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Vida nas organizações Joaquim Santini

Conselhos de Administração: Do Medo à Oportunidade

Publicado 29/04/2025 • 14:24 | Atualizado há 1 dia

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Joaquim Santini

Pesquisador e Palestrante Internacional sobre a vida nas organizações.

KEY POINTS

  • Por que tantos conselhos de administração ainda abordam a tecnologia com temor, resistência ou, na melhor das hipóteses, uma postura meramente defensiva?
  • Essa deficiência estrutural gera consequências diretas e potencialmente graves. Os conselhos frequentemente ficam presos em discussões superficiais sobre segurança da informação, digitalização básica e compliance regulatório
  • É fundamental compreender que tecnologia não se resume à área de TI (Tecnologia da Informação). Quando falamos de tecnologia, estamos nos referindo a um espectro amplo que inclui biotecnologia, nanotecnologia, muito mais.

Em um mundo em acelerada transformação, governado por avanços tecnológicos que alteram radicalmente modelos de negócio e estruturas sociais, uma questão permanece urgente e perturbadora: por que tantos conselhos de administração ainda abordam a tecnologia com temor, resistência ou, na melhor das hipóteses, uma postura meramente defensiva?

É natural que os conselhos de administração encarem a transformação digital com uma certa dose de receio. Afinal, tradicionalmente, esses órgãos têm sido compostos, em sua maioria, por profissionais oriundos das esferas financeira, jurídica e administrativa. Membros com uma base sólida em ciência ou tecnologia são uma raridade nesse contexto.

Segundo levantamentos da Equilar (*), apenas pouco mais de um terço dos conselhos de companhias de capital aberto nos Estados Unidos possuem conselheiros com expertise em assuntos tecnológicos, o que representa um crescimento expressivo em comparação com os menos de 10% registrados há aproximadamente dez anos. Apesar disso, financistas, contadores, advogados e generalistas ainda constituem a vasta maioria dos integrantes dos conselhos. Em outros países, o percentual de conselheiros com know-how em tecnologia é ainda menor.

Diante desses obstáculos, é imperativo que os conselhos se adaptem. Isso pode implicar na incorporação de mais membros com background científico e tecnológico, assim como na instituição de comitês dedicados à inovação e à transformação digital. Ademais, os conselheiros devem abraçar a ideia de aprendizado contínuo, buscando se manter constantemente atualizados acerca das tendências e evoluções mais recentes em seus respectivos setores.

Apenas por meio de um empenho coordenado para elevar a fluência tecnológica e científica, os conselhos de administração estarão aptos a exercer, de maneira efetiva, seu papel de liderança estratégica na economia digital do século XXI. Esse esforço requer não somente uma mudança na composição dos conselhos, mas também uma transformação cultural, na qual a abertura para novas ideias e a disposição para o aprendizado constante se tornem valores fundamentais.

Portanto, é hora de os conselhos de administração abraçarem, de forma decidida, a transformação digital. Ao fazer isso, eles não apenas cumprirão seu dever fiduciário de proteger os interesses de longo prazo das empresas que governam, mas também pavimentando o caminho para um futuro mais inovador, dinâmico e próspero.

Essa deficiência estrutural gera consequências diretas e potencialmente graves. Os conselhos frequentemente ficam presos em discussões superficiais sobre segurança da informação, digitalização básica e compliance regulatório. Esses temas são críticos, certamente, mas representam apenas a ponta de um iceberg muito maior. Ao evitar mergulhar profundamente nas oportunidades e implicações das novas tecnologias—como ciências climáticas, genética avançada, blockchain, inteligência artificial e materiais inovadores—esses órgãos desperdiçam imensas oportunidades estratégicas.

Além disso, essa resistência não é apenas cognitiva ou técnica, mas emocional e relacional. Muitos conselhos operam em dinâmicas que inibem o pensamento criativo, o enfrentamento do conflito e a escuta genuína entre seus membros. Os vínculos estabelecidos entre os participantes muitas vezes se estruturam a partir de pactos implícitos de preservação da estabilidade e do status quo, mesmo quando a realidade externa clama por transformação radical. A inovação, nesses contextos, pode ser vivida não como oportunidade, mas como ameaça à coesão do grupo.

É fundamental compreender que tecnologia não se resume à área de TI (Tecnologia da Informação). Quando falamos de tecnologia, estamos nos referindo a um espectro amplo que inclui biotecnologia, nanotecnologia, engenharia de materiais, ciências espaciais, neurociência aplicada, algoritmos de linguagem natural, gêmeos digitais, impressão 3D, e muito mais. São inovações que atravessam indústrias, redefinem fronteiras entre setores e criam novas formas de gerar valor. Reduzir a discussão sobre tecnologia à manutenção de sistemas ou segurança cibernética é ignorar os motores centrais da próxima onda de crescimento.

O momento atual é marcado por rupturas tecnológicas constantes e radicais. A velocidade da inovação exige que conselhos se posicionem não apenas como guardiões de riscos, mas como agentes ativos da transformação estratégica das suas organizações. É preciso jogar no ataque, antecipando tendências tecnológicas e explorando seu potencial muito antes dos concorrentes.

Para isso, surge uma alternativa eficaz e necessária: a criação dos comitês de tecnologia dentro dos conselhos. Estes comitês não devem se limitar a monitorar riscos, mas sim atuar como catalisadores estratégicos, buscando ativamente oportunidades que estejam alinhadas às competências fundamentais e futuras das empresas.

Esses comitês devem ser compostos por indivíduos com formação técnica robusta, porém capazes de fazer conexões interdisciplinares e comunicar claramente as implicações estratégicas aos demais membros do conselho. É necessário um equilíbrio delicado entre profundidade técnica e visão de negócios, possibilitando uma discussão que transcenda o superficial e o reativo.

O papel do comitê de tecnologia é também pedagógico: precisa constantemente educar o conselho sobre novas tendências tecnológicas e suas implicações práticas e estratégicas. Sessões regulares com especialistas externos, visitas a centros de inovação tecnológica e encontros informais com startups inovadoras devem ser práticas regulares desses comitês. Afinal, é essencial que os membros do conselho tenham uma compreensão viva e atualizada sobre as forças que moldarão o futuro próximo de suas organizações.

Mas isso só será possível se o conselho também for capaz de olhar para si mesmo, para os medos não ditos, para as defesas coletivas que se constroem contra o novo. A resistência à tecnologia, muitas vezes, é apenas a expressão visível de um mal-estar mais profundo: o desconforto com o desconhecido, com a perda de controle, com a diluição de saberes estabelecidos. O conselho que não investe na análise de suas próprias dinâmicas internas corre o risco de sabotar, inconscientemente, as transformações que verbalmente declara desejar.

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Outra atribuição fundamental é a capacidade de identificar e priorizar quais tecnologias emergentes têm potencial para impactar significativamente o negócio nos próximos anos. Aqui, é crucial desenvolver uma metodologia clara e objetiva que classifique tecnologias de acordo com maturidade, proximidade das áreas estratégicas da empresa e horizonte de tempo para viabilidade prática e comercial.

Além disso, a abordagem estratégica dos comitês de tecnologia precisa evoluir de forma consciente para incentivar a inovação aberta. Os conselhos devem compreender que o futuro não será construído exclusivamente dentro das paredes de suas organizações, mas através de ecossistemas de colaboração externos. Centros de inovação, startups e instituições acadêmicas se tornam parceiros fundamentais nessa jornada.

Ao promover uma abordagem proativa e estruturada em relação à tecnologia, os conselhos assumem um papel mais dinâmico e influente. Não se trata apenas de defender o valor presente das organizações, mas também de construir, intencionalmente, o valor futuro. A governança tecnológica é uma responsabilidade estratégica, e a inovação deve ser compreendida como uma função vital do conselho.

Essa governança, no entanto, não pode ignorar a subjetividade das relações que sustentam o funcionamento dos conselhos. A maneira como se decidem prioridades, se acolhem divergências ou se escolhem silêncios diz tanto sobre a estratégia quanto os relatórios financeiros. Compreender os bastidores emocionais e simbólicos que moldam o comportamento coletivo dos conselhos é um diferencial competitivo tão importante quanto dominar o ciclo de vida de uma tecnologia emergente.

Por fim, cabe uma reflexão: em um mercado global extremamente competitivo, onde mudanças profundas ocorrem em uma velocidade inédita, será que os conselhos podem mesmo se dar ao luxo de permanecer em uma posição passiva frente à tecnologia? A resposta parece clara. Empresas que adotam uma visão estratégica da tecnologia, alinhada com a governança corporativa, não apenas sobrevivem às mudanças – elas as lideram.

A criação e fortalecimento dos comitês de tecnologia não é mais opcional. É um imperativo estratégico, um passo essencial para assegurar relevância, competitividade e liderança em um futuro que já começou.

(*) A Equilar é uma empresa de consultoria e pesquisa com sede nos Estados Unidos, especializada em fornecer dados e análises sobre práticas de governança corporativa, remuneração executiva e composição de conselhos de administração.

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