Crise do chip automotivo Nexperia atinge Europa, EUA e China e ameaça a indústria brasileira

A fabricante de chips Nexperia, sediada na Holanda, está no centro de um impasse entre a União Europeia, os EUA e a China, que desencadeou uma crise para as montadoras globais e ameaça a paralisação da produção das fábricas de automóveis brasileiras.

O governo holandês assumiu o controle da Nexperia, empresa pertencente à chinesa Wingtech, em outubro, alegando preocupações com a segurança nacional. A medida levou Pequim a bloquear a saída dos produtos Nexperia da China.

Reuniões estão em andamento na Europa para tentar amenizar a escalada do problema, e as autoridades chinesas e americanas parecem estar abrindo caminho para que as operações da Nexperia na China retomem a exportação de chips automotivos essenciais.

Representantes da Casa Branca e da Nexperia não responderam imediatamente a um pedido de comentário.

Por enquanto, porém, a cadeia de suprimentos da indústria automobilística ainda está em situação incerta.

A disputa ameaça a produção de veículos em todo o mundo, já que as montadoras alertam para a iminente escassez de componentes da fabricante de chips, essenciais para as funções elétricas básicas dos carros e difíceis de substituir em curto prazo.

A batalha se desenrolou em meio a um escrutínio crescente das empresas de tecnologia ligadas à China por parte de governos ocidentais, incluindo os EUA, que recentemente endureceram as regras de controle de exportação para limitar as transferências de tecnologia para entidades de propriedade chinesa.

A Wingtech, proprietária da Nexperia, foi incluída em uma lista negra dos EUA em dezembro de 2024 por seu suposto papel “em auxiliar os esforços do governo chinês para adquirir entidades com capacidade de fabricação de semicondutores sensíveis”.

Eis o que você precisa saber sobre o andamento da disputa e por que isso é importante. 

Por que os chips Nexperia são tão importantes?

A Nexperia fabrica bilhões de chips básicos, transistores, diodos e componentes de gerenciamento de energia, produzidos na Europa, montados e testados na China e, em seguida, reexportados para clientes na Europa e em outros lugares. Cerca de 70% dos chips fabricados na Holanda são enviados para a China para serem finalizados e reexportados para outros países.

Os chips são básicos e baratos, mas necessários em praticamente todos os dispositivos que utilizam eletricidade. Em carros, esses chips são usados ​​para conectar a bateria aos motores, para luzes e sensores, para sistemas de freio, controladores de airbags, sistemas de entretenimento e vidros elétricos. 

A Nexperia teve vendas de 2 bilhões de dólares no ano passado.

No final de outubro, montadoras como a Volkswagen.

A Nissan Motor e a Mercedes-Benz soaram o alarme sobre possíveis cortes na produção caso as exportações de chips da Nexperia sejam interrompidas por um longo período.

Embora as montadoras normalmente tenham alguns estoques e fornecedores alternativos, é difícil mudar as fontes de suprimento da noite para o dia. 

O que aconteceu e qual é a situação atual?

Em setembro, o governo holandês invocou uma lei da época da Guerra Fria para assumir o controle efetivo da Nexperia, em meio a preocupações de que seu proprietário chinês estivesse planejando transferir a propriedade intelectual para outra empresa de sua propriedade. Um tribunal holandês também suspendeu o CEO da Nexperia, Zhang Xuezhen, fundador da Wingtech, alegando má gestão.

Semanas depois, Pequim retaliou impondo controles de exportação a certos produtos Nexperia fabricados na China, aumentando as tensões e alimentando temores de um choque mais amplo na cadeia de suprimentos. Isso levou a empresa a informar às montadoras que não poderia mais garantir o fornecimento.

Mas sinais de um avanço começaram a surgir.

Na sexta-feira, surgiram relatos de que os EUA planejam anunciar que a Nexperia retomará o envio de chips sob um acordo-quadro alcançado durante as negociações entre o presidente Donald Trump e o líder chinês Xi Jinping , citando fontes familiarizadas com o assunto. E no sábado, a China afirmou que isentará alguns chips da Nexperia de sua proibição de exportação. Autoridades chinesas não especificaram quais seriam essas isenções.

“Vamos analisar cuidadosamente a situação real da empresa e isentar as exportações elegíveis”, afirmou o Ministério do Comércio da China em comunicado. 

Se finalizadas, as isenções poderiam aliviar a pressão imediata sobre as montadoras. Mas a disputa mais ampla sobre propriedade, controle da tecnologia e supervisão de segurança permanece sem solução.

Naty Falla

Siga o Times Brasil - Licenciado Exclusivo CNBC no