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Na disputa com a China por metais raros, notebooks e celulares velhos podem ganhar nova vida
Publicado 13/07/2025 • 15:37 | Atualizado há 5 horas
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Publicado 13/07/2025 • 15:37 | Atualizado há 5 horas
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À medida que Estados Unidos e China disputam a supremacia econômica, tecnológica e geopolítica, os elementos e metais críticos embutidos em tecnologias, de produtos de consumo a equipamentos industriais e militares, tornaram-se peças centrais no conflito.
O principal exemplo disso é o domínio chinês sobre a cadeia de suprimento de metais raros. Na semana passada, o Departamento de Defesa dos EUA adquiriu uma participação significativa na MP Materials, empresa responsável pela única operação de mineração de terras raras no país.
No entanto, há uma alternativa para enfrentar a escassez desses materiais que remonta a uma ideia antiga: a reciclagem. O setor evoluiu muito além da coleta de latas, garrafas e jornais, passando a reutilizar produtos eletrônicos para criar novas soluções.
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Atualmente, recicladoras de nova geração, que mesclam empresas tradicionais a startups, estão desenvolvendo formas inovadoras de coletar e processar o crescente volume de lixo eletrônico (ou e-lixo), como computadores, smartphones, servidores, TVs, eletrodomésticos, dispositivos médicos e outros equipamentos de TI descartados. Recentemente, baterias de veículos elétricos, turbinas eólicas e painéis solares abriram novas frentes nesse mercado.
A reciclagem de e-lixo não se limita aos metais raros. Qualquer eletrônico que não possa ser totalmente recondicionado, revendido ou reaproveitado para reposição de peças pode ser reciclado para extrair ouro, prata, cobre, níquel, aço, alumínio, lítio, cobalto e outros metais essenciais à indústria.
No entanto, cresce o interesse na extração de elementos raros como neodímio, praseodímio, térbio e disprósio — fundamentais na produção de jatos de combate, ferramentas elétricas e diversos produtos de ponta.
“A reciclagem [de e-lixo] não vinha sendo levada muito a sério até recentemente”, afirmou Kunal Sinha, chefe global de reciclagem da Glencore, mineradora e comerciante suíça de metais e minerais que tem expandido sua atuação na reciclagem. “Muita gente ainda está dormindo no volante e não percebe o tamanho dessa oportunidade.”
Tradicionalmente, fabricantes dos EUA compram metais essenciais, inclusive terras raras, de fornecedores nacionais e estrangeiros, em sua maioria chineses. Contudo, com cadeias de suprimento abaladas por tarifas imprevisíveis e tensões geopolíticas, o mercado de e-lixo reciclado vem ganhando força como alternativa para sustentar a eletrificação em massa.
“Os Estados Unidos importam muitos eletrônicos, e todos eles contêm ouro, alumínio e aço”, observou John Mitchell, presidente da Global Electronics Association. “Há uma grande oportunidade de as tarifas impulsionarem a reciclagem no país para produtos que não fabricamos, mas que compramos de outros.”
Embora a reciclagem represente apenas US$ 200 milhões do EBITDA total de quase US$ 14 bilhões da Glencore, o tema tem recebido atenção estratégica da alta liderança. “Acreditamos que a mineração ainda será necessária para suprir a demanda por cobre, ouro e outros metais, mas reconhecemos que a reciclagem terá um papel enorme”, disse Sinha.
A empresa opera há quase 20 anos uma gigantesca fundição de cobre em Quebec, Canadá, que existe há quase um século. Cerca de 15% da matéria-prima processada vem de materiais recicláveis, como e-lixo, coletados por uma rede global com mais de 100 fornecedores.
A fundição foi uma das pioneiras, nos anos 1980, na recuperação de metais preciosos a partir de lixo eletrônico, produzindo cobre, ouro, prata, platina e paládio refinados para revenda.
A importância do cobre ganhou ainda mais destaque no início de julho, quando os preços atingiram níveis recordes após o presidente Donald Trump anunciar uma tarifa de 50% sobre as importações do metal. Os EUA importam quase metade do cobre que consomem, e a nova política visa estimular a produção doméstica.
Como o processo de abertura de uma mina nos EUA pode levar cerca de 30 anos, o cobre reciclado se torna ainda mais atrativo. Segundo a consultoria Wood Mackenzie, 45% da demanda global por cobre será suprida por reciclagem até 2050, ante cerca de 33% atualmente.
Empresas estrangeiras também começaram a investir em usinas de reciclagem nos EUA. Em 2022, a alemã Wieland iniciou a construção de uma planta de US$ 100 milhões no Kentucky. No ano passado, outra alemã, a Aurubis, iniciou a obra de uma unidade de US$ 800 milhões na Geórgia. “A Aurubis Richmond será a primeira grande fundição secundária do tipo nos EUA, permitindo manter metais estratégicos na economia e tornando as cadeias de suprimento mais independentes”, afirmou o CEO Toralf Haag.
O aumento do e-lixo começou nos anos 1990, com o avanço da economia digital. Esse movimento foi acelerado pelo crescimento das energias renováveis, da mobilidade elétrica, da inteligência artificial e da construção de data centers, o que leva à troca constante de equipamentos e à produção de resíduos eletrônicos em massa.
Em 2022, o mundo gerou 62 milhões de toneladas de e-lixo, um aumento de 82% em relação a 2010, segundo a ONU. A expectativa é que esse número chegue a 82 milhões de toneladas em 2030. Só os EUA geraram quase 8 milhões de toneladas em 2022, mas apenas 15% a 20% foram recicladas adequadamente. Esse mercado ainda pouco explorado movimentou US$ 28,1 bilhões em 2024, segundo a IBISWorld, com previsão de crescimento anual de 8%.
Equipamentos que armazenam dados, como celulares, computadores e dispositivos médicos, precisam ter as informações apagadas antes de serem reciclados, conforme normas de cibersegurança e ambientais. Empresas como Waste Management, Republic Services, Clean Harbors e recicladoras especializadas como Sims Lifecycle, ERI, All Green e Full Circle Electronics oferecem esse serviço, chamado de disposição de ativos de TI (ITAD).
“Estamos vendo um aumento no volume de [e-lixo] chegando aos nossos depósitos”, disse Dave Daily, CEO da Full Circle Electronics. Segundo ele, empresas e consumidores estão antecipando a troca de equipamentos, prevendo altas nos preços por causa das tarifas.
A empresa desmonta os aparelhos em 40 a 50 tipos diferentes de materiais, como teclados, placas e cabos. Esses itens são vendidos a recicladoras que extraem metais e terras raras, cujo preço segue em alta, para reintrodução na cadeia de produção.
Mesmo antes das iniciativas do governo Trump para revitalizar a indústria americana com novos acordos comerciais e incentivos fiscais, empreendedores já vinham criando startups de reciclagem de e-lixo e desenvolvendo tecnologias para abastecer os fabricantes locais.
“Muitas regiões do mundo têm sido negligentes com o processamento de e-lixo, então muito disso é exportado”, disse Sinha. “Agora parece haver uma tendência de nacionalizar o e-lixo, porque as pessoas perceberam que temos os mesmos metais aqui.”
A China domina cerca de 90% da cadeia global de ímãs de terras raras, usados em veículos elétricos, drones, eletrônicos, turbinas eólicas e armamentos. A guerra comercial só ampliou essa disparidade. Em abril, Pequim restringiu a exportação de sete metais e ímãs raros, como retaliação às tarifas americanas. A medida levou fábricas da Ford a fecharem por falta de peças.
Em junho, a China concedeu licenças temporárias de seis meses para alguns fornecedores dos EUA, mas as exportações ainda estão abaixo do normal. Os EUA, por sua vez, tentam reduzir essa dependência. Antes do anúncio recente do governo Trump, a administração Biden já havia concedido US$ 45 milhões à MP Materials e autorizado um novo projeto de mineração no deserto de Mojave, na Califórnia.
Startups de reciclagem também se mobilizam. A Illumynt desenvolveu um processo avançado para extrair terras raras de HDs desativados. Em abril, a Western Digital anunciou uma parceria com Microsoft e outras empresas para recuperar metais desses dispositivos.
A canadense Cyclic Materials criou um processo para extrair metais de motores de veículos elétricos, turbinas eólicas, equipamentos de ressonância magnética e data centers. A empresa vai investir mais de US$ 20 milhões em sua primeira unidade nos EUA, no Arizona. A Glencore firmou um contrato de fornecimento com a Cyclic para abastecer suas operações.
Outro foco é a reciclagem de baterias de íons de lítio, que contêm cobre, cobalto, níquel, manganês e alumínio — essenciais para novas baterias de carros elétricos. As três grandes montadoras americanas investem pesado no setor, mas seus projetos podem ser afetados por possíveis cortes no crédito fiscal de produção (45X), previsto na nova lei orçamentária federal.
Ainda é cedo para prever o impacto sobre recicladoras como Ascend Elements, American Battery Technology, Cirba Solutions e Redwood Materials, que se beneficiam desse e de outros créditos. Algumas podem até ganhar com novas cláusulas que fortalecem a cadeia nacional de minerais críticos, enfraquecendo o domínio chinês.
Mesmo assim, Sinha faz um alerta: “Cuidado para não criar uma empresa de reciclagem baseada em um único incentivo fiscal, porque ele pode acabar.” Ele também aconselha cautela a investidores: “É ótimo ver a reciclagem sendo valorizada, mas startups nem sempre têm fundamentos sólidos. Não invista pela empolgação — invista pelos fundamentos.”
A própria Glencore é exemplo disso. A empresa investiu US$ 327,5 milhões em notas conversíveis da recicladora de baterias Li-Cycle, que iniciou a construção de uma nova unidade em Nova York, mas entrou em dificuldades e pediu recuperação judicial em maio. A Glencore apresentou uma oferta de US$ 40 milhões pelos ativos do projeto.
Apesar disso, Sinha acredita no futuro da reciclagem de e-lixo: “O cenário atual vai gerar mais startups e investimentos. Nós mesmos estamos investindo.”
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Este conteúdo foi fornecido pela CNBC Internacional e a responsabilidade exclusiva pela tradução para o português é do Times Brasil.
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