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Publicado 05/01/2025 • 07:47
O presidente argentino Javier Milei prometeu que em 2025 vai continuar com os ajustes e com a motosserra – nome como ficou conhecido o plano que ele adotou assim que assumiu o governo, em dezembro de 2023. Os argentinos já sentem os reflexos destes cortes radicais: inflação controlada, peso valorizado e ruas e comércios vazios.
Na época, há um ano, a inflação era de 211,4% ao ano. Na comparação mensal, a inflação desacelerou de 25% em dezembro de 2023 para 2,4% em novembro de 2024. Outro desafio era diminuir o déficit público. Hoje, mesmo com a inflação menor, a Argentina se tornou mais cara e o consumo continua em queda. Um levantamento do Instituto Nacional de Estadística y Censos de la República (Indec) mostra que as vendas nos supermercados caíram 12,3% este ano em relação a 2023. O índice de pobreza no primeiro semestre de 2024 chegou a 52,9%.
Entre as principais medidas adotadas pelo governo durante o ano passado estão a desvalorização do peso e a redução dos gastos públicos. Os ministérios passaram de 18 para 8, mais de 30 mil empregadores públicos foram demitidos. O Plano Motosserra também paralisou contratos de obras públicas e flexibilizou preços e regras trabalhistas.
De acordo com a Zuban Cordoba Associados o governo terminou o ano com 47,3% de aprovação contra 52,7% de reprovação. Os números mostram um país dividido. A classe média baixa e os mais pobres são os que mais sofrem, principalmente pelo alto valor dos produtos. Já a classe média de maior poder aquisitivo e os mais ricos se mostram mais otimistas com essa estabilização do dólar. No entanto, não há um otimismo exagerado.
Juan Carlos trabalha em um local que vende frutas e verduras, muito comuns em Buenos Aires. Segundo ele, as vendas caíram 30% nos últimos meses porque as pessoas estão deixando de consumir alguns produtos por causa do preço elevado. “Para mim, o problema é que, como o transporte e conta de gás e luz aumentaram muito, as pessoas estão deixando de consumir alguns alimentos”, diz.
Turismo em queda
O aumento dos preços, junto com a alta do dólar no Brasil, que passou de R$ 6 também é sentido pelos turistas brasileiros que viajam para a Argentina. Rildo da Silva, é do Rio Grande do Sul, foi a Buenos Aires passar 10 dias. Segundo ele, tudo está mais caro do que imaginou.
“Fiquei muito assustado, achei muito caro tudo: comida, bebida, lanches para almoçar. É um absurdo! Duas pessoas gastam R$ 200. Previ um gasto que sobrasse, mas estou vendo que vou ter que buscar mais dinheiro”, conta.
Ursula Brandão, advogada em São Paulo, não viajava a Buenos Aires havia10 anos e também ficou surpresa com os preços de restaurantes e transportes. O orçamento de dinheiro que fiz também não foi suficiente. “Fizemos um planejamento e, hoje, na hora do almoço pensei vou ter que transferir mais para o meu cartão de viagem”, diz.
Jairo Barcelos é gerente de produtos em Palhoça Santa Catarina. Foi pela primeira vez para Buenos Aires. Ele também levou um susto com os preços. “A gente está gastando num nível de uma viagem para Miami, assusta não pelo fato da gente estar gastando muito, gastando mais do que a gente imaginou para fazer uma viagem próximo da nossa casa”, diz.
De acordo com o Indec, o número de turistas estrangeiros caiu 19,2% em novembro de 2024 comparado com o mesmo mês de 2023. Entraram nas fronteiras argentinas, 855 mil visitantes em novembro. Por outro lado, aumentou em 43,2% a quantidade de argentinos que foram ao exterior.
Nas ruas de Buenos Aires é possível notar menos turistas se comparamos com a mesma época do ano passado, mesmo assim encontramos muitos brasileiros. Mas não é raro ver restaurante que em outras épocas estavam sempre cheios com um número menor de clientes
Câmbio
De acordo com o economista Fábio Rodriguez, diretor da M&R Asociados, o governo adotou a austeridade fiscal com o objetivo de derrotar a inflação, conseguiu reverter um déficit de quase 3% em um superávit primário de cerca de 2%. Segundo o economista, o resultado foi exitoso, principalmente em termos inflacionários. Em dezembro de 2023 a inflação chegou a 25% e, agora, de acordo com índices oficiais, chega a 2,4%.
O economista acrescenta que o governo também conseguiu um câmbio estável. Depois da desvalorização inicial de 120%, o dólar se estabilizou, o que fez com que o peso se valorizasse.
“Na Argentina ir dominando a inflação e ter o dólar estável é um ganho que sustenta a opinião pública. Isso mostra o que foi o primeiro ano de Milei, onde obviamente houve consequências negativas do ajuste inicial”, comenta.
“Principalmente no primeiro semestre, os salários caíram muito. Em junho, começaram a recuperar o trabalho formal em empresas privadas, que hoje está no mesmo nível de 2023”, diz o economista.
O problema, de acordo com Fábio Rodriguez, é que os trabalhadores públicos e informais estão com defasagem de 15% nos salários em relação a 2023.
De acordo com o economista, os trabalhadores informais não têm a negociação de reajuste dos sindicatos com o governo, o que os impede de conseguir aumentos salariais significativos. No caso dos trabalhadores públicos a defasagem é causada pelo plano motoserra, que cortou gastos públicos e os trabalhadores praticamente não conseguiram negociação de reajustes
De acordo com um levantamento do Indec, 46,5% dos trabalhadores na Argentina são informais.
O governo de Javier Milei também enfrenta pressões do agronegócio, que pede o fim das restrições ao direito de exportação. O setor que mais sofre com esse cambio atrasado é o da soja.
Gustavo Idígoras, presidente do Centro de Exportadores de Cereais (CEC) diz que hoje o país tem um tipo de cambio que se estabilizou, o que é muito importante. Em geral, quando não há estabilidade, o produtor tem a tendencia de não vender.
Na opinião dele enquanto o governo não mudar o tipo de cambio é preciso buscar formas de ser mais competitivo. “Temos que buscar maneiras de trabalhar mais em produtividade e competividade”.
Sustentabilidade
Ao contrário do Brasil, o Banco Central não é independente do governo na Argentina. Para alguns especialistas este tipo de câmbio que tornou o peso mais forte nos últimos tempos não é sustentável por muito tempo e afasta os investidores.
O “cepo cambiário” é um termo usado no país para as restrições a compra de dólar, que impõe um limite de 200 dólares mensais, mas também impõe limitações a movimentos de capitais fora do país. São medidas implementadas pelo Banco Central. “Esse atraso cambiário não é sustentável em algum momento vai ter que fazer a liberação, em algum momento deixa de ser sustentável”, diz o economista Martin Kalos, diretor da EPyCA Consultores.
O último dado do Banco Central Argentino mostra que a conta corrente do balanço cambiário em novembro foi deficitária em US$ 900 milhões.
Para o economista Fábio Rodriguez as reservas são a parte mais problemática do plano de estabilização. “O modelo depende das alternativas que serão dadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Como será administração Trump, há possíveis ajudas ao governo argentino em termos de financiamentos no horizonte”, afirma.
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