PEQUIM — Alibaba, Tencent e JD.com relataram lucros esta semana que não apenas refletiram a melhora nos gastos do consumidor chinês, mas também os crescentes benefícios da inteligência artificial na publicidade.
Gigante do comércio eletrônico, Alibaba disse na quinta-feira à noite que as vendas dos grupos Taobao e Tmall aumentaram 9% em relação ao ano anterior, para 101,37 bilhões de yuans (US$ 13,97 bilhões) nos três meses encerrados em 31 de março.
Isso está acima dos 97,94 bilhões de yuans previstos por uma pesquisa de analistas da FactSet, e o número de crescimento trimestral ficou bem acima do aumento de 3% do segmento no período de 12 meses encerrado em 31 de março.
“As receitas de comércio eletrônico e anúncios foram surpresas positivas, pois havia expectativas de que as tarifas afetariam o comportamento do consumidor”, disse Kai Wang, estrategista de mercado de ações da Ásia na Morningstar, em um e-mail sobre os resultados de lucros das três empresas.
É importante observar que os comunicados de resultados abrangem apenas o período anterior à escalada das tensões entre EUA e China em abril, com novas tarifas de mais de 100% sobre produtos de ambos os países — um embargo comercial efetivo. Os dois países emitiram um raro comunicado conjunto na segunda-feira, anunciando uma redução de 90 dias na maioria das tarifas recentemente adicionadas.
A disputa comercial entre EUA e China desde abril afetou negativamente o consumo em certa medida, devido ao aumento da incerteza para pequenas e médias empresas, disse Charlie Chen, diretor-gerente e chefe de pesquisa para a Ásia da China Renaissance Securities, na sexta-feira. Ele espera que, à medida que as tensões comerciais diminuam, o consumo aumente.
Mas, apesar do consumo fraco em geral, as vendas de certos eletrônicos e eletrodomésticos tiveram um bom desempenho desde o ano passado, graças aos subsídios de troca da China para apoiar esses gastos do consumidor.
A JD.com anunciou na terça-feira (13) que suas vendas nessa categoria aumentaram 17% em relação ao ano anterior. No geral, a empresa de comércio eletrônico relatou um aumento de 16,3% na receita de seus negócios de varejo, para 263,85 bilhões de yuans, no trimestre encerrado em 31 de março. Esse número foi superior aos 226,84 bilhões de yuans em vendas no segmento de varejo previstos por uma pesquisa da FactSet.
Na quarta-feira (14), a Tencent disse que seu segmento de “fintech e serviços empresariais”, um proxy para transações comerciais relacionadas ao consumidor, relatou um aumento de receita de 5% ano a ano para 54,9 bilhões de yuans no primeiro trimestre.
Embora os analistas da Nomura tenham dito que o crescimento da receita do segmento estava em linha com as estimativas, eles ressaltaram em uma nota que “os anúncios da Tencent tiveram um grande desempenho superior no setor de anúncios chinês, apesar do ambiente macro desafiador”.
A receita de serviços de marketing da Tencent aumentou 20%, para 31,9 bilhões de yuans, impulsionada pela “forte demanda dos anunciantes” por vídeos curtos e outros conteúdos em seu aplicativo de mídia social WeChat. A Tencent destacou “atualizações contínuas de IA” em sua plataforma de publicidade.
IA impulsiona anúncios
A IA ajuda a Tencent a elevar suas taxas de cliques — uma medida de sucesso para anúncios online — para quase 3%, informou a diretoria da empresa em uma teleconferência de resultados na quarta-feira, de acordo com uma transcrição da FactSet. Isso representa um aumento significativo em relação à taxa de cliques histórica de 0,1% para anúncios em banner e cerca de 1% para anúncios em feed, informou a empresa.
A média mensal combinada de usuários do WeChat, conhecido como Weixin na China, ultrapassou 1,4 bilhão no primeiro trimestre pela primeira vez. O aplicativo oferece um dos dois principais sistemas de pagamento móvel usados na China continental.
Muitas cafeterias e varejistas online também usam miniaplicativos no WeChat para que os clientes façam pedidos. A Tencent anunciou na quinta-feira (15) que suas operações de e-commerce cresceram tanto que agora são uma nova unidade dentro do WeChat.
“Anúncios com IA melhoram a eficiência e o algoritmo, o que deve se traduzir em uma melhor segmentação para os consumidores, mesmo que as condições macro não sejam ideais”, disse Wang, da Morningstar. “Ainda é um pouco cedo para quantificar o benefício incremental que os anúncios com IA trazem em comparação com anúncios sem IA, mas já observamos alguma monetização com anúncios baseados em IA.”
A JD disse que suas receitas de marketing aumentaram 15,7%, para 22,32 bilhões de yuans no trimestre, também atribuindo parcialmente esse aumento às ferramentas de IA.
Em uma teleconferência de resultados na terça-feira, a diretoria da JD afirmou que sua equipe de pesquisa e desenvolvimento de publicidade está utilizando modelos de linguagem de grande porte para melhorar as taxas de conversão de anúncios e acelerar o crescimento da receita publicitária. A empresa acrescentou que está implementando ferramentas de IA que permitem aos comerciantes “executar campanhas publicitárias complexas” com um simples comando.
Há muito tempo, os anunciantes buscam maneiras de direcionar anúncios aos consumidores com maior probabilidade de fazer uma compra.
Na quarta-feira, o YouTube anunciou que os anunciantes podem usar o modelo de IA Gemini do Google para direcionar anúncios aos espectadores quando eles estão mais envolvidos com um vídeo.
O Alibaba observou que a receita de marketing, que chama de “gerenciamento de clientes”, cresceu 12% ano a ano, para quase US$ 10 bilhões, graças em parte ao aumento do uso da ferramenta de IA da empresa para aumentar a eficiência de marketing dos comerciantes, o Quanzhantui.
Perspectiva incerta
No entanto, o lucro geral do Alibaba foi apenas cerca de metade do que os analistas haviam previsto, fazendo com que as ações caíssem quase 7,6% no pregão subsequente nos EUA.
A China deve divulgar os dados de vendas no varejo de abril na segunda-feira. Analistas consultados pela Reuters preveem um aumento de 5,5% nas vendas no varejo em abril, em relação ao mesmo período do ano passado, ligeiramente abaixo do crescimento de 5,9% registrado em março.
Uma pesquisa do Morgan Stanley realizada de 8 a 11 de abril, imediatamente após a escalada das tensões entre EUA e China, revelou que a confiança do consumidor caiu para o menor nível em 2,5 anos, e 44% dos entrevistados estavam preocupados com a perda de empregos — o maior índice desde 2020, quando a pesquisa começou. Apenas 23% dos consumidores esperam gastar mais no próximo trimestre, revelou a pesquisa, uma queda de 8 pontos percentuais em relação ao trimestre anterior.
A fraca demanda interna persistiu em abril, com uma queda de 0,1% no índice de preços ao consumidor (IPC) em relação ao mesmo período do ano anterior — o terceiro mês consecutivo de queda. No entanto, excluindo os preços de alimentos e energia, o chamado núcleo do IPC subiu 0,5%, o mesmo ritmo de março.
Como o mercado imobiliário ainda não se recuperou e as exportações estão restritas pela geopolítica, Chen espera que os formuladores de políticas chineses se concentrem em impulsionar o consumo para atingir a meta de crescimento do ano de cerca de 5%.
Ele espera que as políticas de estímulo relacionadas incluam o aumento dos gastos com alimentos e bebidas, cuidados, viagens, esportes e bens duráveis ainda não incluídos no programa de subsídios de troca.
O dia 18 de junho marca a próxima grande temporada promocional de compras na China.
“Acho que vamos conseguir uns bons 618. Agora, obviamente, não estamos mais lidando com um crescimento anual de 30% como nos primeiros 10 anos” do festival de compras, disse Jacob Cooke, cofundador e CEO da WPIC Marketing + Technologies, à CNBC no início desta semana. A empresa ajuda marcas estrangeiras — como Vitamix e IS Clinical — a vender online na China e em outras partes da Ásia.
Ele prevê que o crescimento das vendas do 618 aumentará em “dois dígitos muito baixos”.
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Este conteúdo foi fornecido pela CNBC Internacional e a responsabilidade exclusiva pela tradução para o português é do Times Brasil.
