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Vida nas organizações Joaquim Santini

Quando o caos interno toma conta: como recuperar o controle na empresa

Publicado 22/11/2025 • 19:11 | Atualizado há 5 horas

Foto de Joaquim Santini

Joaquim Santini

Pesquisador e palestrante internacional, diplomado em Psicologia Clínica Organizacional e mestre em Consulting and Coaching for Change no Insead ( european business school, na França), graduado e mestre em Engenharia Mecânica pela Unicamp. Fundador da EXO - Excelência Organizacional.

KEY POINTS

  • A entropia organizacional surge quando pactos invisíveis, narrativas defensivas e lideranças congeladas impedem a empresa de produzir ordem, governança e sentido — levando áreas críticas a se desorganizarem silenciosamente
  • Existem diferentes formas de colapso institucional: áreas que se autoconsumem em urgências e improvisos, e áreas que inflam a própria performance por comparação com um passado deteriorado, institucionalizando a mediocridade
  • Ferramentas e metodologias não funcionam em ambientes entrópicos; só o rompimento dos pactos defensivos e a criação de pactos regenerativos — baseados em coragem, luto e método — restauram a capacidade organizacional de transformação real
Para a especialista, seu maior sinal de alerta em uma entrevista de emprego é alguém que chega despreparado e não entende a função ou a empresa.

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Empresa

Há fenômenos silenciosos dentro das empresas que não aparecem nos relatórios, não surgem nos dashboards e não são discutidos nas reuniões de performance — mas determinam o destino de toda a organização.

Um deles é a entropia organizacional: o momento em que a empresa perde sua capacidade interna de produzir ordem, sentido e governança, e passa a operar em estado de deterioração crônica.

Ao contrário do que muitos imaginam, a entropia não começa no campo técnico; ela nasce nos pactos invisíveis que moldam o funcionamento cotidiano, congelam lideranças e alimentam narrativas defensivas. Quando esses pactos se estabelecem, áreas críticas deixam de operar como instituições e passam a se comportar como organismos caóticos, reativos e autoconsumidos.

Nas últimas análises clínicas que conduzi em ambientes industriais distintos, dois casos revelaram o mesmo padrão subterrâneo: a empresa acredita que está funcionando — quando, na verdade, está se desorganizando em silêncio.

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Caso 1 — Quando uma área crítica se desintegra por dentro

No primeiro contexto, a deterioração já tinha ultrapassado o limite do operacional. A área, que deveria ser estruturante para a confiabilidade e a continuidade da operação, havia perdido suas fronteiras técnicas, disciplina, método e capacidade de produzir memória organizacional.

A urgência ocupava o lugar do planejamento.
O improviso substituía a engenharia.
A correria era confundida com competência.
O sofrimento era celebrado como identidade profissional.
Esse ambiente não era apenas disfuncional — era entrópico.
As falhas se retroalimentavam.
As ações corretivas geravam mais corretivas.
As ações preventivas não implantadas.
Os dados não produziam decisão.
Os rituais não produziam governança.

A área havia deixado de existir como instituição. Tornara-se um grupo dominado por urgências, emoções defensivas e vínculos colapsados. A liderança, capturada pelo cotidiano, já não conseguia exercer sua função organizadora — tornara-se parte do problema.

Essa é a característica mais dura da entropia organizacional: ela transforma líderes em estabilizadores do caos.

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Caso 2 — Quando a operação produtiva inflaciona o pouco e acredita ser muito

No segundo caso, o colapso era de outra natureza, mas igualmente grave.

O gestor recém-chegado realmente entregava mais do que seus antecessores — mas isso apenas revelava o quão baixa estava a régua institucional. Ele acreditava estar “fazendo muito”, quando, na verdade, entregava muito pouco diante da exigência real da função.

Esse fenômeno, comum em empresas com histórico de deterioração, nasce quando a organização perde a capacidade de comparação com o necessário e passa a se comparar apenas com o passado.
O que deveria ser o mínimo passa a ser interpretado como extraordinário.

Esse gestor tinha convicção de sua alta performance — não por vaidade, mas por defesa.

Quando a exigência é alta demais e a entrega é baixa, o ego infla para proteger o sujeito da realidade. A narrativa cresce para substituir o impacto. A imagem se sobrepõe ao método.

Essa é outra forma de entropia: a institucionalização da mediocridade através de narrativas defensivas.
Quando isso acontece, a empresa se movimenta — mas não se transforma.

O núcleo comum dos dois casos: pactos defensivos

Embora distintos, ambos os contextos eram governados pelo mesmo mecanismo: pactos defensivos que impedem a transformação.

No primeiro caso, o pacto era: “Corremos tanto que não pode estar tão errado.”
No segundo, o pacto era: “Faço mais do que faziam antes, logo estou acima da média.”

Esses pactos são silenciosos, afetivos, subterrâneos.

Agem como anticorpos institucionais contra qualquer tentativa de mudança profunda.
Neutralizam diagnósticos.
Desarmam planos.
Distorcem indicadores.
Protegem lideranças insuficientes.
E mantêm a organização presa à repetição.
Quando pactos defensivos dominam a empresa, a entropia se instala — e cresce.

Por que metodologias falham em ambientes entrópicos
A resposta está na raiz simbólica do problema.
A tentação comum é reagir com ferramentas:

  • Novos KPIs,
  • Novos rituais,
  • Novas tecnologias,
  • Novos organogramas,
  • Novas consultorias.

Nada disso funciona enquanto o pacto defensivo estiver vivo.

A empresa absorve, distorce e neutraliza qualquer iniciativa que não confronte seu núcleo inconsciente. O sistema reorganiza o próprio caos para se preservar.

A entropia só pode ser enfrentada onde ela nasce: nos pactos que sustentam a deterioração.

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O que realmente rompe o ciclo: pactos regenerativos

Se pactos defensivos mantêm a desordem, apenas pactos regenerativos conseguem instaurar nova ordem. Eles marcam o início de uma travessia institucional — e toda regeneração começa por eles.

Um pacto regenerativo exige coragem.
Coragem para dizer o que ninguém quer ouvir.
Coragem para desmontar narrativas protetoras.
Coragem para encerrar identidades que já não servem — a do gestor inflado, a do guerreiro exaurido, a da urgência como norma.
Exige também luto.
Luto pelo modo antigo de operar.
Luto pela falsa sensação de competência.
Luto pelo conforto emocional do improviso.
E exige método.
Voltar a ter fronteiras.
Voltar a ter disciplina.
Voltar a ter governança que produz decisão — não reunião.
Voltar a exigir consequência — não explicação.
Pactos regenerativos reorganizam o organismo institucional.
São a linha no chão que diz: “a partir daqui, outro modo de existir será necessário.”

Empresas não colapsam por falta de técnica — colapsam por falta de travessia

A entropia organizacional não surge de um dia para o outro. Ela se instala quando pactos defensivos se tornam cultura, quando lideranças congeladas passam a mediar o caos e quando narrativas protetoras substituem responsabilidade.

As empresas que atravessam essa deterioração não são as que implementam mais ferramentas — são as que têm coragem de enfrentar seus pactos invisíveis.

Porque toda organização que recusa a travessia permanece presa ao ciclo que a destrói. E toda organização que cria pactos regenerativos descobre que a ordem não nasce do processo —
nasce da decisão de romper com a repetição.

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