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Google pode perder o Chrome: oferta da Perplexity esquenta decisão sobre possível divisão da empresa

Publicado 14/08/2025 • 00:37 | Atualizado há 2 horas

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Redação CNBC

KEY POINTS

  • Enquanto o Google aguarda uma decisão sobre o futuro do navegador Chrome, analistas de Wall Street avaliam quanto valem os principais negócios da empresa.
  • Estimativas apontam que tanto o YouTube quanto a área de nuvem do Google valem centenas de bilhões de dólares.
  • A Waymo foi avaliada em US$ 45 bilhões (R$ 243 bilhões) em uma rodada de investimentos em novembro, mas alguns analistas acham que hoje ela vale muito mais.

A proposta da Perplexity AI, feita nesta terça-feira (12), para comprar o navegador Chrome do Google por US$ 34,5 bilhões (R$ 186 bilhões), representa um momento decisivo para o gigante das buscas na internet, justamente uma semana antes de comemorar os 20 anos de sua abertura de capital.

Mesmo que analistas não estejam levando a oferta tão a sério, o movimento da Perplexity marca um divisor de águas: é a primeira vez que uma empresa de fora faz um esforço tão público e direto para adquirir uma parte fundamental do Google. A investida ocorre enquanto a companhia aguarda a decisão de um juiz sobre a necessidade de adotar medidas de cisão, após a determinação do ano passado de que detém monopólio no mercado de buscas.

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Contexto legal e impacto na estrutura da Alphabet

A decisão mencionada foi vista por especialistas como o maior caso antitruste do setor de tecnologia desde o processo contra a Microsoft, há mais de 20 anos. O Departamento de Justiça dos EUA, que abriu o processo histórico contra o Google em 2020, sinalizou, após vencer na Justiça, que considerava quebrar a empresa como forma de punição antitruste.

Pouco depois, o próprio Departamento pediu explicitamente que o Google vendesse o Chrome para criar condições mais justas para concorrentes no mercado de buscas. Hoje, o Google integra suas buscas e outros serviços ao navegador e já instala o Chrome de fábrica nos Chromebooks. Kent Walker, diretor jurídico do Google, respondeu dizendo que tal medida seria “uma intervenção do governo sem precedentes”, prejudicando os esforços dos EUA para manter a liderança econômica e tecnológica.

Com a decisão final prevista para este mês, investidores têm muito o que ponderar sobre o valor futuro do Google e da controladora Alphabet. A empresa investe dezenas de bilhões de dólares por ano em infraestrutura e serviços de inteligência artificial, enquanto enfrenta o risco de que as pessoas passem menos tempo nas buscas tradicionais, já que o ChatGPT e outras soluções com IA oferecem novas formas de acessar informações.

Estrutura corporativa e crescimento sob comando de Sundar Pichai

Apesar de ainda depender majoritariamente de anúncios ligados à busca, a Alphabet vem diversificando seus negócios na última década. Em outubro, a holding completa 10 anos desde que foi criada, tendo o Google como principal subsidiária.

“Essa nova estrutura permitirá que a gente mantenha o foco total nas oportunidades extraordinárias que temos dentro do Google”, escreveu o cofundador Larry Page, na época, em um post no blog da empresa.

Page deixou a presidência do Google para liderar a Alphabet, promovendo Sundar Pichai — então vice-presidente sênior responsável pelos negócios de internet — para comandar o Google. Quatro anos depois, Pichai assumiu o cargo de CEO da Alphabet no lugar de Page.

Sob comando de Pichai, o valor de mercado da Alphabet saltou mais de 150%, atingindo US$ 2,5 trilhões (R$ 13,5 trilhões). Com presença cada vez mais forte na internet, Pichai e sua equipe buscam novas áreas de crescimento, principalmente em inteligência artificial, enquanto enfrentam reguladores rigorosos nos EUA e na Europa.

Perspectivas dos analistas e possíveis desdobramentos

Analistas aproveitaram o momento para estimar o valor dos diversos negócios da Alphabet, caso a empresa seja forçada a se dividir. Alguns até sugerem que essa medida poderia ser positiva para os acionistas.

“Acreditamos que o único caminho para a Alphabet é uma separação completa, que permitiria aos investidores escolher o negócio que realmente desejam”, escreveram analistas da D.A. Davidson em uma série de relatórios publicados neste ano.

A Alphabet não respondeu aos pedidos de comentários.

Veja como alguns analistas avaliam os principais ativos da Alphabet fora do segmento de buscas:

Chrome

O navegador Chrome é peça-chave no negócio de anúncios da Alphabet, já que os dados coletados ajudam a direcionar publicidade. O Google lançou o Chrome em 2008 com o objetivo de “levar mais valor ao usuário e, ao mesmo tempo, impulsionar a inovação na web”.

A oferta da Perplexity AI está abaixo das estimativas dos analistas, mas ainda é significativamente maior que o próprio valor de mercado da startup, avaliada em US$ 18 bilhões (R$ 97 bilhões) em julho. Conhecida pelo buscador com IA que responde perguntas de forma simples, a Perplexity afirma que tem investidores prontos para financiar a compra, mas não revelou quem são.

Analistas do Barclays consideram a possibilidade de venda do Chrome como um “cisne negro” — um risco inesperado — e alertam para uma possível queda de 15% a 25% nas ações da Alphabet caso a operação aconteça. Eles estimam que o Chrome responde por cerca de 35% da receita com buscas do Google.

Se houver negociação, analistas da Raymond James avaliam o navegador em US$ 50 bilhões (R$ 270 bilhões), com base nos 2,25 bilhões de usuários e nos acordos de receita do Google com fabricantes de celulares que já instalam o Chrome nos aparelhos. Essa estimativa é semelhante à de Gabriel Weinberg, CEO do concorrente DuckDuckGo, que depôs no julgamento antitruste e disse em abril que o Chrome poderia ser vendido por até US$ 50 bilhões caso fosse exigida a separação, considerando principalmente a base de usuários.

Bob O’Donnell, da consultoria TECHnalysis Research, alerta que o Chrome “não é diretamente monetizável”, já que funciona como porta de entrada, e que “não está claro como mensurar isso apenas pela geração de receita”.

Google Cloud

A área de nuvem do Google, terceira maior do mundo atrás da Amazon Web Services (AWS) e da Microsoft Azure, é um dos motores de crescimento da Alphabet e seu maior negócio fora da publicidade digital.

O Google começou a investir pesado nesse mercado há cerca de dez anos, apesar de ter lançado oficialmente a Google Cloud Platform (GCP) em 2011. Em 2016, a unidade passou a se chamar apenas Google Cloud.

Assim como AWS e Azure, a Google Cloud ganha dinheiro com empresas de todos os portes que rodam seus sistemas nos servidores do Google. Os clientes também pagam por produtos como o Google Workspace, pacote de aplicativos e ferramentas de colaboração.

Em 2020, o Google passou a divulgar separadamente os números da área de nuvem em seus balanços, começando pela receita. No último trimestre de 2020, quando apresentou indicadores de lucro pela primeira vez, registrou prejuízo operacional de US$ 1,24 bilhão (R$ 6,7 bilhões).

A empresa reverteu o quadro e passou a lucrar em 2023, com margens saudáveis. No segundo trimestre de 2025, o Google informou lucro operacional de US$ 2,8 bilhões (R$ 15,1 bilhões) e receita de US$ 13,6 bilhões (R$ 73,5 bilhões) na área de nuvem. Segundo a diretora financeira Anat Ashkenazi, a demanda é tão alta que já existe uma fila de contratos assinados, totalizando US$ 106 bilhões (R$ 572 bilhões) em receita futura garantida.

Em março, o Google anunciou a compra da Wiz, empresa de segurança na nuvem, por US$ 32 bilhões (R$ 172 bilhões) — a maior aquisição de sua história.

Analistas avaliam a área de nuvem do Google em cifras bilionárias: US$ 602 bilhões (R$ 3,25 trilhões) segundo a Wedbush Securities; cerca de US$ 549 bilhões (R$ 2,96 trilhões) de acordo com o TD Cowen; e US$ 579 bilhões (R$ 3,13 trilhões) pela Raymond James. A maior estimativa é da D.A. Davidson, com US$ 682 bilhões (R$ 3,68 trilhões).

Para os analistas do TD Cowen e da D.A. Davidson, embora ainda fique atrás de AWS e Azure, a Google Cloud cresce mais rápido que a divisão de nuvem da Amazon e tem potencial para valer ainda mais, graças à infraestrutura de IA, à forte capacidade analítica e à chance de conquistar mais grandes empresas.

“Seria uma das melhores ações de software do mercado se fosse uma empresa independente”, escreveram os analistas da D.A. Davidson em julho.

YouTube

A compra do YouTube pelo Google, em 2006, por US$ 1,65 bilhão (R$ 8,9 bilhões), é considerada uma das aquisições mais bem-sucedidas da história da internet — ao lado da compra do Instagram pelo Facebook, em 2012, por US$ 1 bilhão (R$ 5,4 bilhões).

O YouTube é hoje o maior site de vídeos da web e parte central do negócio de publicidade do Google. No segundo trimestre, a receita de anúncios da plataforma subiu 13%, alcançando US$ 9,8 bilhões (R$ 53 bilhões), o equivalente a 14% de toda a venda de anúncios do Google.

As estimativas de valor do YouTube variam bastante.

Chamando-o de “novo rei de toda a mídia”, a MoffettNathanson avalia o site entre US$ 475 bilhões (R$ 2,56 trilhões) e US$ 550 bilhões (R$ 2,97 trilhões), argumentando que é maior e mais influente que qualquer empresa de Hollywood. No topo dessa faixa, o YouTube representaria cerca de 22% do valor total da Alphabet.

Recentemente, a plataforma ultrapassou a Netflix — avaliada em US$ 515 bilhões (R$ 2,78 trilhões) — como principal serviço de streaming em termos de engajamento do público.

Já o TD Cowen estima um valor bem menor, de US$ 271 bilhões (R$ 1,46 trilhão), destacando que o YouTube é um dos seis produtos do Google com mais de 2 bilhões de usuários mensais, junto com busca, Google Maps, Gmail, Android e Chrome. Para a Raymond James, o valor é de US$ 306 bilhões (R$ 1,65 trilhão).

Em 2024, o YouTube foi a segunda maior empresa de mídia em receita, com US$ 54,2 bilhões (R$ 293 bilhões), atrás apenas da Disney. A plataforma lucra tanto com publicidade quanto com assinaturas.

Segundo o TD Cowen, a expectativa é que a receita com anúncios cresça cerca de 14% em 2025, mantendo taxas de crescimento de dois dígitos. O segmento de assinaturas também avança rapidamente, impulsionado pelo YouTube TV, pelo serviço de música e pelo pacote NFL Sunday Ticket.

Waymo

A Waymo, empresa de carros autônomos da Alphabet, é até agora o maior sucesso da companhia fora do Google.

Hoje, a Waymo opera a maior frota comercial de veículos autônomos dos EUA, com mais de 1.500 carros e mais de 100 milhões de quilômetros percorridos de forma totalmente autônoma. Concorrentes como a Tesla e a Zoox, da Amazon, ainda estão majoritariamente em fase de testes e restritas a poucos mercados.

Quando a Alphabet foi criada como controladora do Google, surgiu a categoria “Other Bets” (“Outras Apostas”), destinada a negócios que a empresa classificava como moonshots — projetos altamente inovadores e ambiciosos.

“Não vamos cair na zona de conforto, apenas mexendo aqui e ali ao longo dos anos”, escreveu a empresa em seu relatório anual de 2014, ao falar sobre esses projetos ousados.

A Waymo foi separada do Google em 2016 para integrar as Outras Apostas, que, no geral, ainda acumulam prejuízos de bilhões de dólares por ano. No segundo trimestre de 2025, a Alphabet registrou perda de US$ 1,2 bilhão (R$ 6,5 bilhões) nessa divisão, com receita de US$ 373 milhões (R$ 2 bilhões).

Na rodada de captação de novembro, a Waymo foi avaliada em US$ 45 bilhões (R$ 243 bilhões), com participação de investidores como Andreessen Horowitz, Tiger Global, Silver Lake, Fidelity e T. Rowe Price.

Alguns analistas acreditam que o valor seja muito maior hoje. Em agosto, a D.A. Davidson estimou US$ 200 bilhões (R$ 1,08 trilhão) ou mais. A Oppenheimer projeta um valor-base de US$ 300 bilhões (R$ 1,62 trilhão), supondo que a empresa alcance US$ 102 bilhões (R$ 551 bilhões) em lucro ajustado até 2040. Já a Raymond James avalia a Waymo em US$ 150 bilhões (R$ 810 bilhões), prevendo que as corridas semanais cheguem a 1,4 milhão em 2027 e alcancem 5,8 milhões até 2030. O TD Cowen adota uma projeção mais conservadora, estimando o valor mediano em US$ 60 bilhões (R$ 324 bilhões).

Segundo a própria Waymo, já são mais de 250 mil viagens pagas por semana nos mercados onde atua comercialmente, incluindo Atlanta, Austin, Los Angeles, Phoenix e São Francisco. A empresa planeja expandir para Filadélfia, Dallas e outras cidades nos próximos anos.

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