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O BRICS cresceu, mas está longe de aparecer
Publicado 09/07/2025 • 18:45 | Atualizado há 18 horas
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Publicado 09/07/2025 • 18:45 | Atualizado há 18 horas
Carlos Drummond de Andrade, no seu famoso Poema de Sete Faces, declamou na sexta estrofe: “Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução”. Buscava refletir o quanto o ser humano - o poeta Drummond - era pequeno em relação aos problemas do mundo, e que fazer poesia não era solução para nenhum deles.
Em 2001, Jim O’Neil, então economista da Goldman Sachs, inventou o acrônimo BRIC (originalmente sem o S final, que veio a aparecer depois, com a inclusão da África do Sul). O’Neill não pretendia arriscar nenhuma rima, mas acabou apontando para uma solução - além de uma espetacular sacada de marketing. Isoladamente, os países que compunham a sigla eram pouco representativos, pequenos como Drummond talvez se sentisse em relação aos problemas do mundo. Juntos, entretanto, formavam um bloco que poderia, sim, fazer parte de alguma solução.
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Naquele momento, Brasil, Rússia, Índia e China estavam na crista da onda do crescimento mundial. O’Neil basicamente previu, no texto intitulado “Building Better Global Economic BRICs” (note o “s” em letra minúscula) ou, em tradução livre, “Construindo Melhores ‘Tijolos’ Econômicos Globais” que, na próxima década, os quatro países representariam cerca de ¼ do PIB mundial e que, juntos, teriam força o suficiente para influenciarem políticas econômicas e fiscais a nível global. O’Neil e seus colegas, entre eles o economista brasileiro Paulo Leme, argumentavam que o G7 deveria ser repensado para incluir representantes desse novo bloco de países em desenvolvimento.
Passaram-se 24 anos e o bloco, que já não era rima, deixou de ser solução.
Ao longo desse tempo os quatro países originais foram angariando novos adeptos, o primeiro deles a África do Sul, até o bloco tornar-se hoje uma associação informal de onze países - com mais nove batendo à porta.
À primeira vista, é uma associação poderosa. Desde a sua criação, as negociações comerciais entre os integrantes do grupo intensificaram-se de maneira significativa e representam, hoje, 40% do comércio mundial. Juntos, os onze países do bloco estão entre os maiores compradores e fornecedores globais de energia e, segundo o Boston Consulting Group, representam cerca de 32% da produção mundial de gás natural e 43% da produção mundial de petróleo. Não é trivial.
Muitos deles ainda vêm crescendo suas economias de maneira importante, com destaque, claro, para a China, mantendo válida a hipótese desenhada por O’Neil em 2001.
Apesar do poder aparente que o grupo representa, ela ainda não conseguiu afirmar-se de maneira razoavelmente efetiva. Basta entrar no site do bloco: não há, expostos de maneira clara, propósitos e objetivos comuns, como seria esperado. Uma das chamadas principais do site remete a um artigo do jornal inglês “The Guardian” criticando a divisão e o desequilíbrio do bloco. O jornal destaca a importância relativa da China em relação aos outros membros e ressalta o não comparecimento do presidente chinês na cúpula realizada na semana passada no Rio de Janeiro. Em completo contraste, basta entrar no site do G7 - hospedado, em 2025, pelo Canadá – e o leitor descobre uma série de iniciativas nos campos de paz e segurança, imigração, proteção ambiental, energia etc.
Da maneira como se encontra, o BRICS + está muito longe de ser um grupo coeso. Os países são muito distintos em vários aspectos, tanto nos campos político e institucional, quanto nos campos econômico e cultural. Na sua formação original, já era um desafio relevante manter nações como Índia e China juntas. Agora, além disso, é necessário conciliar a Arábia Saudita e o Irã, além de vários outros conflitos regionais e econômicos.
Uma das pautas, liderada pelo Brasil do presidente Lula, é eliminar a hegemonia do dólar no comércio mundial. A motivação pareceria lógica, dado que o comércio entre os países do bloco é relevante e mais de 90% dele é feito na moeda americana.
Apesar da boa intenção, porém, nenhum dos integrantes do bloco possui uma moeda que possa ser considerada como reserva de valor. Donald Trump ameaçou qualquer tentativa de atacar o dólar com tarifas aduaneiras adicionais de 10%, mas acredito que ele não precise se preocupar demais com isso: para que qualquer iniciativa possa avançar seria preciso, primeiro, que os membros do grupo confiem em si mesmos, dialoguem entre si e defendam as suas próprias moedas.
Há um sábio ditado popular que descreve bem a situação atual do BRICS +: “o cachorro que tem muitos donos morre de fome”. Da maneira que está, o bloco tende a ter o mesmo fim do cachorro.
Drummond, se fosse apresentado ao tema, responderia, desta vez, com um soneto: “Perdi o bonde e a esperança. Volto pálido para casa. A rua é inútil e nenhum auto passaria sobre meu corpo”.
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