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O futuro da medicina já começou: a revolução quântica na saúde

Publicado 21/08/2025 • 11:02 | Atualizado há 2 dias

Alexandre Hercules, editor-chefe da Brazil Health

Foto de Brazil Health

Brazil Health

A Brazil Health é uma agência de notícias especializada em saúde e bem-estar, que tem mais de uma década de atuação. Desenvolve conteúdos exclusivos baseados em ciência e ética, destacando-se pela qualidade e precisão de suas informações.

Pixabay

A revolução silenciosa da computação quântica começa a ganhar contornos práticos na saúde, uma das áreas mais sensíveis da sociedade. Se hoje a inteligência artificial já apoia médicos em diagnósticos e previsões, a tecnologia quântica promete dar um salto ainda maior: acelerar a descoberta de medicamentos, antecipar diagnósticos antes dos sintomas e criar tratamentos sob medida para cada paciente.

Estima-se que o mercado global de computação quântica aplicada à saúde cresça quase sete vezes até 2030. No Brasil, o cenário é de avanços pontuais em universidades e centros de pesquisa, mas ainda marcado por falta de investimentos robustos e infraestrutura adequada.

Para entender melhor o que vem pela frente, a Brazil Health entrevistou Suzana Araújo, CEO da Techtalksa e especialista em inovação e tecnologia, com mais de 20 anos de experiência em transformação digital. Nesta conversa, ela traduz um tema complexo em linguagem acessível e aponta como o país pode participar ativamente dessa revolução.

Para quem nunca ouviu falar de computação quântica, como você explicaria de forma simples e conectada à realidade da saúde?

A computação quântica pode ser entendida como um sistema capaz de analisar inúmeras possibilidades ao mesmo tempo. Enquanto um computador tradicional processa informações em sequência, em “0 ou 1”, o quântico usa qubits, que podem estar em sobreposição de estados — como uma moeda girando no ar, que é, ao mesmo tempo, cara e coroa até cair na mão.

Na saúde, isso abre caminho para acelerar a descoberta de medicamentos, analisar interações moleculares e interpretar padrões genéticos complexos. Processos que hoje levam anos podem ser encurtados, resultando em diagnósticos mais rápidos e tratamentos cada vez mais personalizados.

Hoje a inteligência artificial já está em uso na medicina. Onde a computação quântica se encaixa e como as duas podem se complementar?

A computação clássica não deixará de existir. A quântica será aplicada a problemas de altíssima complexidade, como simulações moleculares e análise de genomas. A inteligência artificial já ajuda médicos em diagnósticos e previsões. O quântico funciona como um “motor turbo”, processando dados clínicos e biológicos em escala muito maior, permitindo que a IA identifique padrões mais sofisticados.

Quais exemplos práticos já estão em andamento no mundo?

Empresas como Roche e Pfizer já usam algoritmos quânticos para acelerar pesquisas de medicamentos, especialmente contra doenças neurodegenerativas. Universidades como Harvard, MIT e Oxford estudam aplicações em bioinformática e simulação de proteínas. No Brasil, USP, Unicamp e UFRJ exploram algoritmos quânticos e biologia computacional em parceria com centros internacionais, usando inclusive

computadores quânticos em nuvem. Ainda não há aplicações clínicas, mas participamos do avanço científico global.

Há casos em que a tecnologia já encurtou o desenvolvimento de medicamentos?

Sim. Em 2020, a Roche, com a Cambridge Quantum Computing, usou algoritmos quânticos para simular interações moleculares de forma muito mais rápida que computadores clássicos. Ainda não temos um medicamento criado exclusivamente com essa tecnologia, mas os ganhos em tempo e capacidade preditiva já são expressivos.

Em quais áreas da medicina os primeiros resultados devem aparecer?

Três frentes principais: oncologia, pela complexidade das mutações genéticas; neurologia, pela necessidade de simular redes biológicas para tratar doenças como Alzheimer e Parkinson; e doenças raras, já que a tecnologia pode explorar pequenas bases de dados e acelerar a busca por moléculas eficazes.

Em que ponto o Brasil está nessa corrida?

O país tem grupos de excelência, mas carece de investimentos mais potente, maior integração entre academia e empresas e políticas públicas mais ágeis. Temos uma comunidade científica qualificada, mas precisamos transformar esse potencial em estratégia nacional.

Que ações concretas poderiam colocar o Brasil no mapa da computação quântica na saúde?

Criar uma estratégia nacional de investimentos, ampliar formação interdisciplinar nas universidades e incentivar empresas a investir em pesquisa aplicada. Só a colaboração entre governo, academia e setor privado permitirá protagonismo.

Há projetos brasileiros que já trazem otimismo?

Sim. USP, Unicamp, UFRJ e o LNCC avançam em pesquisas, muitas com acesso a computadores em nuvem da IBM. O Hospital Albert Einstein lançou grupo para investigar uso do quântico na descoberta de medicamentos. A FAPESP criou programa específico para tecnologias quânticas. Também começam a surgir startups brasileiras em bioinformática e química computacional.

Quais são os maiores desafios técnicos?

Escalabilidade e estabilidade das máquinas, integração com a prática clínica e padronização de protocolos confiáveis. Não basta ter poder de processamento: é preciso traduzir resultados em ferramentas médicas seguras e aplicáveis.

E do ponto de vista humano, como preparar profissionais de saúde?

Não é necessário que médicos entendam a física quântica, mas sim que desenvolvam alfabetização digital em saúde, aprendendo a interpretar e aplicar insights tecnológicos com senso crítico. A formação multidisciplinar e a cultura de colaboração serão fundamentais.

Existe risco de aumentar desigualdades no acesso?

Sim, se a tecnologia ficar restrita a países ricos e grandes centros. Para evitar isso, precisamos de políticas públicas que democratizem o acesso, investimentos em infraestrutura compartilhada e cooperação internacional em ciência aberta.

Em quanto tempo o paciente comum sentirá benefícios?

Indiretamente, em 5 a 7 anos, com novos medicamentos e tratamentos mais personalizados. O contato direto deve ocorrer em 10 a 15 anos, quando a tecnologia estiver integrada a protocolos clínicos e regulatórios.

Se pudesse escolher uma aplicação para os próximos cinco anos, qual seria?

O uso da computação quântica para acelerar tratamentos personalizados contra o câncer, permitindo terapias mais eficazes, menos tóxicas e acessíveis a milhões de pacientes.

Como será a interação entre médico, paciente e tecnologia em 2030?

O paciente não verá um computador quântico no consultório, mas sentirá seus efeitos em diagnósticos e tratamentos. O médico seguirá central, apoiado por sistemas inteligentes que ampliam sua capacidade de decisão. A tecnologia estará nos bastidores, mas o vínculo humano continuará insubstituível.

Que conselho daria a jovens profissionais?

Invistam em formação interdisciplinar e pensamento crítico. O futuro será construído pelo diálogo entre ciência, tecnologia e humanidade. Quem souber unir essas três dimensões se destacará.

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