Papa Francisco, o primeiro pontífice das Américas, morre aos 88 anos

Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, faleceu aos 88 anos às 2h35 (horário de Brasília) e 7h35 (horário local) desta segunda-feira (21). O anúncio foi feito pelo Vaticano. O pontífice exerceu sua liderança à frente da Igreja Católica por 12 anos.

O Camerlengo da Câmara Apostólica, cardeal Kevin Joseph Farrell, fez o comunicado da capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, com as seguintes palavras:

“Caríssimos irmãos e irmãs, é com profundo pesar que anuncio a morte de nosso Santo Pai Francisco. Às 7h35 desta manhã, o Bispo de Roma, Francisco, retornou à Casa do Pai. Sua vida foi inteiramente dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja. Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados. Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso de Deus Uno e Trino”.

O Papa estava em Roma, na Casa Santa Marta, onde havia sido transferido após sua internação.

No dia anterior (20), Domingo de Páscoa, o pontífice apareceu na sacada da Basílica de São Pedro para a mensagem Urbi et Orbi de Páscoa, e deixou sua última mensagem para o mundo. No mesmo dia ele também havia se encontrado com o vice-presidente dos EUA, JD Vance.

O corpo do Papa Francisco será colocado em um caixão na capela da residência de Santa Marta, onde ele morava, às 20h (15h no horário de Brasília) desta segunda-feira, informou o Vaticano.

O papa estava com a saúde debilitada desde fevereiro e foi internado no Hospital Policlínico Agostino Gemelli em 14 de fevereiro de 2025 com bronquite. Em 21 de fevereiro, sua equipe médica informou que ele estava lutando contra pneumonia em ambos os pulmões — além de infecções bacterianas, virais e fúngicas, somadas à bronquite crônica.

Francisco deixou o hospital e retornou à sua residência no Vaticano após 38 dias. Espera-se que ele seja sepultado na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma.

O sucessor de Francisco será escolhido durante um conclave, uma reunião do Colégio de Cardeais encarregados de eleger o próximo papa.

O Papa argentino

Papa Francisco foi um jesuíta argentino que se tornou o primeiro pontífice católico romano das Américas e o primeiro do Hemisfério Sul. Francisco também foi o primeiro escolhido de fora da Europa para liderar a igreja em quase 1.300 anos.

Papa Francisco, o jesuíta argentino que se tornou o primeiro pontífice católico romano das Américas, faleceu, informou o Vaticano na segunda-feira. Ele tinha 88 anos. Francisco, que foi eleito o 266º papa da igreja após a aposentadoria de Bento XVI em 2013, nasceu como Jorge Mario Bergoglio no bairro de classe média de Flores em Buenos Aires, em 17 de dezembro de 1936.

Ele foi o primeiro papa jesuíta e o primeiro papa do Hemisfério Sul. Foi o primeiro escolhido de fora da Europa para liderar a igreja em quase 1.300 anos, após o Papa Gregório III da Síria, escolhido em 731.

Vida e trajetória de Francisco

Filho de um pai imigrante italiano e de uma mãe ítalo-argentina, Francisco era o mais velho de cinco irmãos. Como estudante, trabalhou como faxineiro e segurança de boate antes de se tornar técnico em química. Francisco foi ordenado sacerdote jesuíta em 1969 e se tornou chefe da ordem da Companhia de Jesus na Argentina e no Uruguai em 1973, aos 36 anos, permanecendo no cargo até 1979.

O Papa João Paulo II nomeou Francisco como bispo em 1992, e seis anos depois Francisco se tornou arcebispo de Buenos Aires. Em 2001, João Paulo o fez cardeal.

‘Todos, todos, todos!’

Francisco presidiu a Igreja Católica durante um período de tensão crescente. Em 2021, bispos dos Estados Unidos elaboraram uma proposta que negaria a comunhão ao recém-eleito presidente Joe Biden por seu apoio aos direitos ao aborto. A votação da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA para elaborar o plano ocorreu apesar das objeções do principal conselheiro doutrinário do papa, o cardeal Luis Ladaria.

Mais de dois meses depois, o próprio Francisco deu uma forte indicação de sua oposição à proposta dos bispos dos EUA, dizendo aos jornalistas: “A comunhão não é um prêmio para os perfeitos.” “Nunca recusei a eucaristia a ninguém”, disse o papa, convocando os bispos a serem pastores, não políticos. “O que deve o pastor fazer?”, continuou. “Seja um pastor, não saia condenando. Seja um pastor, porque ele também é um pastor para os excomungados.” Mas ele também afirmou firmemente sua oposição ao aborto, chamando-o de “homicídio.” “Quem faz um aborto mata,” afirmou.

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Ainda que Francisco se esforçasse para evitar uma escalada nas guerras culturais e uma polarização de seus fiéis, ofereceu palavras de encorajamento aos católicos LGBTQ+. Enquanto voltava para Roma de Portugal em agosto de 2023, ele disse aos jornalistas que a Igreja Católica estava aberta a todos e que tinha o dever de acompanhar as pessoas em seu caminho espiritual pessoal dentro do quadro de suas regras. Durante um evento em Portugal, Francisco destacou a natureza inclusiva da igreja ao liderar uma multidão em um coro de “Todos, todos, todos!” (Todos, todos, todos!).

Ele encerrou 2023 dizendo que sacerdotes poderiam abençoar casais do mesmo sexo, uma mudança significativa na política do Vaticano. O papa afirmou que essas bênçãos não deveriam se assemelhar a casamentos, mas que as pessoas que buscam o amor e a misericórdia de Deus não devem estar sujeitas a “uma análise moral exaustiva” para recebê-lo. Ele também desejava um papel maior para as mulheres na igreja, especialmente em posições de alto escalão no Vaticano. Em abril de 2023, anunciou que havia decidido dar às mulheres o direito de voto em uma reunião de bispos que estava por vir. Foi uma primeira vez histórica e alcançou dois objetivos: dar às mulheres maiores responsabilidades de decisão e permitir que leigos tivessem mais voz na vida da igreja.

Batalhas de saúde

Quando Francisco era jovem, teve parte de um pulmão removido devido a complicações de uma doença pulmonar, um problema de saúde que o Vaticano disse em 2013 que nunca afetou seu trabalho. Nos últimos anos, ele teve problemas de saúde contínuos, incluindo vários problemas respiratórios, gripe e múltiplas cirurgias.

Ele foi hospitalizado pela primeira vez como papa quando passou por uma cirurgia de cólon em 4 de julho de 2021, no hospital Gemelli, para tratar de uma estenose diverticular. O Vaticano disse que a operação havia sido planejada, mas o anúncio causou comoção na igreja. Ele foi hospitalizado novamente no final de março de 2023 e tratado para bronquite. Ele brincou com os jornalistas antes de ser levado embora, dizendo que ainda estava “vivo”. Pouco mais de dois meses depois, ele passou por uma cirurgia para reparar uma hérnia.

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