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Direto de Nova York Norberto Zaiet

O Bitcoin e as “Trumpalhadas” – mais um teste de resiliência

Publicado 07/04/2025 • 19:12 | Atualizado há 6 horas

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Norberto Zaiet

Norberto Zaiet é economista formado pela Universidade de São Paulo com MBA pela Columbia Business School. Foi Head para Mercados Emergentes do banco alemão WestLB AG e CEO do Banco Pine. Hoje é sócio-fundador e CEO da Picea Value Investors, family office sediado em Nova York.

Bitcoin em um rally de resiliência

Bitcoin em um rally de resiliência

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Imagine uma aula de macroeconomia. O professor, estimulado por toda a retórica recente em torno das taxações alfandegárias, separa a turma em grupos e pede para que elaborem um plano para lidar com as “injustiças comerciais” por meio de tarifas recíprocas. O que foi divulgado na quarta-feira passada por Donald Trump e sua equipe teria sido a obra daquele grupo do fundão da classe que, de maneira perspicaz, mas sem embasamento nenhum na teoria econômica, teria justificado ao professor que déficits comerciais representam “a soma de todas as traições comerciais dos países ocorridas ao longo do tempo”. Teriam levado um 10 pela originalidade da proposta, mas, ao final do curso, o trabalho receberia nota zero – uma prova definitiva de que não prestaram atenção nenhuma às aulas.

Dividir o déficit comercial pelo valor total das mercadorias importadas não tem nenhum significado macroeconômico e não representa absolutamente nada além de uma relação matemática entre dois valores. Usar essa fórmula como base para estipular tarifas alfandegárias entre países é algo que, de tão surrealista, parece ter saído da mente de um Salvador Dali econômico.

O caso do Brasil é especialmente ilustrativo. Devido a um posicionamento construído ao longo de décadas, o mundo nos reconhece como uma economia fechada que tarifa produtos vindos do exterior de maneira escandalosa com o suposto objetivo de proteger a indústria nacional. Automóveis importados estão sujeitos a alíquotas ao redor de 25%, sardinhas são taxadas em 32%, vinhos do Porto, em 20%, papel Kraft, em 18%, bicicletas, em 31,5%, fibra ótica, em 35% e pneus levam 25%, a mesma alíquota dos pregos e percevejos. Sim, o Brasil tarifa a importação de pregos e percevejos.

Da maneira como Trump e seus assessores – entre eles o conhecido CEO de uma corretora de valores fantasiado de Secretário do Comércio – definiram as tarifas “recíprocas” a serem aplicadas a partir desta semana, o Brasil pagará o valor mínimo de 10%. A justificativa: os EUA têm superávit comercial com o Brasil, e, portanto, o Brasil não é um traidor. Ainda bem que a Boeing cobra o que cobra pelos aviões que fabrica.

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Se o tempo é de mudança e o regime anterior não vale mais, é importante observar os sinais que o mercado tem mandado. Em meio à carnificina da semana passada, pouca atenção se deu à relativa resiliência do Bitcoin: o ativo iniciou a semana cotado a US$ 83 mil, e encerrou a semana no mesmo valor.  Os mercados tradicionais, como sabemos, perderam mais de 6% em um só dia, e já são quase 10% de perda acumulada no mês de abril. O relativo pânico de hoje, entretanto, carregou tudo para baixo, tradicional ou não, e trouxe o Bitcoin para mais um teste de resiliência.

A cotação máxima da criptomoeda mais popular atingiu cerca de US$ 109 mil no dia em que Trump tomou posse, e, desde então, caiu cerca de 24%. O índice Nasdaq, no mesmo período, desvalorizou cerca de 21%. Para efeito de comparação, em fevereiro de 2020 o Bitcoin negociava ao redor dos US$ 10 mil. Com o anúncio da pandemia, em março, fechou abaixo de US$ 5 mil, perdendo, portanto, metade do seu valor. Em eventos similares ao que vimos na semana passada, o Bitcoin de cinco anos atrás teria sofrido muito mais do que 24% e, certamente, bem mais que os mercados tradicionais. Além disso, sair de US$ 5mil para perto de US$ 80 mil em cinco anos não é uma valorização de se jogar fora.

Em 2020 os ativos cripto não produziam efeitos de diversificação suficientes para atrair investidores institucionais. Em outras palavras, não ofereciam aquela pitada a mais de retorno com menor volatilidade e, apesar de venderem o sonho da independência e descentralização, tinham correlação alta com os mercados tradicionais. Os eventos da semana passada indicam que essa ligação, apesar de ainda ser bastante relevante, pode estar diminuindo. 

A adoção universal dessa classe de ativos ainda passa por duas questões fundamentais: para que servem esses tokens? E quanto eles valem intrinsecamente? Até agora, os estudiosos têm procurado formatar o valuation em termos de uma estrutura conhecida, seja por fluxos de caixa descontados ou por metodologias que tentam identificar o valor com base em efeitos de rede e número de usuários, como boa parte das empresas de tecnologia são analisadas. A abordagem que vem sendo cada vez mais aceita classifica esses ativos, e principalmente o Bitcoin, como ouro digital. Nessa linha, há exercícios que colocam o preço justo do ativo, a valor presente, em cerca de US$ 250mil. Exercícios mais agressivos (aqueles da turma do fundão) falam em valores acima de US$ 1 milhão.

Uma coisa é certa: em meio às recentes “Trumpalhadas”, o Bitcoin vem obtendo, paulatinamente, legitimação legal, regulatória e do mercado. O ativo passa, agora, por mais uma prova. Acredito que, ao contrário da turma do fundão, o Bitcoin deve passar de ano.

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