Exportadores chineses em uma das cidades portuárias mais movimentadas do mundo falaram nesta quinta-feira (29) sobre horizontes nebulosos enquanto tentam navegar no turbilhão comercial desencadeado pela saga em constante mudança da política tarifária dos EUA.
Fornecedores da cidade de Ningbo, no leste do país — lar do terceiro maior porto de contêineres do mundo — têm enfrentado uma jornada turbulenta desde que o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou tarifas abrangentes sobre quase todos os parceiros comerciais em abril.
Na última quarta-feira (29), um tribunal federal bloqueou a maioria das tarifas americanas, incluindo aquelas impostas à China separadamente, usando poderes de emergência, mas essa notícia não trouxe muito consolo.
“Devido ao apelo do governo Trump, há incerteza na política tarifária, por isso permanecemos cautelosos”, disse Han Zhongkai, funcionário de uma empresa de tecnologia que fabrica produtos como smartwatches.
Exportadores presentes em uma movimentada feira comercial transfronteiriça em Ningbo, que conversaram com a AFP, disseram que estavam presos no porto — tanto metaforicamente, enquanto avaliavam um futuro incerto, quanto, em alguns casos, literalmente.
Após o anúncio de impostos feito por Trump em abril, Pequim e Washington se envolveram em uma escalada de retaliação que fez as tarifas subirem para três dígitos em cada lado.
“(Clientes americanos) pararam de fazer pedidos. Antes disso, muitos clientes estrangeiros já haviam enviado suas mercadorias para nosso depósito doméstico e estavam prontos para despachá-las”, disse Li Jie, de 28 anos, que trabalha na transportadora Freight Service Limited.
Após o aumento das tarifas, “eles nos informaram que — por enquanto — deveríamos manter as mercadorias em nosso depósito”.
Centenas de exportadores, vendendo de tudo, de móveis a pequenos aparelhos eletrônicos e brinquedos de bebê, disputavam a atenção no salão de exposições, tentando capturar a atenção de potenciais clientes.
As tarifas recíprocas já foram reduzidas por 90 dias após uma reunião entre autoridades chinesas e americanas em Genebra, em maio, mas a incerteza permanece.
“Os pedidos dos Estados Unidos foram basicamente suspensos”, disse o proprietário da empresa, Xiao Chuan, sentado em seu estande exibindo letreiros de neon LED multicoloridos em diferentes idiomas.
Um pedido estava quase pronto para ser feito, mas pode ser atrasado devido a questões tarifárias. Desde o recente ajuste na política tarifária, (os clientes) estão adotando uma abordagem de esperar para ver – sem saber se novas mudanças podem ocorrer.
‘Operação desleixada’
Diante da imprevisibilidade do mercado americano, muitos buscaram escoar seus produtos para outros lugares.
As exportações chinesas para Tailândia, Indonésia e Vietnã aumentaram dois dígitos em abril, atribuídas ao redirecionamento de produtos com destino aos EUA.
“Os países do Sudeste Asiático, na verdade, tiveram um crescimento bastante significativo. Muitas fábricas estão gradualmente transferindo suas compras da China, colocando pedidos de fabricação em países do Sudeste Asiático”, disse Li.
Em um depósito de contêineres perto do vasto porto de Ningbo, um funcionário que se identificou como Huang disse acreditar que os fabricantes estavam em uma missão de diversificação.
“O mundo não gira apenas em torno dos Estados Unidos. No final, encontraremos saídas alternativas para redirecionar esses produtos”, disse ele à AFP.
Centenas de contêineres, incluindo os rosa da empresa japonesa ONE, os azuis-bebê da dinamarquesa Maersk e os bordôs da sul-coreana HMM, estavam empilhados ordenadamente ao seu redor.
No entanto, o volume diário de pedidos diminuiu recentemente, disse Huang.
“Embora as tarifas tenham sido reduzidas, a incerteza permanece sobre potenciais aumentos futuros”, completou.
O pico nas remessas com destino aos EUA quando as tarifas foram reduzidas em maio foi apenas um pequeno incidente, provavelmente apenas pedidos em atraso e acordos negociados anteriormente.
Depois de alguns dias, “as coisas se estabilizaram”.
Xiao, o fornecedor de luzes de neon LED, disse acreditar que novos pedidos só viriam quando a política tarifária se estabilizasse.
E, portanto, todos os olhos estão voltados para o próximo passo de Washington.
Huang disse acreditar que as remessas com destino aos EUA provavelmente continuarão, mas com “margens de lucro mais apertadas e volumes reduzidos”.
“Não considero a credibilidade americana particularmente confiável hoje em dia”, disse ele.
“Honestamente, o governo dos EUA muitas vezes parece uma operação improvisada – em todos os lugares.”
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