrevista, falamos com Ricardo Gondo, presidente da Renault do Brasil. Na sequência, o entrevistado foi José Ricardo Gomes, diretor comercial da Toyota no mercado latino-americano. Na terceira parte, Tyler Li, presidente da BYD (Build Your Dreams), falou dos planos da chinesa.
Hoje, Ciro Possobom responde sobre o momento de uma das marcas pioneiras no país e das mais tradicionais, a Volkswagen. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Que efeitos o senhor avalia para a Volkswagen com as supertarifas anunciadas pelo presidente dos EUA para aço, alumínio, veículos e autopeças? O que esperar daqui a 90 dias, quando terminar a pausa dada por Trump?
Ciro Possobom–Como a Volkswagen do Brasil tem índice de 80% de localização [da cadeia de produção], tem a vantagem de quase autossuficiência no fornecimento de componentes para os carros produzidos aqui. Eventualmente, alguns conjuntos podem ter parte da produção nos EUA e vão absorver as novas tarifas. No entanto, o impacto não será representativo no curto prazo.
Nenhum risco aparente de imediato?
Ciro Possobom – Mas é preciso ter muito cuidado. Pois somos uma montadora, a economia é global, as peças são globais e de alguma forma a tributação pode interferir nos negócios de fornecedores. Hoje o impacto é minimizado, mas pode gerar um resultado não tão bom para a cadeia de suprimentos.
O grupo tem algum plano para amenizar eventuais consequências?
Ciro Possobom – Em nossa estratégia de compras, ainda que haja um pequeno potencial de impacto, é dever nosso estudar alternativas para mitigar esse risco e especificamente localizar outras peças. Atualmente, temos uma ampla cadeia de fornecedores, com um total de 750 empresas, sendo 414 de compras diretas. É uma operação robusta que, em 2025, representará um volume de compras de R$ 32,3 bilhões, dos quais R$ 26,3 bilhões são de peças. Outro ponto a destacar é que não exportamos veículos para os EUA. Nossas exportações estão localizadas nos mercados da América Latina.
Além dessa guerra comercial, há os problemas internos brasileiros, como juros, inflação, câmbio e a questão fiscal. Como isso afeta a indústria e o que poderia ser feito para amenizar esse quadro?
Ciro Possobom – Acredito que cautela é essencial. A inflação crescente e as taxas de juros mais altas [Selic está em 14,75%] afetam o consumo e o crescimento. Até março, a inflação acumulada em 12 meses estava em 5,48%, a maior desde fevereiro de 2023. Para a indústria automotiva, os impactos positivos podem vir, em um primeiro momento, com a redução dos juros e depois com a isonomia entre os players. As mesmas regras sendo válidas para todas as montadoras. É importante destacar a força do setor automotivo, que representa 20% do PIB industrial do Brasil.
A continuidade da alta dos juros vai atrapalhar as vendas?
Ciro Possobom – Com certeza, o juro elevado impacta as vendas do setor, uma vez que aproximadamente 55% são financiadas. Isso reforça ainda mais a cautela, uma vez que as montadoras têm de dar subsídio para as taxas de juros, impactando seus resultados. Temos hoje o maior custo de financiamento da história para a compra de veículos por pessoas físicas, de 29,5%.
O que a marca fará para convencer o consumidor a adquirir um carro novo com os juros nas alturas?
Ciro Possobom – A Volkswagen faz inúmeras ações especiais de vendas, sejam campanhas de varejo em concessionárias ou eventos de experiência e feiras, com ofertas para toda a linha. As condições variam segundo o modelo e podem envolver vantagens como taxa zero, bônus para o usado na troca e descontos. Nossa missão tem sido oferecer sempre financiamentos que proporcionem acessibilidade ao perfil de cada cliente e entendemos que essa é uma ferramenta muito importante para os brasileiros.
O que pode afetar os resultados da companhia?
Ciro Possobom – Certamente esse produto financeiro se torna mais caro, mas se isso é um fator preponderante, vamos continuar buscando soluções de financiamento que se adequem às necessidades dos nossos clientes.
Que tipos de soluções?
Ciro Possobom – Uma grande vantagem é termos o Volkswagen Financial Services (Banco Volkswagen) que ajuda a oferecer alternativas flexíveis. Também promovemos o Volks Festival, megaeventos com condições especiais para a compra do zero quilômetro, atrações musicais, exposição de clássicos, espaços de imersão e test-drive. Outra estratégia voltada aos clientes que preferem mobilidade em vez de comprar o automóvel é o programa de assinatura. Uma inovação lançada em abril, na ExpoLondrina, é a parceria com a Grão Direto, maior plataforma de comercialização de grãos da América Latina. Permite aos produtores rurais fazerem a compra de veículos pagando com grãos, modalidade conhecida no mundo agro como permuta.
Como funciona?
Ciro Possobom – A Grão Direto faz todo o processo de conversão do grão em moeda. O valor da commodity segue segundo a região e a cotação diária. O vendedor na concessionária tem acesso à plataforma de cotação e pode fechar a venda por barter (permuta), considerando o preço do dia. A Grão Direto é responsável pelo trâmite com grãos e a Volkswagen recebe o valor em reais.
Somando cenário nacional e internacional, qual sua perspectiva para o setor automotivo neste ano?
Ciro Possobom – Há perspectivas de leve crescimento (para automóveis & comerciais leves) da venda (6,6%), das exportações (7,7%) e da produção (8,4%), segundo a Anfavea (associação das montadoras). Mas teríamos um potencial muito maior para crescer se não fossem todos esses desafios, como inflação e taxa de juros.
Além dos desafios macroeconômicos, quais outros impactam mais fortemente o setor?
Ciro Possobom – Desafios logísticos e tributários, considerando que mais de 40% do preço do automóvel equivale a impostos. A taxa de câmbio também afeta os preços de peças e componentes importados.
E a expectativa para a Volkswagen?
Ciro Possobom – Estou cauteloso sobre o crescimento da economia e do setor, mas o que me deixa otimista é o trabalho que estamos fazendo, com uma nova explosão de 16 lançamentos até 2028. São modelos incríveis para revolucionar o mercado, como o SUV Tera, 100% desenhado, desenvolvido e produzido no Brasil.
A maior aposta da VW?
Ciro Possobom – Neste primeiro semestre, o Tera será o principal lançamento da marca na América do Sul nos últimos tempos. Também teremos neste ano o resgate da esportividade, que faz parte do DNA Volkswagen, com a chegada do Nivus GTS, do Golf GTI e do Novo Jetta GLI. Temos o objetivo de continuar crescendo acima do mercado, assim como foi em 2024, quando aumentamos em 16% nossas vendas em relação a 2023. No período, o mercado de veículos cresceu 14,1%.
Dentro de casa as notícias são boas…
Ciro Possobom – Estamos reconquistando patamares de vendas do pré-pandemia. No ano passado, emplacamos 400.379 veículos, o segundo maior volume dos últimos dez anos. Essa marca foi superada apenas em 2019, quando emplacamos 411 mil unidades. Fechamos 2024 na liderança dos dois principais segmentos de mercado, o de SUVs e o de hatches no Brasil e na América do Sul. Em 2025, seguiremos essas lideranças com toda a família de SUVs. O Novo T-Cross já é o SUV mais vendido do país, e o Polo é o carro de passeio mais vendido no acumulado do ano. Temos também o forte objetivo de crescer no segmento de picapes e já anunciamos um modelo inédito a ser produzido em breve na fábrica de São José dos Pinhais (PR).
Quanto a filial brasileira representa nas vendas da matriz?
Ciro Possobom – Em 2023 e 2024, o Brasil foi o terceiro maior mercado em volume de vendas para a marca Volkswagen no mundo, atrás apenas das gigantes China e Alemanha. Fechamos 2024 com resultados financeiros positivos pelo quarto ano consecutivo. Além disso, no ano passado, a América do Sul foi a [região] que mais cresceu em volumes de vendas – 21,1%, com 479.400 unidades. Esses resultados mostram que estamos no caminho certo.
Como estão as exportações?
Ciro Possobom – Exportamos 90.142 unidades para 18 mercados da América Latina, aumento de 43% em relação a 2023. Enquanto isso, o mercado todo de veículos leves teve queda de 1,6% nas exportações. De janeiro a março, já exportamos 28.333 veículos, crescimento de 105% em relação ao mesmo período de 2024, enquanto as exportações totais cresceram 38,7%. Nossos resultados reforçam a vocação da Volkswagen como maior exportadora do setor automotivo, com um acumulado de mais de 4,3 milhões de unidades embarcadas para diversos países.
Neste ano, mais duas empresas iniciam a produção no Brasil, as chinesas BYD e GWM. A concorrência chega com preços competitivos. Isso pode alterar os planos da VW?
Ciro Possobom – Estamos vivenciando uma forte entrada de novos jogadores no mercado brasileiro, principalmente os chineses, mas encaro a concorrência como algo benéfico e como parte do jogo. O importante é que venham produzir aqui e enfrentem os mesmos desafios que temos. É como eu sempre digo: ‘Eles precisam jogar aqui’.
O que isso significa?
Ciro Possobom – Queremos uma competitividade justa, com isonomia, ou seja, as mesmas regras para todos. É fato que as importações aumentaram significativamente, puxadas principalmente por montadoras que não fabricam no Brasil e se aproveitaram dos benefícios de taxas de importação reduzidas para veículos eletrificados. Por esse motivo, defendemos impostos de importação sem taxas de isenção para qualquer montadora e incentivamos a produção local, gerando lucros e movimentando a economia brasileira.
A Volkswagen tem plano de parada de fábricas nos próximos meses?
Ciro Possobom – Não temos planos de parada de fábricas. Inclusive, estamos trabalhando com capacidade plena em dois turnos em todas as quatro unidades. O que eu sonhava ver quando assumi a presidência, hoje é uma realidade. Exatamente por estarmos utilizando a capacidade plena, redistribuímos nossa produção, com o Polo Track sendo fabricado desde março nas unidades Anchieta (São Bernardo do Campo, SP), em volumes adicionais aos feitos em Taubaté (SP), onde iniciamos em abril a produção do Tera. O sedã Virtus está sendo fabricado em São José dos Pinhais (PR), também desde março, em volumes complementares à produção da Anchieta.
Foram abertas novas vagas de trabalho?
Ciro Possobom – O SUV Tera gerou 260 novos empregos na unidade de Taubaté, sendo 40% para mulheres. O novo modelo também resultará na criação de até 2,6 mil vagas indiretas na cadeia de suprimentos. Também quero destacar grandes conquistas de nossa estratégia de diversidade e inclusão, como o aumento de mulheres em postos de liderança, de 12,5% (2021) para 25,3% (2024). Além disso, queremos chegar a 60% das vagas externas cobertas por públicos de diversidade e inclusão, envolvendo raças, etnias, gêneros, LGBTQIAP+, mix de gerações e pessoas com deficiência.
Para absorver toda essa agenda, dos lançamentos às novas vagas inclusivas, é preciso que o plano de investimento de R$ 16 bilhões seja mantido. Há risco de isso mudar em razão de questões econômicas locais e globais?
Ciro Possobom – No início de 2024, anunciamos os R$ 16 bilhões no Brasil até 2028, nos tornando um dos protagonistas do maior ciclo de investimentos do setor automotivo nacional. Desse volume, R$ 13 bilhões estão sendo investidos nas fábricas paulistas e R$ 3 bilhões na unidade do Paraná. No dia 3 de abril, anunciamos novo investimento de US$ 580 milhões na Volkswagen Argentina até 2029. Somados, mais do que mantidos, nossos investimentos foram ampliados para R$ 20 bilhões na América do Sul.
Modelos híbridos flex chegam quando?
Ciro Possobom – Entre os 16 lançamentos para o Brasil, teremos a estreia de híbridos em breve, além de mais novidades em flex e elétricos. O plano inclui projetos inovadores e foco em descarbonização para as quatro fábricas. A Anchieta terá dois veículos inéditos. A de São José dos Pinhais terá uma picape inédita. A de Taubaté já está produzindo o Tera, que nasce com força para ser um modelo internacional, pois será exportado para mais de 25 países da América Latina e África. E a planta de São Carlos (SP) fará um novo motor ainda mais inovador e eficiente para veículos híbridos. A ofensiva inclui também a chegada de uma nova plataforma, chamada de projeto MQB Hybrid. Inovadora, tecnológica, flexível e sustentável. O novo valor, de R$ 20 bilhões para a América do Sul, amplia a expansão para 17 lançamentos até 2029, incluindo a nova geração da Amarok, que será produzida a partir de 2027 na fábrica de General Pacheco, na Argentina.
Mas os híbridos flex… ainda sem data?
Ciro Possobom – Por questões estratégicas, ainda não posso revelar dados da chegada dos híbridos, mas garanto que faremos uma revolução no mercado automotivo. Será uma solução sob medida para os brasileiros que buscam autonomia, sustentabilidade e desempenho. E temos muitas outras novidades para os VW Lovers. Aguardem ótimas notícias.
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