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Agentes de IA: a revolução invisível é social, não tecnológica
Publicado 11/09/2025 • 13:32 | Atualizado há 2 meses
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Publicado 11/09/2025 • 13:32 | Atualizado há 2 meses
Freepik
Imagem ilustrativa inteligência artificial
Quase todas as empresas já usam inteligência artificial em alguma medida. Mas o próximo salto não é apenas tecnológico: é simbólico e estrutural. Os agentes de IA — que evoluem de simples automação para sistemas capazes de observar, planejar e agir com graus crescentes de autonomia — não chegam como meras ferramentas de apoio. Eles entram como novos colegas de trabalho, capazes de aprender, tomar iniciativa e transformar fluxos inteiros de definição de caminhos.
Essa integração exige supervisão humana na maioria dos casos. No entanto, consultorias globais e relatórios de mercado já sinalizam uma rápida evolução rumo a agentes de IA com maior autonomia operacional. É nesse movimento que surgem as tensões: eles não mexem apenas em processos, mas reconfiguram vínculos coletivos, redistribuem poder e despertam ansiedades latentes. Para muitos líderes, a verdadeira revolução não está no código, mas nas consequências invisíveis dessa convivência entre humanos e colegas digitais.
>> Leia mais artigos da coluna de Joaquim Santini
Relatórios recentes convergem em um paradoxo: ubiquidade sem consistência. O AI Index 2025 da Universidade de Stanford mostra que 78% das organizações globais já utilizam IA. A BCG revela que 98% testam a tecnologia, mas apenas 4% atingiram maturidade plena. Essas poucas líderes conquistaram 50% mais crescimento de receita e 60% mais retorno ao acionista.
A IBM (CEO Study 2025) reforça: entre 2.000 CEOs entrevistados em 33 países, 64% afirmam estar dispostos a assumir mais riscos que os concorrentes, mas só 25% das iniciativas de IA alcançam o ROI esperado e apenas 16% chegam à escala corporativa.
A Microsoft (Work Trend Index 2025) adiciona a perspectiva humana: 82% dos líderes acreditam que agentes digitais ampliarão a capacidade de suas equipes, mas oito em cada dez trabalhadores relatam não ter tempo ou energia para absorver novas ferramentas.
É nesse contexto que os agentes de IA se tornam catalisadores. Em vez de rodar pilotos intermináveis, assumem processos de ponta a ponta. Um exemplo emblemático: uma empresa de bens de consumo reduziu de seis analistas para um funcionário apoiado por um agente o trabalho de analisar campanhas globais. Resultado em horas, não em semanas. Mas, junto com a eficiência, surge a pergunta incômoda: o que acontece com o senso de pertencimento daqueles que antes ocupavam esse espaço?
Agentes funcionam como reorganizadores de vínculos: deslocam papéis, redefinem relevâncias e forçam a renegociação de pactos coletivos.
Agentes de IA não pedem café, não fazem intervalos e não cometem distrações. Mas sua presença altera a atmosfera de trabalho. Ao assumir tarefas repetitivas, liberam tempo para atividades estratégicas. Porém, quando mal comunicada ou sem preparo, sua chegada expõe medos antigos: ser substituído, perder relevância ou não ser reconhecido.
Essa resistência não é apenas técnica, é simbólica. Mais que barreiras operacionais, ela expõe medos, pactos silenciosos e significados invisíveis que atravessam a cultura da organização. O que parece uma simples barreira operacional, na verdade revela tensões ligadas a pertencimento, identidade e ao modo como as pessoas interpretam seu papel diante da mudança.
Daí surgem sabotagens silenciosas, pactos de imobilidade e ansiedades difusas. Nas organizações que tratam o tema de forma madura, a mudança não se resume a treinamento ou comunicação clara. O que se opera é uma ressignificação simbólica: os agentes digitais deixam de encarnar o fantasma da substituição e passam a figurar como parceiros ativos, capazes de expandir fronteiras de sentido, colaboração e criação coletiva.
Para CEOs, a questão não é apenas implementar agentes de IA, mas liderar suas implicações. Isso envolve três movimentos críticos:
1. Reconfiguração de poder A chegada dos agentes de IA redistribui silenciosamente a hierarquia interna. Quem controla dados, algoritmos e fluxos de decisão passa a deter influência estratégica. Ignorar essa nova configuração abre espaço para conflitos subterrâneos e disputas de protagonismo.
2. Gestão da ansiedade coletiva O cansaço relatado por 80% dos trabalhadores não é apenas funcional; é emocional. O colega digital nunca cansa, nunca erra por distração e nunca tira férias. Esse contraste desperta sentimentos de inadequação e alimenta a ansiedade coletiva. Cabe à liderança transformar esse medo em engajamento por meio de escuta ativa, bem-estar e comunicação transparente.
3. Novos pactos simbólicos Integrar agentes como colegas exige renegociar vínculos, propósitos e valores. Não é a tecnologia que humaniza processos, mas a liderança que ressignifica papéis. O desafio é reforçar que os agentes existem para ampliar — e não reduzir — a relevância do trabalho humano.
Para muitos líderes, tem ficado claro que a verdadeira revolução não está apenas no código ou nos algoritmos, mas nas consequências invisíveis da
convivência entre humanos e colegas digitais. As maiores marcas deixadas pela introdução da IA nas empresas serão culturais e organizacionais, e não meramente técnicas.
No longo prazo, como tenho observado no Brasil e no exterior, não é a tecnologia em si que deixa o maior legado — e sim as mudanças culturais que a seguem. São elas que alteram como as pessoas trabalham, o que valorizam e como desejam ser tratadas.
A grande ilusão é acreditar que a transformação da IA se resolve no nível técnico. O que vai definir vencedores e perdedores é a capacidade de enfrentar os efeitos invisíveis: reorganizar vínculos, lidar com ansiedades e criar novos pactos coletivos.
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