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Geração Z faz curso para perder medo de falar ao telefone; é a ‘telefonofobia’

Publicado 17/02/2025 • 09:24 | Atualizado há 1 mês

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Redação CNBC

KEY POINTS

  • A Geração Z — nascida entre 1997 e 2012 — está enfrentando a telefonofobia, um “fenômeno relativamente recente” que descreve o medo de realizar ou atender chamadas telefônicas, segundo Liz Baxter, consultora de carreiras do Nottingham College, uma escola do Reino Unido para alunos a partir dos 16 anos.
  • Baxter afirmou que muitos alunos mais velhos da faculdade precisam passar por entrevistas telefônicas como parte do processo seletivo para empregos e acabam “falhando nesse primeiro obstáculo” porque não sabem como conduzir uma ligação e não têm confiança para isso.
  • Uma pesquisa da Uswitch com 2.000 adultos do Reino Unido em 2024 revelou que quase um quarto dos jovens entre 18 e 34 anos nunca atende ligações telefônicas. Cerca de 61% desse grupo prefere receber uma mensagem em vez de uma chamada de áudio.

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Houve um tempo em que atender uma ligação telefônica era a principal forma de comunicação, mas, hoje, com inúmeras opções disponíveis, alguns membros da Geração Z, altamente conectados à tecnologia, sentem ansiedade só de ouvir o telefone tocar.

A Geração Z — nascida entre 1997 e 2012 — está enfrentando a telefonofobia, um “fenômeno relativamente recente” que descreve o medo de realizar ou atender chamadas telefônicas, segundo Liz Baxter, consultora de carreiras do Nottingham College, uma escola do Reino Unido para alunos a partir dos 16 anos.

“Telefonofobia é o medo ou ansiedade em relação a fazer e receber chamadas telefônicas”, disse Baxter ao CNBC Make It em uma entrevista.

“Eles [Geração Z] simplesmente não tiveram a oportunidade de fazer e receber ligações. Hoje, essa não é a principal função dos telefones; eles podem fazer de tudo no celular, mas automaticamente recorrem a mensagens de texto, áudios e qualquer outra coisa, exceto usar o telefone para o que ele foi originalmente criado. Com isso, as pessoas perderam essa habilidade”, explicou.

Baxter afirmou que muitos alunos mais velhos da faculdade precisam passar por entrevistas telefônicas como parte do processo seletivo para empregos e acabam “falhando nesse primeiro obstáculo” porque não sabem como conduzir uma ligação e não têm confiança para isso.

“Em uma turma de 25 a 30 alunos, eu diria que pelo menos três quartos deles sentem e admitem ter ansiedade ao usar o telefone”, disse ela.

O seminário sobre telefonofobia da faculdade faz parte de uma série de sessões voltadas para carreiras, com o objetivo de ajudar os alunos a recuperar suas habilidades telefônicas.

A sessão envolve a prática de diferentes cenários do dia a dia, como ligar para marcar uma consulta médica, avisar que está doente no trabalho, entre outras situações. Os alunos sentam-se de costas um para o outro para simular uma ligação real, onde não conseguem ver a outra pessoa, e praticam usando roteiros.

Baxter afirma que participar de apenas uma sessão já melhora a confiança dos alunos, pois desmistifica o funcionamento das ligações telefônicas.

Ela também aponta que o crescimento da telefonofobia pode estar relacionado à pandemia de Covid-19, período em que os jovens ficaram extremamente isolados.

“Se eles perderam dois anos de interações sociais e do fluxo natural das conversas, isso obviamente influencia a forma como se sentem em situações sociais maiores, especialmente quando estão desconfortáveis.”

‘Eles acham que estão rindo deles’

Segundo Baxter, a ansiedade da Geração Z em atender chamadas telefônicas vem do medo do desconhecido.

“Eles associam o telefone tocando com medo”, disse ela. “Não sei quem está ligando. Não sei como lidar com isso.”

Uma pesquisa da Uswitch com 2.000 adultos do Reino Unido em 2024 revelou que quase um quarto dos jovens entre 18 e 34 anos nunca atende ligações telefônicas. Cerca de 61% desse grupo prefere receber uma mensagem em vez de uma chamada de áudio.

Mais da metade dos jovens entre 18 e 24 anos acredita que uma ligação inesperada significa más notícias, enquanto 48% preferem se comunicar por redes sociais, e mais de um terço prefere mensagens de voz.

Outro fator que contribui para a telefonofobia, segundo Baxter, é a preocupação com a forma como soam durante a ligação, já que não têm um retorno visual para avaliar a reação da outra pessoa.

“Curiosamente, muitos de nossos alunos se sentem à vontade no Microsoft Teams porque podem ver as pistas visuais. Eles conseguem ler o rosto da outra pessoa, interpretar suas reações e avaliar como estão indo.

“Acredito que isso contribua bastante para a ansiedade em chamadas apenas de áudio. Eles não podem ver você. Acham que você pode estar rindo deles ou julgando-os, e como não recebem esse retorno visual, não conseguem se tranquilizar sobre o próprio desempenho.”

‘Retomando o controle’

Baxter enfatiza que chamadas telefônicas não precisam ser assustadoras e que existem maneiras fáceis de se preparar para atender uma ligação esperada.

“A melhor coisa sobre chamadas de áudio é que você pode trapacear. Pode usar post-its, anotar lembretes… O fato de não haver um aspecto visual na ligação pode, na verdade, jogar a favor dos alunos, ajudando-os a encontrar as respostas certas.”

Isso começa com a preparação do ambiente: escolher um local tranquilo e seguro, sem interrupções, e garantir que o telefone esteja carregado e funcionando.

Se a ligação for uma entrevista, pesquisar sobre a empresa pode ser útil.

“Escreva um pequeno roteiro, pense no que vai dizer. Isso pode ajudar a minimizar a ansiedade”, disse Baxter. Ter anotações por perto pode servir como um guia durante a conversa.

Por fim, o seminário de telefonofobia também incentiva a prática de exercícios de respiração para ajudar quem se sente ansioso ou sobrecarregado com a ideia de atender uma ligação.

“Encorajamos os alunos a respirar fundo, segurar o ar por alguns segundos, soltar lentamente e perceber como isso desacelera os batimentos cardíacos, ajudando-os a se acalmarem”, explicou Baxter.

Os jovens estão acostumados a associar chamadas telefônicas a situações negativas, mas Baxter ensina seus alunos que alguém pode estar ligando para dar boas notícias, como a aprovação em uma etapa de entrevista ou a aprovação em um exame.

“O objetivo é mostrar que atender uma ligação não é algo perigoso, e que eles têm total controle sobre isso… Encorajamos nossos alunos a retomar o poder e a entender que, se uma ligação não for algo que eles querem, eles têm a opção de simplesmente desligar — e isso lhes dá poder.”

Juliana Colombo

Juliana Colombo é jornalista especializada em economia e negócios. Já trabalhou nas principais redações do país, como Valor Econômico, Forbes, Folha de S. Paulo e Rede Globo.

Este conteúdo foi fornecido pela CNBC Internacional e a responsabilidade exclusiva pela tradução para o português é do Times Brasil.

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