O Irã intensificou ainda mais sua produção de urânio altamente enriquecido, de acordo com um relatório confidencial da agência nuclear da ONU, após o Ministro das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, ter dito no sábado (31) que Teerã considera as armas nucleares “inaceitáveis”.
De acordo com o último relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ao qual a AFP teve acesso, o Irã aumentou drasticamente seu estoque de urânio enriquecido para até 60%, próximo ao nível de aproximadamente 90% necessário para armas atômicas.
Em seu relatório trimestral, o Irã afirmou que tem uma quantidade estimada de 408,6 quilos de urânio enriquecido para até 60% em 17 de maio, um aumento de 133,8 quilos desde o último relatório em fevereiro.
A quantidade total de urânio enriquecido do Irã agora excede 45 vezes o limite autorizado pelo acordo de 2015 com as potências mundiais, e é estimada em 9.247,6 quilos.
“O aumento significativo da produção e do acúmulo de urânio altamente enriquecido pelo Irã, o único Estado sem armas nucleares a produzir tal material nuclear, é motivo de séria preocupação”, afirmou a AIEA.
Em um relatório detalhado à parte, a AIEA criticou a cooperação “insatisfatória” de Teerã em seu escrutínio de seu programa nuclear, observando especificamente a falta de progresso do Irã em explicar o material nuclear encontrado em locais não declarados.
Em desacordo sobre enriquecimento de urânio
O relatório surge em um momento em que Teerã conduz negociações delicadas com os Estados Unidos sobre seu programa nuclear.
Governos ocidentais há muito suspeitam que o Irã busca desenvolver capacidade de armas nucleares para combater o arsenal amplamente suspeito, mas não declarado, de seu arqui-inimigo, Israel.
Após o relatório da AIEA, Israel acusou no sábado o Irã de estar “totalmente determinado” a adquirir armas nucleares.
“Tal nível de enriquecimento existe apenas em países que buscam ativamente armas nucleares e não tem qualquer justificativa civil”, afirmou um comunicado do gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Araghchi, no entanto, reafirmou a posição de longa data do país, afirmando que Teerã considera as armas nucleares “inaceitáveis”.
“Se a questão são armas nucleares, sim, nós também consideramos esse tipo de arma inaceitável”, disse Araghchi, principal negociador do Irã nas negociações, em um discurso televisionado. “Concordamos com eles nessa questão.”
Os comentários de Araghchi ocorreram um dia após o presidente dos EUA, Donald Trump, dizer que o Irã “não pode ter uma arma nuclear”, ao mesmo tempo, em que expressou esperança de fechar um acordo em breve.
Na quinta-feira (29), Araghchi criticou o que chamou de “especulação da mídia” de que os dois lados estavam próximos de um acordo, afirmando que não tinha certeza se um acordo era iminente.
O Irã realizou cinco rodadas de negociações com os Estados Unidos em busca de um novo acordo para substituir o acordo com as grandes potências que Trump abandonou durante seu primeiro mandato em 2018.
Ainda não foi anunciada data ou local para a próxima rodada, mas Araghchi disse na quarta-feira (28) que esperava um anúncio do mediador Omã nos “próximos dias”.
Os dois governos estão em desacordo sobre o programa de enriquecimento de urânio do Irã, que Washington disse que deve cessar, mas que Teerã insiste ser seu direito sob o Tratado de Não Proliferação Nuclear.
‘Conversas muito boas’
No entanto, Trump disse na quarta-feira (28) que “estamos tendo conversas muito boas com o Irã”, acrescentando que havia alertado o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, contra ataques às suas instalações nucleares, pois isso não seria apropriado neste momento.
Israel ameaçou repetidamente ações militares, após bombardear as defesas aéreas iranianas durante duas trocas de tiros no ano passado.
Trump não descartou a ação militar, mas disse que quer espaço para fechar um acordo primeiro, e também afirmou que Israel, e não os Estados Unidos, assumiria a liderança em tais ataques.
Trump adotou uma política de “pressão máxima” contra Teerã após abandonar o acordo de 2015 e reimpôs as sanções abrangentes que o acordo havia suspendido em troca de restrições monitoradas pela ONU às atividades nucleares do Irã.
O Irã continuou a honrar o acordo por um ano, mas depois começou a reverter seu próprio cumprimento de seus termos.
Desde então, o Irã acumulou o maior estoque de urânio altamente enriquecido entre todos os Estados sem arsenal nuclear.
O urânio enriquecido até 60% está muito além do limite de 3,67% estabelecido pelo acordo de 2015.
Nos últimos dias, Teerã afirmou que, caso um acordo seja alcançado, poderá considerar permitir que inspetores americanos se juntem às equipes do órgão de vigilância nuclear da ONU, que monitora o cumprimento de seus termos.
O chefe nuclear, Mohammad Eslami, disse que o Irã “reconsiderará aceitar inspetores americanos por meio da Agência (AIEA)” se “um acordo for alcançado e as demandas do Irã forem levadas em consideração”.
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