O comércio global não está quebrado, apesar da interrupção, pressão e choque das tarifas comerciais introduzidas pelos EUA este ano, disse a diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) à CNBC na terça-feira (28).
“Muitas pessoas têm a impressão de que, devido às ações unilaterais dos EUA, o comércio global está quebrado. Sim, [elas] causaram uma grande perturbação — a maior perturbação do comércio global em 80 anos — mas estamos satisfeitos em ver a resiliência do sistema”, disse a Ngozi Okonjo-Iweala.
“O sistema está desgastado, machucado, mas ainda está de pé”, disse ela a Dan Murphy, da CNBC, à margem da Iniciativa de Investimento Futuro na Arábia Saudita.
Os comentários de Okonjo-Iweala ocorrem no momento em que o presidente dos EUA, Donald Trump, o arquiteto de diversas tarifas americanas sobre importações estrangeiras para os Estados Unidos, continua uma turnê pela Ásia na qual ele assinou acordos comerciais e tréguas até agora.
Mas o grande prêmio para Trump será se ele e o presidente chinês Xi Jinping, que se reunirão na quinta-feira (30), conseguirão chegar a um acordo para reduzir impostos e contratarifas sobre uma série de produtos de ambos os lados. Trump disse na segunda-feira (27) que Washington e Pequim estavam prontos para “conseguir” um acordo comercial, aumentando as esperanças do mercado.
“Nós realmente desejamos que a reunião corra muito bem”, disse Okonjo-Iweala, observando que qualquer desescalada nas tensões comerciais seria bem-vinda.
“Qualquer ameaça de desconexão e conflito entre a China e os EUA no comércio não é boa para nenhum dos países ou para o mundo. Qualquer ameaça de fragmentação ou divisão entre os dois, em dois blocos comerciais globais, levará a perdas no bem-estar global, e os países mais pobres serão mais duramente atingidos”, disse ela.
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Previsão da OMC
No início de outubro, a OMC elevou sua previsão para o crescimento do comércio global em 2025, mas alertou que a perspectiva para 2026 se deteriorou.
Apesar de prever que o crescimento do volume comercial se situaria em 2,4% este ano, uma forte alta em relação à estimativa anterior de 0,9% no relatório de agosto da entidade comercial, a OMC cortou drasticamente sua expectativa anterior de crescimento do volume comercial de 1,8% no próximo ano para um fraco 0,5%.
A OMC citou o esfriamento da economia global e o impacto de tarifas mais altas como motivo para a revisão.
As tarifas comerciais se tornaram uma característica dominante, e um headwind, para o comércio global desde que o presidente dos EUA, Donald Trump, chocou aliados e adversários com seu regime de tarifas em larga escala em abril.
Os países correram para fechar acordos comerciais com a Casa Branca, mas mesmo aliados, como o Reino Unido, viram uma tarifa base de 10% permanecer sobre as mercadorias exportadas para os EUA.
Os volumes do comércio global subiram acentuadamente no primeiro semestre de 2025 — alta de 4,9% em relação ao ano anterior — com vários fatores contribuindo para a expansão robusta.
Isso incluiu a antecipação de importações nos EUA em antecipação a tarifas comerciais mais altas, e condições macroeconômicas favoráveis com desinflação, políticas fiscais de apoio e mercados de trabalho apertados impulsionando a renda real e os gastos nas principais economias, disse a OMC.
O forte crescimento nos mercados emergentes e o aumento da demanda por bens relacionados à inteligência artificial — incluindo semicondutores, servidores e equipamentos de telecomunicações — também impulsionaram o crescimento do comércio global, acrescentou, com os gastos relacionados à IA movimentando quase metade da expansão geral do comércio no primeiro semestre do ano, subindo 20% em relação ao ano anterior em termos de valor.
A concorrência global no que diz respeito ao desenvolvimento de produtos relacionados à IA se acirrou.
A OMC observou que os EUA foram responsáveis por cerca de um quinto do crescimento do comércio global relacionado à IA no primeiro semestre de 2025. No entanto, a maior parte da expansão veio da Ásia, que foi responsável por quase dois terços do crescimento do comércio global relacionado à IA no mesmo período.
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