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Tarifaço completa um mês: exportações caem em setores estratégicos, mas Brasil resiste com carne, China e antecipações

Publicado 06/09/2025 • 08:57 | Atualizado há 6 horas

KEY POINTS

  • Exportações brasileiras para os EUA caíram 18,5% em agosto, com forte impacto em setores estratégicos como minério de ferro e aeronaves.
  • Economistas avaliam que antecipação de embarques e exclusões da lista de tarifas suavizaram os efeitos imediatos.
  • Diversificação para China, México e Argentina ajudou a sustentar superávit, mas riscos estruturais permanecem.

Tarifaço dos EUA contra o Brasil completa um mês

Imagem gerada por IA/Times Brasil | CNBC

Passado um mês desde o início do tarifaço comercial imposto pelos Estados Unidos, o impacto nas exportações brasileiras foi significativo, mas menor do que o esperado em alguns setores. Economistas consultados pela reportagem de Times Brasil – Licenciado Exclusivo CNBC afirmam que parte do efeito foi mitigado pelo fato de produtos estratégicos terem ficado de fora da lista de sobretaxação.

“Continuamos vendendo toneladas de carne para os EUA, porém a preços maiores. A situação seria bem diferente se o suco de laranja, por exemplo, tivesse sido tarifado”, avaliou o economista Marcello Carvalho, da WIT Invest. Ele destaca, porém, que setores como pedras preciosas e ornamentais não encontraram alternativas de mercado e enfrentam dificuldades severas.

Impactos imediatos

O diretor de Estatísticas e Estudos de Comércio Exterior do MDIC, Herlon Brandão, observa que os efeitos se concentraram em setores estratégicos. “Os dados chamam atenção para o minério de ferro, que apresentou queda de 100%, sem nenhum embarque em agosto. A maior redução entre produtos industrializados foi em aeronaves e partes, com 84,9% de queda. O açúcar recuou 88,4%, e os motores e máquinas não elétricos tiveram queda de 60,9%.”

Brandão acrescenta que a carta enviada pelo governo norte-americano em julho, informando sobre a elevação tarifária, levou os exportadores brasileiros a anteciparem embarques. “Isso explica a alta de 7% em julho e a queda acentuada em agosto.”

A lógica da antecipação

O economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, reforça que o efeito não se resume à tarifa de 50%. “Muitas empresas norte-americanas anteciparam suas compras, e outras deixaram cargas retidas nos portos brasileiros para adiar o custo adicional. Isso ajuda a explicar por que até produtos com tarifa de 10% registraram queda em agosto, como óleos combustíveis e celulose.”

Ele alerta que segmentos dependentes do mercado norte-americano podem sofrer mais no médio e longo prazo. “O café tem grande participação no consumo dos EUA e deve ser observado de perto. O mesmo vale para carnes e frutas como a manga, onde pequenos produtores dependem quase exclusivamente desse destino. Esses grupos podem ser os mais afetados no médio e longo prazo, mesmo com ações de mitigação.”

Diversificação

O head de research da Eleven Financial, Fernando Siqueira, avalia que a queda já era prevista e foi parcialmente neutralizada pela diversificação de destinos. “Apesar da retração para os Estados Unidos, o volume agregado de exportações ficou próximo ao dos últimos dois ou três anos. Esse equilíbrio só foi possível porque houve aumento das vendas para mercados como China, México e Argentina.”

Ele pondera, no entanto, que nem todos os setores conseguem se adaptar no mesmo ritmo. “Produtos agrícolas com forte presença no mercado norte-americano, como soja e café, precisarão de mais tempo para serem redirecionados. Já outros, como veículos e manufaturados, encontraram mais rapidamente destino na Argentina.”

China e novos mercados

Na avaliação do professor de Finanças Internacionais da FGV-EAESP, Hsia Hua Sheng, o saldo de agosto mostra um movimento de reorientação do comércio exterior brasileiro. “O resultado indica que o Brasil está ampliando sua abertura para além dos Estados Unidos. A relação com a China é o principal exemplo, porque envolve não apenas comércio, mas também investimentos diretos. Isso dá mais previsibilidade e estabilidade ao empresariado.”

Sheng destaca que os embarques de soja e petróleo bruto para a China cresceram mais de 10% no mês, e que a venda de veículos para a Argentina também ajudou a compensar parte das perdas. Ele vê ainda potencial na ASEAN: “O sudeste asiático tem uma população imensa, capaz de absorver produtos brasileiros como carnes e derivados. Essa é uma frente que pode ganhar relevância com a visita do presidente Lula à reunião do bloco em outubro.”

Alterações recentes nas tarifas

Na sexta-feira (5), o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou nova ordem executiva alterando a lista de exceções do tarifaço. Produtos como hidróxido de alumínio, resinas e silicones passaram a ser tarifados, enquanto artigos ligados a ouro, minerais críticos e alguns medicamentos foram retirados.

A Casa Branca justificou que as mudanças são necessárias para “proteger a segurança nacional e enfrentar o déficit comercial dos EUA”. O texto também criou o “Anexo de Ajustes Potenciais de Tarifas para Parceiros Alinhados” (PTAAP), que prevê reduções tarifárias para aeronaves, insumos farmacêuticos e alguns produtos agrícolas caso países fechem acordos bilaterais com Washington.

Leitura dos números

A economista Raphaela Oliveira acrescenta que os dados confirmam a interpretação de antecipação. “O crescimento de 7% em julho para os Estados Unidos pode ser diretamente atribuído ao movimento dos exportadores. Mesmo com a queda de 18,5% em agosto, o acumulado de janeiro a agosto mostra crescimento de 1,6% nas vendas aos norte-americanos.”

Perspectivas macroeconômicas

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Valle, avalia que o Brasil deve conviver com déficits pontuais no comércio bilateral, mas manter saldo global positivo. “A expectativa é de um déficit de cerca de US$ 7 bilhões com os EUA em 2025, mas com superávit anual entre US$ 65 bilhões e US$ 70 bilhões na balança como um todo. Mesmo 20% abaixo de 2024, ainda é um número relevante diante do cenário mundial.”

Valle também projeta desaceleração na economia doméstica. “O PIB pode sair de 0,4% no segundo trimestre para próximo de zero no terceiro, pressionado pela guerra tarifária e pela perda de confiança empresarial. Nossa projeção é de 2,1% de crescimento em 2025 e 1,6% em 2026.”

Ele alerta ainda para os riscos da Argentina, que ganhou espaço como destino das exportações brasileiras. “O pacote econômico de Javier Milei enfrenta dificuldades políticas e monetárias. A inflação de 2% ao mês segue elevada e as reservas internacionais são insuficientes. O país pode entrar em mais uma crise já em 2026.”

Tabela: Exportações brasileiras para os EUA

DataValor US$ milhões FOB (livre de frete)Variação ante mesmo mês de 2024Participação total nas exportações do Brasil
08/20252.762,2-18,5%9,3%
07/20253.822,36,9%11,9%
06/20253.336,41,6%11,5%
05/20253.585,710,8%12,0%
04/20253.512,820,0%11,8%
03/20253.179,3-15,8%11,1%
02/20253.162,221,4%13,9%
01/20253.215,1-4,3%12,7%
12/20243.716,57,6%14,9%
11/20243.703,38,8%13,3%
10/20243.570,16,3%12,2%
09/20243.231,24,5%11,3%
08/20243.390,71,1%11,8%

Fonte: MDIC – Elaboração: Times Brasil – Licenciado Exclusivo CNBC

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