O dólar taiwanês recuou nesta terça-feira após uma alta histórica que o fez registrar ganhos de várias décadas em meio a especulações sobre a pressão de Washington para fortalecer a moeda local.
A moeda caiu mais de 3% em relação ao dólar americano na terça-feira, após uma alta meteórica de 9% nos dois pregões anteriores, atingindo máximas de três anos e registrando seus maiores ganhos diários na segunda-feira desde pelo menos 1981, de acordo com dados do LSEG.
Apesar da fraqueza desta terça-feira, o dólar taiwanês continua mais de 8% acima do dólar este ano, enquanto o índice do dólar americano está em baixa no mesmo período do ano.
“Estamos vendo movimentos cambiais mais [voláteis] do que vimos durante a crise financeira asiática”, disse David Chao, estrategista de mercado global da Invesco.
As recentes oscilações dramáticas de alta na moeda foram na maioria motivadas pela pressa dos exportadores em converter as reservas em dólares americanos para a moeda local, à medida que o dólar americano vacilava, e as seguradoras de vida intensificaram a proteção de suas dívidas em dólares americanos, disseram especialistas.
As seguradoras de vida taiwanesas estão entre as maiores detentoras de títulos dos EUA na Ásia e têm posições em dólares americanos enormes e sub-hedgeadas, de acordo com analistas de mercado.
Investidores estão monitorando de perto o banco central taiwanês, já que sua “ausência notável” alimentou especulações de que as autoridades estariam tolerando uma moeda mais forte para obter concessões comerciais dos EUA, disse Stefan Angrick, chefe de Economia do Japão e Mercados de Fronteira da Moody’s Analytics. “O banco central tem se mostrado excepcionalmente inativo em meio ao aumento dos volumes de câmbio.”
O governador Yang Chin-long afirmou em uma coletiva de imprensa na segunda-feira que o banco central de Taiwan interveio para conter o que considerou entradas “excessivas”, ao mesmo tempo, em que refutou as alegações de que as taxas de câmbio faziam parte da negociação comercial com os EUA. Ele não entrou em detalhes sobre a natureza da intervenção.
Apesar da negação oficial, as taxas de câmbio podem “estar discretamente em pauta nas negociações comerciais mais amplas entre EUA e Taiwan”, diz Angrick. O presidente Donald Trump defendeu um dólar mais fraco para impulsionar a competitividade das exportações dos EUA.
Analistas também estão amplamente céticos em relação a qualquer intervenção significativa do banco central até o momento. O dólar taiwanês já atingiu o limite superior da faixa de monitoramento do banco central, disse Chao, da Invesco. “Se o banco central continuar recuando, isso pode ser um sinal do mercado de que um realinhamento cambial silencioso está em andamento.”
A retração desta terça-feira deveu-se principalmente à demanda de retorno do dólar pelos importadores, de acordo com Michael Wan, estrategista de câmbio do MUFG Bank, que acredita que o banco central não interveio “de forma muito agressiva”.
Separadamente, a comissão de supervisão financeira de Taiwan teria realizado reuniões com algumas das maiores seguradoras da ilha para avaliar os riscos que uma desvalorização do dólar representa para seus ativos em títulos americanos. Três seguradoras afirmaram que seu capital baseado em risco permanece dentro dos padrões regulatórios, segundo o Economic Daily News, de Taipei.
Analistas veem espaço para mais ganhos em moedas asiáticas, incluindo o dólar taiwanês, apostando que as tarifas de Trump podem ter um efeito contrário à economia americana e que sinais de progresso nas negociações comerciais entre EUA e China podem reavivar os fluxos comerciais na região, apoiando a demanda por ativos asiáticos.
“O impulso por trás da força do TWD pode ter força se a narrativa mais ampla de desescalada se mantiver, [e] se a implicação tarifária no crescimento se mostrar mais administrável do que se temia”, disse Christopher Wong, estrategista cambial do OCBC Bank. “Um TWD mais determinado pelo mercado pode ser útil durante as negociações comerciais.”
Autoridades de alto escalão dos EUA, incluindo o Secretário do Tesouro Scott Bessent, têm se mostrado recentemente mais otimistas quanto às perspectivas de um acordo comercial com a China. Pequim também sinalizou, na semana passada, sua abertura para iniciar negociações comerciais com Washington.
Além do dólar taiwanês, outras moedas asiáticas também se recuperaram nas últimas semanas, com a desvalorização do dólar americano. O yuan offshore chinês atingiu a máxima de seis meses de 7,1834 em relação ao dólar na segunda-feira, antes de reduzir parte dos ganhos na terça-feira.
“Moedas com os maiores superávits comerciais estão mais expostas aos temores de um ‘Acordo Plaza 2.0’, e o TWD está no topo dessa lista”, diz Ju Wang, chefe de câmbio e taxas da Grande China no BNP Paribas.
O Acordo da Praça se refere a um acordo assinado em 1985, quando os países do G5 concordaram em desvalorizar o dólar americano em relação ao marco alemão e ao iene japonês para resolver desequilíbrios comerciais.
Exportadores sob pressão
A forte valorização do dólar taiwanês aumentou a pressão sobre o setor de tecnologia da ilha, que prioriza a exportação, já que uma moeda local mais forte torna os produtos mais caros para compradores estrangeiros, reduzindo sua competitividade.
As ações da Taiwan Semiconductor Manufacturing Co caíram pelo segundo dia consecutivo, com uma perda de quase 2% nesta terça-feira.
Estima-se que cada ponto percentual de valorização do dólar taiwanês reduza a margem operacional da TSMC em aproximadamente 0,4 ponto percentual, afirmou Brady Wang, Diretor Associado da Counterpoint Research. Uma moeda local mais forte reduz o valor de sua receita cotada em dólar americano, e a maior parte das operações da TSMC está localizada em Taiwan.
A maior fabricante de chips terceirizada do mundo divulgou sua previsão de lucros para o segundo trimestre, partindo do pressuposto de uma taxa de câmbio USD/TWD de 32,5.
“Os fabricantes locais de chips e eletrônicos, que ganham a maior parte de sua receita em dólares americanos, sentirão o aperto, pois esses ganhos se traduzirão em menos dólares locais”, afirma Angrick.
Mas a forte demanda global por chips ainda pode amortecer o golpe, acrescentou Angrick, observando que o boom da inteligência artificial e a pressão por chips avançados continuarão a fazer de Taiwan um fornecedor essencial com poucos concorrentes próximos.
Muitos exportadores também parecem bem protegidos. A TSMC, por exemplo, contabiliza receitas e custos principalmente em dólares, enquanto outros dependem de contratos de câmbio ou cláusulas de ajuste de preços, diz Phelix Lee, analista de ações que cobre empresas de tecnologia.
As ações da Taiwan Semiconductor Manufacturing Co caíram pelo segundo dia consecutivo nesta terça-feira, com perda de quase 2%, enquanto as da Hon Hai Precision Industry Co subiram 2,5%.
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Este conteúdo foi fornecido pela CNBC Internacional e a responsabilidade exclusiva pela tradução para o português é do Times Brasil.
