CNBC Saiba por que Microsoft, Amazon, Google e Meta apostam em energia nuclear

Colunistas

O CEO tem de energizar as pessoas, diz Yunes, do Mercado Livre

Publicado 29/11/2024 • 22:57

Juliana Colombo, do Times Brasil - licenciado exclusivo CNBC

O clima é de festa: DJ, música alta, pessoas com rostos pintados e perucas coloridas. E é data de celebração de fato. No Centro de Distribuição do Mercado Livre, em Cajamar em São Paulo, a Black Friday é comemorada. Enquanto funcionários cantarolam as canções, mais de 300 robôs autônomos processam os pedidos que passam pelas dezenas de esteiras e deverão chegar em até 24 horas nas casas dos clientes em todo o país.

A empresa não divulga o quanto espera de crescimento para este ano nesse período de vendas, mas o fato é que o investimento na logística é visível: serão mais cinco novos centros de distribuição a serem inaugurados em 2025, dobrando o número dos atuais 10 para 21. O investimento neste ano na operação do Brasil – seu principal mercado – chegará a R$ 23 bilhões, o maior valor já investido pela companhia em seus 25 anos de existência.

Em meio às esteiras e ao som do DJ, caminho ao lado de Fernando Yunes, CEO do Mercado Livre no Brasil. A tarefa é saber um pouco mais de como é a rotina de um executivo desse nível, em um dos dias mais importantes para a operação.

Yunes tem fala mansa e, apesar da música alta, fala com calma, olha nos olhos. O engenheiro mecânico formado na Unicamp iniciou sua carreira em consultorias. Até que, experiências dessas que mudam a vida – ele escapou do acidente da TAM, em 2007, quando o avião atravessou a pista e chocou-se contra o prédio de cargas da própria empresa – não foi a uma reunião exatamente naquele local, e acabou perdendo colegas de trabalho naquele dia.

 A partir dali, foi morar na Espanha, onde conheceu sua esposa e mudou o foco da carreira para a de gestor em grandes corporações. Passou pela Whirpool, foi CEO do Sem Parar e há quase cinco anos, encontrado por um headhunter, comanda a operação do Mercado Livre – o Meli – no Brasil. Como foi essa jornada?

foto: Juliana Colombo

Com a palavra, o CEO:

Times Brasil: O que faz um CEO no principal evento do ano, a Black Friday?

Fernando Yunes: Acho que o principal ponto é estar perto dos times, estar perto da operação, participar, ao mesmo tempo dar autonomia para os times nas decisões, para a gente ter muita velocidade, ao mesmo tempo participar das grandes decisões e apoiar, tomar risco, pensar a longo prazo, e energizar as pessoas, incentivar as pessoas.

TB: E de maneira geral, o que faz um CEO?
FY: É ajudar no pensamento de longo prazo, na visão, na estratégia, na definição das prioridades, na alocação de recursos ao redor das prioridades, em criar um time talentoso, de alta performance, que trabalhe numa cultura que seja uma cultura de alta performance. E a cultura aqui no Mercado Livre é uma cultura, ao mesmo tempo, colaborativa pra dentro, mas competitiva pra fora.

TB: Você teve um turning point importante na sua carreira em 2007, quando escapou de um acidente e mudou o foco de sua carreira, como foi isso?

FY: Eu trabalhava em consultoria há cinco anos e estava num projeto na TAM Express, que é a área de carga da TAM. E aí o sócio do projeto, que era o meu chefe marcou uma reunião naquele dia às quatro da tarde, na consultoria. E aí eu saí, então, pra almoçar e fui pra consultoria, não voltei pra TAM. A reunião foi cancelada. Eu quase voltei, mas olhei no relógio e falei, nossa, vou pegar trânsito, vou continuar aqui. E aí, seis e quarenta o avião não pousou e bateu no prédio da TAM. E duas pessoas que eram do meu time faleceram. E os gerentes todos da T-Express faleceram, e estavam todos na mesma reunião, era pra eu e o diretor estarmos na reunião, mas como eu não estava, o diretor também não participou.

Eu estava noivo e não estava feliz, fui para Barcelona, encontrei a irmã de um amigo meu, que veio a ser minha esposa e eu decidi que queria mudar de trabalho, ter mais previsibilidade, porque naquela época em 2007 as consultorias eram diferentes. Fui para a Whirpool e fiquei 10 anos lá. E depois apareceu a oportunidade de ser CEO do Sem Parar, onde deu pra criar, mudar a cultura, montar um time. A gente mudou a visão do Sem Parar, que era ser o melhor meio de pagamento eletrônico de pedágio no Brasil, melhor e mais eficiente. A gente avançou de 400 estacionamentos para mais de 2 mil estacionamentos, postos de gasolina, parceria com McDonald’s e Habib’s para ir para os drive-thrus.

Mas aí surgiu o Headhunter e eu fui para a Argentina conhecer o Mercado Libre e fazer entrevistas. E no meio do dia eu fui uma hora ao banheiro, me olhei no espelho e falei: “meu Deus, eu gostei muito dessa turma, eu preciso arrumar esse emprego”. Eu quero muito vir para o Mercado Livre. Isso era 2019. Por incrível que pareça, eu ainda não tinha comprado no Mercado Livre, não conhecia o Mercado Livre. E tinha uma imagem de uma empresa que vendia, que eram vendedores menores, muita coisa de uma pessoa física para outra, de um produto usado.

TB: Quais hacks de gestão e de vida você pode compartilhar?

FY: Ah, de gestão, acho que é uma combinação de ter uma estratégia, estabelecer as prioridades de projetos, de iniciativas que a gente eu acompanho para os times, mas também tem o dia a dia, os indicadores, as métricas, as métricas que são resultado, mas também as métricas que são inputs, que vão gerar aquele resultado.

A principal forma que eu faço gestão é assim, e muito informal no dia a dia, falando com os times o dia inteiro, né? Então, nos grupos de WhatsApp, eu gosto de ser uma pessoa muito aberta, muito…as pessoas sintam muita liberdade de conversar comigo a qualquer momento e de qualquer assunto.

Acho importante essa transparência, essa abertura para as coisas chegarem e você participar. Não gosto de ter um ambiente de medo, de hierarquia. A gente não tem hierarquia no dia a dia. Todo mundo se fala e é o equilíbrio.

Eu gosto de ter os horários, nem sempre é possível, mas eu gosto de ter um horário pra parar e almoçar. E no final do dia eu não quero que o dia termine em 9, 10 horas da noite.

O dia tem que terminar num horário que ainda dá pra ficar com a família, ver minhas filhas, minha esposa, encontrar um amigo, jantar.

Eu acho que fazer um esporte. O que eu faço de manhã? Eu gosto de acordar, fazer um esporte, depois começar a trabalhar.

Então, acho que somar um esporte, família, amigos, é super importante.

TB: Qual o seu livro de cabeceira?

FY: Outlive, de Peter Attia. E tem outro, chamado Hidden Potential, de Adam Grant. Que falam de longevidade.

TB: O Mercado Livre é a empresa mais valiosa da América Latina, na frente de Petrobras, vocês estão planejando dobrar o número de centros de distribuição já no ano que vem, estamos aqui no meio da Black Friday. Quais os próximos passos do Mercado Livre no país?

FY: A gente tem que seguir melhorando as experiências que a gente tem nas categorias em que a gente atua, entrar em mais categorias em que a gente ainda não atua, avançar em novas regiões do Brasil, ganhar market share em categorias que o nosso market share é mais baixo e tem potencial de ganhar, então tem algumas categorias de eletrônico, de eletrodoméstico, imóveis, os produtos pesados são produtos que a gente ainda não atua.

E agora a gente começou a criar uma logística para os produtos pesados, então aí tem bastante espaço de ganho de market share.

foto: Juliana Colombo