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Cultura do excesso: quando o sintoma vira sistema
Publicado 15/08/2025 • 07:13 | Atualizado há 6 horas
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Publicado 15/08/2025 • 07:13 | Atualizado há 6 horas
KEY POINTS
Pexels
No coração silencioso das empresas, uma epidemia se alastra sem alarde: a cultura do excesso. Não se trata apenas de jornadas longas ou metas inalcançáveis. Trata-se de algo mais profundo — um modo de funcionamento sistêmico que transforma o “sempre mais” em princípio de gestão, métrica de valor e critério de pertencimento.
Ao longo de minha trajetória como pesquisador e consultor em vida organizacional, identifiquei sinais recorrentes, subterrâneos e muitas vezes normalizados que, em conjunto, configuram esse fenômeno que denominei cultura do excesso. Essa formulação não se limita a um conceito abstrato: ela surgiu da escuta atenta e da análise estruturada de padrões simbólicos, emocionais e operacionais que se repetem em diferentes tipos de organização.
Trata-se de uma dinâmica invisível e legitimada que adoece silenciosamente os ambientes de trabalho, mesmo sob a aparência de eficiência, energia e alto desempenho.
Nessa cultura, quantidade substitui qualidade, urgência sufoca estratégia e ocupação permanente é confundida com relevância. O tempo deixa de ser recurso e vira adversário. A produtividade é medida pelo volume, não pelo impacto. E corpo, mente e vínculos são levados ao limite, como se fossem infinitos.
Mais do que um excesso de comportamento, o que se instala é uma lógica institucionalizada, muitas vezes celebrada. A pausa vira desvio. O cansaço, insígnia de valor. O sofrimento, prova de comprometimento. Ela se infiltra pelas recompensas simbólicas e pelos discursos motivacionais. Ela não se impõe pela força, mas pelo elogio. E é justamente essa aparente positividade que a torna tão difícil de perceber.
Suas causas são muitas, mas costumo sistematizá-la em um núcleo conceitual que chamo de As Correntes Invisíveis da Cultura do Excesso — seis forças estruturantes que explicam por que e como essa lógica se consolidou como norma em tantos contextos organizacionais:
1. O curto-prazo como bússola
A lógica dos trimestres financeiros encurtou a visão estratégica. O que não traz retorno imediato é descartado. A pressa ocupa o lugar da reflexão. Pensar virou luxo.
2. A tecnologia como corrente contínua
A hiperconectividade dissolveu os limites entre vida e trabalho. Estar sempre online virou norma. O descanso passou a ser um privilégio negado. A mente não desliga. O corpo não para.
3. A burocracia como ritual de controle
Criou-se uma liturgia de autorizações, comitês e checklists. O trabalho real cede espaço ao trabalho sobre o trabalho. O sentido escoa pelos processos. A lentidão é promovida em nome da ordem.
4. Símbolos distorcidos de sucesso
Exaustão virou mérito. Ostentação virou liderança. Resiliência sem limite virou troféu. A aparência venceu a substância. E o sofrimento psíquico passou a ser romantizado como se fosse virtude.
5. Precariedade emocional dos vínculos
A insegurança silenciosa contamina relações. Com contratos fluidos e pertencimentos frágeis, muitos tentam provar valor através da hiper entrega. O medo de ser descartado alimenta a auto violência produtiva.
6. Tensão geracional como espelho simbólico
A Geração Z expõe as rachaduras do modelo. Ao recusar a glorificação da sobrecarga e buscar sentido, ela ilumina pactos antes invisíveis. Quando ouvida, essa fricção pode virar travessia.
Dois amplificadores agravam esse quadro:
Abaixo, organizo os principais sintomas identificados na análise de campo e em projetos de escuta profunda dentro de organizações:
Romper com esse sistema exige coragem simbólica. Exige nomear o que nos consome. Exige escutar o que se cala por lealdade ou medo. Líderes que reforçam o excesso cobram mais do que praticam. Silenciam o sofrimento. Valorizam presença, não propósito.
Já os líderes que transformam reconhecem que mais não é melhor. Eles instituem limites. Simplificam o que trava. Protegem o tempo. Recompõem os vínculos. E devolvem humanidade ao trabalho.
Não há mudança real sem novos pactos organizacionais. Algumas direções concretas:
Cada pessoa pode ser catalisadora dessa virada. Não é preciso esperar grandes reformas: ela começa nas conversas que devolvem sentido, nas escolhas que protegem dignidade e nas lideranças que sabem parar para pensar.
A saúde organizacional não é um programa — é um movimento. E ele começa agora.
No futuro, a vantagem competitiva não estará na exaustão que as empresas conseguem extrair, mas na vitalidade que conseguem preservar.
Quando o humano volta ao centro, não muda apenas o modo de trabalhar.
Muda, sobretudo, o que significa vencer.
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