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SÉRIE EXCLUSIVA — O escândalo Ambipar: o sumiço de R$ 4,7 bilhões do caixa e a suspeita de megafraude

Publicado 27/10/2025 • 07:59 | Atualizado há 3 horas

KEY POINTS

  • A Ambipar, gigante brasileira de gestão ambiental, vive o momento mais turbulento de sua história.
  • A trajetória que levou ao colapso começou com a expansão agressiva financiada por dívidas.
  • Em 2024, a Ambipar emitiu títulos verdes (green bonds) no valor de US$ 550 milhões, com vencimento em 2031, para financiar projetos sustentáveis.

A Ambipar, gigante brasileira de gestão ambiental, vive o momento mais turbulento de sua história. A empresa, que chegou a ser símbolo de sucesso e sustentabilidade ao comprar cerca de 80 companhias em 40 países e empregar mais de 20 mil pessoas, entrou com pedido de recuperação judicial no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro em 20 de outubro.

A decisão ocorreu quatro dias antes do fim da proteção judicial temporária de 30 dias, que impedia a cobrança imediata de dívidas por parte dos credores. A companhia, que já teve um caixa de R$ 4,7 bilhões, enfrenta agora uma dívida estimada em cerca de R$ 11 bilhões.

“Comprou muitas empresas com preço muito baixo, empresas que tinham problemas financeiros bem complexos”, explicou Juliana Inhasz Kessler, professora do Insper. “Isso fez com que o mercado revertesse a percepção de uma empresa sólida para uma empresa muito endividada e alavancada.”

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A trajetória do colapso

A derrocada começou com a expansão agressiva financiada por dívidas. Em 2024, a Ambipar emitiu títulos verdes (green bonds) no valor de US$ 550 milhões, com vencimento em 2031. Na prática, isso quer dizer que a empresa foi buscar dinheiro no exterior para investir em projetos sustentáveis. Ou seja, criou uma dívida corporativa.

Como esses títulos são emitidos em dólar, se a moeda sobe, a dívida da Ambipar também aumenta.
Para se proteger dessa variação cambial, um banco credor foi contratado para fazer a proteção financeira, conhecida como hedge — um tipo de contrato de derivativo chamado swap, que trava o valor do dólar.

Como o dólar ficou fixado pelo acordo, se a cotação subisse, o banco pagaria a diferença para a Ambipar.
Se caísse, era a empresa quem pagava.

“Muitas vezes os derivativos podem ser utilizados como uma forma de especulação, de arbitragem, e aí tem uma tomada maior de risco, e a gente já viu o mercado, já passou por isso muitas vezes, em que se toma um risco muito maior, que não tem um contrapeso do outro lado protegendo”, explica Arthur Longo Ferreira, especialista em direitos do mercado financeiro e de capitais.

Um novo capítulo da crise

Em janeiro de 2025, a Ambipar fez uma nova emissão de títulos — 493 milhões de dólares —, usando parte desse dinheiro para pagar 200 milhões do título anterior e o restante para novos projetos.
Mas, em agosto, veio a reviravolta: o banco fez um aditivo ao contrato, estabelecendo que, se houvesse instabilidade no preço dos green bonds ou desvalorização do dólar, a Ambipar teria que depositar 60 milhões de reais como garantia adicional — a chamada margem.

“Existe um risco de crédito que não era conhecido ou que não era necessariamente mapeado no momento em que ele fez o primeiro contrato, mas é óbvio, a gente tá falando de instituições que são muito experientes dentro desse processo. Então, eles não ficariam descobertos.”, diz Juliana Kessler.

O valor não foi pago. Com o descumprimento, credores puderam antecipar cobranças, acionando cláusulas de vencimento cruzado (“cross default”), o que colocou em risco todo o grupo. Um rombo bilionário numa empresa que não estava honrando dívidas muito menores.

“Eles espalharam muito rapidamente, perderam o controle, perderam margem e assumiram uma dívida brutal. Em 2020, era de R$ 2 bilhões; hoje, passa de R$ 11 bilhões. Uma dívida impagável”, avaliou o economista Max Mustrange.

Para evitar o colapso imediato, a Justiça concedeu tutela cautelar que impediu a execução simultânea das dívidas. A suspensão da cobrança valia por 30 dias, prorrogáveis por outros 30. Em documento, a empresa alega que a medida cautelar serviu para que as atividades continuassem e a proteção dos ativos fosse viabilizada enquanto se buscava uma alternativa para os compromissos financeiros.

Mas o mercado reagiu com força. As ações da empresa, que abriram outubro a R$ 8,72, despencaram para R$ 0,91 em menos de uma semana — uma queda superior a 96%.

Nos bastidores, o ex-diretor financeiro João Arruda, que assumiu o cargo em 2024 após 15 anos no Bank of America, passou a ser apontado pela companhia como um dos responsáveis pela derrocada. Ele deixou o posto poucos dias antes de a Ambipar pedir proteção judicial.

Agora, o futuro do conglomerado é incerto. A expectativa é de muita litigância. A Justiça deve ser acionada em diversas instâncias para tratar e analisar esses casos.

A investigação ainda está em curso e levanta uma série de questionamentos: onde foram parar os bilhões que estavam no caixa da Ambipar? Que papel tiveram os principais executivos na crise que abalou uma das maiores empresas ambientais do país?

Próximas reportagens

A história da crise da Ambipar continua em uma série de reportagens que vão explicar:

  • Quem é o CFO acusado pela empresa de ser o responsável pela derrocada desta potência ambiental.
  • Quem são Tércio Borlenghi e Guilherme Borlenghi, pai e filho que administram a companhia com mão de ferro.
  • Por que diretores importantes deixaram seus cargos dias antes do escândalo vir à tona.
  • E onde foram parar os bilhões que estavam no caixa da empresa.

Ambipar

Em nota, a Ambipar informou que o pedido de recuperação judicial visa assegurar a continuidade das operações e que a escolha da Justiça do Rio de Janeiro para protocolar o pedido se deve ao fato de que as empresas sediadas no estado concentram os maiores volumes de faturamento, receita operacional, lucro e contratos do grupo. A Ambipar também afirmou que os aditivos do contrato que trouxeram a crise à tona transformaram operações voltadas à proteção cambial em instrumentos especulativos. Por fim, a empresa diz que segue operando normalmente.

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