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Gianetti: ‘terras raras levam EUA ao desespero’; Brasil tem papel estratégico

Publicado 16/10/2025 • 21:50 | Atualizado há 2 dias

KEY POINTS

  • Encontro entre Mauro Vieira e Marco Rubio marca retomada do diálogo comercial Brasil–EUA e abre caminho para revisão do tarifaço.
  • Economista Roberto Gianetti alerta que a reversão das tarifas pode levar meses e exige estratégia e paciência diplomática.
  • Terras raras são o ponto mais sensível e estratégico: Brasil tem grande potencial, mas depende de investimento em pesquisa e tecnologia de refino.

O recente encontro entre o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o secretário de Estado estadunidense, Marco Rubio, marcou o início de uma nova etapa nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos. A avaliação é do economista Roberto Gianetti, ex-secretário de Comércio Exterior, que vê no diálogo “o primeiro passo de muitos” em direção à reversão ao tarifaço imposto por Washington a produtos brasileiros.

Segundo Gianetti, o processo será demorado. “Não vai ser uma conversa fácil nem simples. Isso ainda deve se estender até o final do ano, ou talvez até o início do próximo, até chegarmos a uma solução consensual”, avaliou. Para ele, a retomada do diálogo é positiva, mas o Brasil precisa agir com estratégia: “Paciência para fazer bem feito, porque fazer mal feito é fácil.”

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Perde-perde comercial: o custo do protecionismo

As tarifas impostas pelos Estados Unidos, que chegaram a 50% em alguns setores, são consideradas prejudiciais para ambos os lados. Gianetti lembra que, na prática, “quem paga é o consumidor americano”. O aumento dos preços de produtos importados do Brasil reduz o consumo nos EUA e afeta as exportações brasileiras.

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Tarifas estadunidenses revelam tensões comerciais, mas também oportunidades de parceria em tecnologia e recursos naturais.

“O café é um exemplo clássico”, disse o economista. “Eles não podem prescindir do café brasileiro, essencial para o blend produzido lá. Só que, com a tarifa, o produto fica mais caro e o consumo cai. É um problema de interesse mútuo: o tarifaço não interessa a ninguém.”

Apesar dos efeitos negativos, Gianetti acredita que os Estados Unidos saem mais prejudicados. “É um tiro no pé. Eles não vão conseguir transferir a indústria e ainda vão encarecer o custo de vida do próprio consumidor. Para o Brasil, há a chance de redirecionar exportações a outros mercados, algo que já vem ocorrendo”, observou.

Terras raras: o ponto de maior tensão

Mas é no campo dos minerais críticos, conhecidos popularmente como terras raras, que Gianetti vê o fator mais sensível para os Estados Unidos — e a maior oportunidade estratégica para o Brasil. “Esse é o tema que leva os Estados Unidos ao desespero”, declarou.

Esses minerais são essenciais para indústrias de defesa, aeroespacial, tecnológica e de energia limpa, e a dependência global da China nesse setor é vista como uma vulnerabilidade crescente. Segundo Gianetti, há um mito sobre a abundância brasileira: “O Brasil não tem reservas comprovadas, tem indícios. São reservas inferidas, não medidas. Precisamos investir pesado em pesquisa geológica”, explicou o especialista. “Temos poder de barganha; não estamos mortalmente feridos”, acrescentou.

Mesmo assim, o potencial é enorme. O economista destaca que apenas uma mina de terras raras está em operação no país, a Serra Verde, mas o concentrado extraído precisa ser processado na China, pois nem o Brasil, nem os Estados Unidos dominam a tecnologia de refino.

“Precisamos investir juntos. A China não é mais inteligente, apenas investiu mais. O Brasil e os EUA podem desenvolver tecnologia de processamento e refino para competir em pé de igualdade”, afirmou.

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Etanol é um dos temas centrais das negociações; Gianetti propõe acordo de tarifas simétricas e retomada do projeto binacional iniciado em 2007.

Etanol no centro da disputa

Entre os temas mais sensíveis das negociações está o etanol, produto em que Brasil e Estados Unidos são protagonistas globais. Atualmente, a tarifa brasileira é de 18%, e o tema deve ganhar peso na mesa diplomática.

Para Gianetti, há espaço para cooperação. “Se for para reduzir a tarifa, que seja igual para os dois países, na faixa de 12% a 15%, com cotas proporcionais”, sugeriu. Segundo ele, a disputa bilateral deve dar lugar a um projeto conjunto de criação de um mercado internacional de etanol, retomando um plano firmado em 2007 entre os presidentes George W. Bush e Luiz Inácio Lula da Silva, em parceria com a Petrobras e empresas estadunidense.

“Isso nunca foi feito. Precisamos recuperar esse documento e colocar novamente na mesa. O Brasil e os Estados Unidos juntos podem criar dezenas de bilhões de dólares em exportações adicionais, em vez de brigar por fatias de um mesmo mercado”, afirmou.

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Diplomacia à prova

Na visão de Gianetti, o governo brasileiro falhou ao não agir preventivamente. “Desde abril sabíamos que a conversa estava esquentando. Quando a primeira lista veio com apenas 10% de tarifa, foi até uma boa surpresa. Deveríamos ter começado ali um diálogo construtivo. Ficamos calados — e depois veio o aumento para 50%”, explica o economista.

Apesar disso, o economista vê espaço para correção de rumo. “O mal está feito, eles erraram e nós erramos também, mas ainda dá tempo de consertar sem grandes danos para os dois países”, afirmou.

Investimento, tecnologia e celeridade

Gianetti também chama atenção para os entraves internos. “A reserva debaixo do solo, intocável, não vale nada. O que adianta olhar para a montanha e dizer ‘aqui há uma fortuna’? É preciso transformar isso em riqueza real.”

Ele defende agilidade nos processos de licenciamento ambiental e mineral, com prazos claros de até um ano. “Ficar três ou quatro anos esperando uma licença mata qualquer investimento”, alerta.

Além disso, cita a necessidade de linhas de crédito e políticas públicas específicas para o setor mineral, hoje ainda em estágio incipiente. “O mundo precisa dessas reservas. Não podemos ficar sentados sobre elas, em berço esplêndido. É agora que precisamos agir.”

Nova geopolítica dos recursos

Para o economista, a crise tarifária pode ter um efeito positivo ao “jogar luz sobre um tema que o Brasil vinha negligenciando”. A disputa comercial, diz ele, revela uma oportunidade para o país reposicionar-se como fornecedor estratégico de minerais críticos e energia limpa, em um cenário global cada vez mais competitivo.

“Colocou-se o bode na sala”, resumiu Gianetti. “Agora temos que resolver — não daqui a dez ou quinze anos, mas agora.”

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