O mercado de testes genéticos no Brasil está em franca expansão, impulsionado por investimentos governamentais e inovações no setor privado. Visando promover a medicina de precisão, o país investe em programas nacionais e observa o crescimento de laboratórios especializados, como Mendelics, Genera, Dasa e Fleury.
Investimentos públicos impulsionam o setor
- O Ministério da Saúde anunciou, em agosto de 2024, um investimento de R$ 100 milhões em pesquisas de genômica e saúde pública de precisão, como parte do Programa Nacional de Genômica e Saúde de Precisão – Genomas Brasil.
- O programa visa criar um banco de dados com 100 mil genomas completos de brasileiros, permitindo diagnósticos mais precisos e tratamentos personalizados no Sistema Único de Saúde (SUS).
Crescimento do mercado global e nacional
- Globalmente, o mercado de testes genéticos está estimado em US$ 19,66 bilhões em 2024, com projeção de atingir US$ 32,83 bilhões até 2029, crescendo a uma taxa anual composta de 10,81%.
- No Brasil, o setor acompanha essa tendência, com laboratórios expandindo suas operações e oferecendo serviços inovadores diretamente ao consumidor.
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Iniciativas privadas fortalecem a medicina de precisão
Criada em 2012, a Mendelics foi uma das primeiras empresas da América Latina a oferecer análise genômica em larga escala. A companhia se notabilizou por ampliar o acesso a exames voltados para a detecção de doenças raras e hereditárias, como os realizados em recém-nascidos por meio de amostras de saliva. Durante a pandemia de COVID-19, desenvolveu um teste molecular alternativo que não exigia coleta invasiva, o que contribuiu para a ampliação da testagem em ambientes com restrição de recursos.
A Genera surgiu em 2010 como uma das primeiras empresas brasileiras a investir em testes genéticos voltados ao consumidor final. Com foco em ancestralidade, bem-estar e predisposição genética, conseguiu ampliar sua base de clientes com kits de coleta acessíveis e envio de resultados online. A trajetória da empresa acompanha a tendência global de personalização da saúde, mas também levanta discussões sobre a interpretação autônoma de informações genéticas fora do ambiente clínico.
O Grupo Fleury ampliou sua atuação no campo dos exames genéticos com a criação da marca Fleury Genômica. A estratégia busca integrar testes de alta complexidade às rotinas clínicas de especialidades como oncologia, neurologia e cardiologia. Entre os exames disponíveis estão painéis para identificação de mutações hereditárias e somáticas, com aplicações diretas em decisões terapêuticas. A empresa também investe em facilidades logísticas, como coleta domiciliar e kits enviados pelo correio.
A Dasa, um dos maiores grupos de medicina diagnóstica do país, consolidou sua frente de atuação em genômica com um portfólio que abrange desde exames oncológicos até triagens neonatais por sequenciamento de nova geração. Projetos como o Odisseia, que reduz o tempo de diagnóstico de doenças raras em UTIs neonatais, mostram a aposta da companhia na incorporação da genômica à prática clínica. A atuação também inclui exames de farmacogenética voltados à personalização de tratamentos com base no perfil genético dos pacientes.
Impacto na saúde e no comportamento dos brasileiros
Estudo conduzido pela Genera em parceria com a USP revelou que 64% dos brasileiros que realizaram testes genéticos mudaram seus hábitos de saúde, evidenciando o impacto positivo dessas ferramentas na promoção da saúde preventiva e personalizada.
Desafios éticos e considerações
O avanço dos testes genéticos traz à tona questões éticas importantes:
- Privacidade e confidencialidade: A proteção dos dados genéticos é crucial para evitar discriminação e uso indevido das informações.
- Aconselhamento genético: A interpretação dos resultados deve ser acompanhada por profissionais qualificados para evitar mal-entendidos e ansiedade nos pacientes.
- Achados incidentais: Descobertas não relacionadas ao motivo inicial do teste podem gerar dilemas sobre a divulgação dessas informações ao paciente.
A regulamentação e a educação sobre esses aspectos são fundamentais para o uso ético e responsável dos testes genéticos no país.
O mercado de testes genéticos no Brasil está em uma fase promissora, com investimentos públicos e iniciativas privadas convergindo para fortalecer a medicina de precisão. A tendência é de crescimento contínuo, com benefícios significativos para a saúde da população e oportunidades para investidores e empreendedores do setor.
Por Alexandre Hercules, editor-chefe da Brazil Health.
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