O falecimento do Papa Francisco abriu espaço para reflexões sobre o impacto de seu pontificado e as possíveis direções da Igreja Católica no próximo conclave. Em entrevista ao Real Time, do Times Brasil – Licenciado Exclusivo CNBC, o teólogo e escritor Frei Beto comentou as mudanças promovidas pelo pontífice e os nomes cotados para sucedê-lo.
Segundo o religioso, o próximo conclave pode ser longo e marcado por disputas. “Pelo que escuto de amigos vaticanistas, será um conclave atribulado, possivelmente dure mais de uma semana”, afirmou. Ele relembrou que, na história da Igreja, já houve reuniões muito mais extensas, como um conclave no século XI que durou quatro anos.
Entre os possíveis sucessores, Frei Beto destacou a movimentação de cardeais norte-americanos, que buscam eleger um papa dos Estados Unidos. No entanto, ele afirma que essa possibilidade enfrenta resistência. “Há muita rejeição aos cardeais dos Estados Unidos, seja pela quantidade de dinheiro que têm, seja pela arrogância que demonstram.”
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O entrevistado também apontou o crescimento do catolicismo na África como um fator relevante. Apesar disso, ponderou que os cardeais africanos são, em sua maioria, conservadores, o que poderia representar uma ruptura com a linha adotada por Francisco. “Minha previsão é que teremos de novo um papa italiano”, afirmou. Segundo ele, Francisco nomeou cinco cardeais italianos alinhados ao seu pensamento.
Frei Beto explicou como funciona o conclave, destacando que a votação ocorre na Capela Sistina, com 135 cardeais aptos a votar. Eles escrevem o nome de seu escolhido em uma cédula, que é dobrada e depositada em uma urna. São necessários dois terços dos votos para eleger o novo papa. “Enquanto não houver esse consenso, a fumaça que sai da chaminé é preta”, explicou.
Questionado sobre possíveis mudanças na administração do Vaticano, Frei Beto lembrou que o papa é o único monarca absoluto do Ocidente. “Ele pode mexer na Igreja como quiser”, afirmou. Ressaltou, contudo, que Francisco optou por decisões coletivas, promovendo debates por meio de sínodos. O pontífice, segundo ele, foi rigoroso no controle financeiro e determinou em testamento que seus funerais fossem custeados por um benfeitor, não pelos cofres da Igreja.
Sobre o legado de Francisco, o teólogo citou a encíclica Laudato Si, em que o pontífice responsabiliza grandes grupos econômicos pela degradação ambiental. Segundo Frei Beto, Francisco defendia uma economia voltada para os direitos humanos e chegou a reunir especialistas no projeto “Economia de Clara e Francisco”.
Durante o pontificado, Francisco tentou aprovar mudanças como o fim do celibato obrigatório no Ocidente, a ordenação de mulheres e a inserção de indígenas no clero. As propostas não foram aprovadas, mas o papa nomeou mulheres para cargos de relevância na Cúria Romana. Também permitiu o recasamento de divorciados e o batismo de filhos de casais homoafetivos. “Ele conseguiu que os sacerdotes dessem uma bênção a esses casais, mesmo que sem caráter sacramental”, afirmou.
Frei Beto concluiu que Francisco deixou mudanças incorporadas à doutrina e ampliou o alcance da Igreja. “Ele extrapolou os muros da Igreja. Era o único chefe de Estado europeu respeitado no mundo inteiro”, disse.
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