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Cross default: Conheça a engrenagem invisível que quase quebrou a Ambipar — e pode atingir outros investidores

Publicado 15/10/2025 • 10:06 | Atualizado há 3 horas

KEY POINTS

  • Cross default conecta juridicamente diferentes dívidas de um mesmo grupo, ampliando o risco de colapso financeiro.
  • Ambipar obteve liminar no Rio de Janeiro que suspendeu a execução cruzada de contratos e evitou o travamento das operações.
  • Especialistas alertam que empresas alavancadas precisam mapear gatilhos de risco e renegociar cláusulas para evitar novas crises.

A disputa judicial envolvendo a Ambipar trouxe à tona um tema pouco conhecido fora do mundo jurídico, mas com potencial de provocar crises bilionárias: a cláusula de cross default. O dispositivo, comum em contratos financeiros, pode transformar uma inadimplência isolada em uma reação em cadeia capaz de comprometer a saúde de todo um grupo econômico.

Nos últimos anos, a Ambipar, empresa brasileira de soluções ambientais, apostou em uma estratégia agressiva de expansão, financiada por emissões de dívida no exterior e linhas de crédito corporativas. Essa arquitetura, típica de empresas de capital intensivo, tornou o grupo vulnerável a um efeito dominó: quase todos os contratos incluíam cláusulas de cross default, que conectam juridicamente as obrigações financeiras entre si.

Relatórios públicos indicam que essa interdependência elevou o risco sistêmico da estrutura. Em caso de execução de uma única dívida, os vencimentos antecipados poderiam superar R$ 10 bilhões. O risco se concretizou quando credores, entre eles o Deutsche Bank, buscaram antecipar cobranças com base em supostas violações contratuais e deterioração de indicadores financeiros.

A Ambipar recorreu à Justiça e obteve uma tutela de urgência no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que suspendeu os efeitos das cláusulas de cross default e impediu a execução cruzada das dívidas. A decisão reconheceu que uma execução simultânea poderia gerar dano irreversível, comprometendo a continuidade operacional do grupo e o plano de reestruturação em curso.

Segundo Sérvulo Mendonça, chairman da Holding SM, o caso evidencia como um mecanismo criado para proteger credores pode se transformar em um gatilho de crise.

“A cláusula de cross default é uma salvaguarda que vincula todas as dívidas de um mesmo grupo. Quando um contrato entra em default, os demais podem ser cobrados imediatamente. O problema é que, em estruturas interconectadas, essa engrenagem vira um risco sistêmico”, explica o executivo.

Tecnicamente, o cross default é um dispositivo de proteção ao credor inserido em contratos de mútuo, debêntures e outros instrumentos financeiros. Ele estabelece que o descumprimento de uma obrigação relevante — ou a declaração de vencimento antecipado — em um contrato equivale à quebra de todos os demais.

Na prática, isso significa que, se uma empresa deixar de honrar uma dívida específica, seus demais credores ganham o direito de antecipar o vencimento das outras obrigações, podendo executar garantias ou bloquear ativos.

“O cross default é um gatilho jurídico de alta potência”, afirma Mendonça. “Em grupos empresariais com múltiplas dívidas e garantias cruzadas, basta uma falha isolada para acionar uma cascata de vencimentos. A cláusula que deveria dar segurança pode acabar colapsando a estrutura.”

Impactos e precedentes

A liminar obtida pela Ambipar criou um precedente importante no contencioso financeiro brasileiro, especialmente para companhias com emissões internacionais de títulos. O caso ilustra a tensão entre a proteção contratual dos credores e a estabilidade das empresas de grande porte, cuja liquidez depende de redes complexas de financiamento.

Mendonça destaca que a gestão de compliance financeiro precisa evoluir para lidar com esse tipo de risco. “Não basta acompanhar contratos isoladamente. É preciso mapear gatilhos de default, simular cenários de estresse e entender como os instrumentos se interconectam. Sem isso, uma empresa pode ser surpreendida por uma reação em cadeia incontrolável.”

Para o advogado, a renegociação coordenada com credores e o redesenho das garantias cruzadas serão fundamentais para evitar novas crises.

“A lição do caso Ambipar é clara: um detalhe contratual pode se tornar o epicentro de um colapso financeiro. A governança contratual precisa ser tratada como parte da estratégia de resiliência.”

Um teste de resistência financeira

Em tempos de juros elevados e liquidez restrita, a cláusula de cross default se tornou mais do que um instrumento técnico — é um teste de resistência para grupos empresariais altamente alavancados.

“Empresas que não monitoram seus gatilhos de risco transformam uma inadimplência pontual em um problema estrutural”, diz Mendonça. “A solidez jurídica é importante, mas o que sustenta a confiança do mercado é a capacidade de antecipar riscos e manter previsibilidade financeira.”

O episódio da Ambipar deixa claro que, em ambientes de endividamento complexo, a proteção contratual e o risco podem andar lado a lado. Entender essa fronteira é essencial para evitar que uma cláusula de segurança se transforme em uma bomba-relógio financeira.

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