Os escritórios familiares estão prestes a crescer rapidamente à medida que os ultra-ricos buscam serviços personalizados para administrar sua riqueza. No entanto, eles estão enfrentando dificuldades para encontrar gestores de dinheiro.
Em setembro passado, havia 8.030 escritórios familiares globalmente gerenciando US$ 3,1 trilhões (cerca de R$ 15,5 trilhões) em ativos, de acordo com as estatísticas recentes da Deloitte. Até 2030, espera-se que o número de escritórios familiares cresça para 10.720, com US$ 5,4 trilhões (cerca de R$ 27 trilhões) em ativos sob sua gestão.
“Estimamos que até 2034, nos níveis atuais de produtividade dos assessores, a força de trabalho de consultores de [riqueza] diminuirá a ponto de a indústria enfrentar uma escassez de cerca de 100.000 consultores”, disse a McKinsey em fevereiro.
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Desafios na contratação e retenção de talentos
De acordo com o Relatório de Escritórios Familiares da América do Norte da RBC e Campden Wealth divulgado em setembro passado, um número significativo de escritórios familiares relatou que a contratação era um “grande desafio” e expressou dificuldades em recrutar e reter funcionários. O mesmo vale para os escritórios familiares europeus.
Enquanto isso, escritórios familiares em centros de riqueza em crescimento na Ásia, como Cingapura, estão recorrendo à automação de fluxos de trabalho e terceirização devido à escassez de talentos na cidade-estado.
Os escritórios familiares também precisam competir com bancos, firmas de private equity e fundos de hedge por talentos de ponta.
No entanto, a escassez de talentos não se deve apenas à falta de candidatos qualificados — também é uma questão de seletividade por parte dos escritórios familiares.
Questões de confiança
Embora potenciais candidatos tenham dificuldade em entrar na onda dos escritórios familiares, alguns escritórios também podem ser exigentes quando se trata de escolher o encaixe perfeito. O critério principal: Confiança.
“Por que o chefe entregou o dinheiro ao contador? Porque eles têm uma relação de longa data”, disse Tobias Prestel, diretor-gerente da Prestel and Partner Family Office Conferences.
“No espaço de escritórios familiares, muitas vezes não é a melhor pessoa para o trabalho que consegue o emprego, mas sim aquela em quem se confia”, ele disse à CNBC. “Se você tem US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,5 bilhões), em quem você confia? A quem você dá a chave de tudo? Não é uma decisão fácil”, disse Prestel, que organiza fóruns de discussão privada e investimento para escritórios familiares ao redor do mundo.
Algumas famílias tendem a colocar uma ênfase enorme no fator confiança em detrimento de outros critérios, disse Reto Jauch, sócio da SZ&J. Embora isso possa ser algo positivo, às vezes pode ser prejudicial para o trabalho, ele acrescentou.
Os escritórios familiares estão frequentemente procurando combinar funções como a de diretor de investimentos com a de diretor financeiro, onde esperam encontrar o braço direito ideal, disse Iris Xu, fundadora da empresa de serviços contábeis e corporativos Jenga, que contrata profissionais fixos e contratados para escritórios familiares em Cingapura.
“É uma exigência bem alta. Poucos profissionais estão dispostos e capacitados a cobrir todas essas áreas”, afirmou ela.
No entanto, os ricos estão intensificando seus esforços para buscar o talento que desejam. E, às vezes, isso significa estar disposto a pagar um “delta de confiança”, ou um salário premium, especialmente se a família quiser alguém trabalhando para eles, disse Jauch, particularmente em um cenário onde escritórios familiares estão dispostos a pagar até US$ 190.000 (cerca de R$ 950.000) por ano para assessores executivos.
Os escritórios familiares europeus estão elevando os pacotes de compensação para reter e atrair talentos, oferecendo bônus e outros incentivos como oportunidades de co-investimento e uma participação nos lucros da gestão de investimentos, conforme mostrou um relatório separado da Campden Wealth e HSBC.
Uma questão ‘arriscada’
Jovens funcionários estão relutantes em trabalhar em escritórios familiares por razões que incluem a falta de uma estrutura corporativa clara, além de ser amplamente percebido como um “emprego de aposentadoria”, disseram especialistas do setor à CNBC.
Os escritórios familiares podem parecer “arriscados” para potenciais funcionários devido à sua estrutura relativamente informal, linhas de reporte pouco claras e progressão de carreira indefinida, afirmou Xu da Jenga.
Xu acrescentou que cargos relacionados a investimentos em escritórios familiares tendem a ser mais difíceis de preencher em comparação a outros cargos, com a taxa de rotatividade geralmente entre um e dois anos.
“No mundo corporativo, no fim das contas, tudo é fungível, inclusive o CEO”, disse Jauch da SZ&J.
Isso é diferente de trabalhar para um escritório familiar, onde a família é central e constante, explicou ele, que conduz contratações e planejamentos de sucessão para escritórios familiares. Trabalhar para e estar à disposição de uma única família requer um equilíbrio delicado que nem sempre é fácil de alcançar.
“Há um tipo diferente de personalidade que se sai bem em tal ambiente: você precisa manter seu ego sob controle para trabalhar em um escritório familiar, mas também precisa ter confiança suficiente para expor sua opinião,” explicou Jauch.
“É um equilíbrio entre poder falar com a família como um conselheiro, em um papel que você tem com a família, mas também entender que, em última análise, sempre será a decisão da família. Isso não vai mudar”, ele acrescentou.
É por isso que John, um advogado na faixa dos 40 anos que não quis revelar seu nome verdadeiro, recusou uma oferta de emprego como assessor jurídico geral em um escritório familiar com sede em Cingapura, dizendo que é como “colocar todos os ovos em uma única cesta.”
“Talvez você se dê muito bem com essa pessoa, talvez não. Mas para alguém na minha fase de carreira [na época], com uma família e diferentes obrigações, era simplesmente muito risco pessoal… onde basicamente uma pessoa pode decidir simplesmente me demitir,” ele disse.
John também citou a potencial falta de transparência e processo em torno das discussões sobre compensação e promoção como outros motivos para ter recusado a vaga.
O advogado, que trabalhava em um banco de investimento na época, também tinha preocupações de que aceitar um emprego em um escritório familiar em um estágio relativamente inicial de sua carreira tornaria mais difícil retornar ao mundo corporativo.
Jauch sugere que trabalhar em um escritório familiar pode ser recompensador se “Você quiser fazer parte de algo. E estiver bem se seu progresso for mais no conteúdo e talvez no lado qualitativo e profissional, mas não necessariamente em termos de passos de carreira.”
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Este conteúdo foi fornecido pela CNBC Internacional e a responsabilidade exclusiva pela tradução para o português é do Times Brasil.
