Briga interna e colapso de confiança: documentos e depoimentos mostram como a Ambipar, que nasceu com o propósito de “regenerar o planeta”, passou a lutar para regenerar a própria imagem após racha entre o fundador Tércio Borlenghi Jr. e o ex-diretor financeiro João Arruda.
Reação em cadeia no mercado: a queda de mais de 90% nas ações, a exclusão dos índices da B3 e o pedido de recuperação judicial no Rio de Janeiro revelam a dimensão de uma crise que expôs fragilidades de governança e abalou a confiança do setor financeiro.
Uma empresa que carrega no próprio slogan a razão de existir para “regenerar o planeta” passou a enfrentar o desafio de regenerar a si mesma. Essa é uma das frases do pedido de recuperação judicial enviado pela Ambipar à Justiça do Rio de Janeiro.
Desde que a estabilidade da companhia explodiu, quem entrou na mira da família Borlenghi foi João Arruda. Ex-diretor financeiro da holding, ele passou a ser acusado de ter assinado aditivos em um contrato com um banco credor à revelia dos acionistas, o que teria desencadeado a crise da empresa.
Arruda pediu uma reunião privada à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para apresentar sua defesa.
Em documento enviado ao juiz da 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, os advogados do ex-funcionário da Ambipar contestam as acusações e rebatem a alegação de que ele teria assinado os aditivos do contrato sem aprovação.
Segundo o texto, “mostra-se absolutamente inverídica e desprovida de fundamento a alegação de que as operações teriam sido celebradas ‘ao arrepio do Conselho de Administração’ ou sem o conhecimento do próprio CEO, Tércio Borlenghi Júnior”.
O documento afirma ainda que o valor de R$ 60 milhões cobrado como garantia não deveria ser um problema para a companhia, e que a solução seria simples: transferir o montante de outro banco, sem retirar recursos do caixa da empresa.
“A CVM cumpre um procedimento administrativo; ela não tem um poder imediato de polícia de chegar e tomar o pé da conta da situação como um todo”, explicou Arthur Longo Ferreira, especialista em direitos do mercado financeiro e de capitais.
“A CVM também tem um sistema de interesse atrelado à bolsa, ao processo que ela está. Se ela implode uma empresa, ela implode potencialmente a bolsa. Qual é o papel dela, qual é o futuro dela?”, questionou o economista Max Mustrange.
No mercado financeiro, as rachaduras aumentavam. No dia 9, o acumulado da queda na Bolsa já era superior a 90%. Esse foi o ponto de ruptura. A B3 decidiu excluir a Ambipar de seus índices e revogou a certificação de ações verdes da empresa.
“O valor dessa empresa para dentro da Bolsa como um todo é prejudicial. Então, eles preferem arrancar fora do índice do indicador”, afirmou Mestrange.
No dia 10, uma ata de reunião da Ambipar comunicou o cancelamento de uma assembleia geral, e uma nova emissão de debêntures também foi adiada.
No mesmo dia, o sócio majoritário da empresa, Tércio Borlenghi Júnior, informou que sua participação acionária diminuiria de 73,48% para 67,68%.
O controlador alegou que, após a concessão de uma medida cautelar, três instituições financeiras venderam ou executaram cerca de 97 milhões de ações pertencentes a ele, o que teria gerado uma perda estimada de R$ 20 bilhões em valor de mercado para a Ambipar.
O fato de os pedidos de cautelar e de recuperação judicial terem sido enviados à Justiça do Rio de Janeiro deixou credores em alerta, já que São Paulo concentra a maioria das decisões desse tipo envolvendo grandes empresas.
Em resposta, bancos credores enviaram manifestação ao juiz responsável, alegando que o centro decisório, administrativo e operacional do grupo Ambipar está em São Paulo.
“A questão do lugar onde eu escolho para pedir recuperação, para pedirem a minha falência, de acordo com a lei de falências, é o principal estabelecimento.
Só que o principal estabelecimento não é necessariamente a sede. Depende do volume de negócios que tem naquela região”, explicou a advogada Elisabete Vido.
Divulgação Ambipar
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro também tentou derrubar a medida cautelar que protege os ativos da Ambipar e de seu controlador, mas o pedido foi rejeitado.
“Para ela preservar as unidades de forma independente, em cada país vai ter que pedir essa recepção desse processo que começa aqui no Brasil.
A não ser que ela consiga blindar de tal forma, por uma questão de gestão, mostrando autonomia e recursos próprios — o que não é comum”, completou Elisabete Vido.
A Ambipar tenta conter o colapso de todas as formas. Uma das principais ações foi abrir um inquérito contra o ex-diretor financeiro João Arruda, acusado de irregularidades em contratos que agravaram a crise.
A Polícia Civil de São Paulo iniciou investigação contra João Arruda e outros dois ex-executivos da empresa: Carlos Daniel Braga Coradi e Pedro Borges Petersen.
Em 16 de outubro, o mercado se despediu das ações que já foram as grandes estrelas da Bolsa. Os papéis deixaram de ser negociados na B3, após a CVM abrir investigação contra a companhia.
Agora, com o pedido de recuperação judicial, resta saber qual será o futuro da Ambipar.
“Eles vão tentar, nesse meio tempo, se proteger sob o instrumento jurídico da recuperação judicial. Se conseguirem aprovar o plano na assembleia de credores, talvez ganhem mais dois anos de fôlego. Depois, veremos se haverá vida ou não”, avaliou Max Mestrange.
“É muito difícil ver uma empresa com um problema desse tamanho entrar em recuperação judicial e sair”, afirmou o financista José Kobori.
A história da Ambipar, marcada por ascensão e colapso, segue em aberto.
Nos próximos dias, o Times Brasil – Licenciado Exclusivo CNBC publicará uma série especial de reportagens sobre o escândalo da Ambipar e as suspeitas de uma mega fraude que abalaram o mercado. A série trará detalhes inéditos do contrato que deu origem à crise, o perfil do CFO acusado, e os bastidores da saída de executivos antes do escândalo vir à tona.
A reportagem também revelará quem são Tércio e Guilherme Borlenghi, pai e filho que administram a companhia com mão de ferro.
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