O Banco Central da Turquia surpreendeu os mercados na quinta-feira (17) ao aumentar a sua taxa de juros diretora, a taxa de recompra a uma semana, de 42,5% para 46%, encerrando o ciclo de flexibilização iniciado em dezembro do ano passado.
A decisão surge na sequência das perturbações econômicas causadas pelas tarifas impostas pelos EUA e da grande agitação política e fuga de investidores após a detenção do prefeito de Istambul e líder da oposição, Ekrem Imamoglu, em março.
“A decisão de manter uma postura monetária restritiva está reforçando o processo de desinflação através da moderação da procura interna, da apreciação real da lira turca e da melhoria das expectativas de inflação”, escreveu o Comité de Política Monetária da Turquia na declaração que acompanha a sua decisão.
O comité citou “os potenciais efeitos do crescente protecionismo no comércio mundial sobre o processo de desinflação através da atividade econômica mundial, dos preços das commodities e dos fluxos de capital” e afirmou que “a postura monetária restritiva será mantida até que a estabilidade dos preços seja alcançada através de um declínio contínuo da inflação”.
A inflação anual na Turquia atingiu 38,1% em março.
O aumento da taxa de juros ocorre em meio a uma significativa desvalorização da moeda estrangeira, já que o banco central turco gastou até US$ 25 bilhões em três dias após a prisão de Imamoglu e os protestos subsequentes, em 19 de março, para defender a lira, que chegou a cair brevemente para uma mínima histórica de mais de 40 por dólar americano. Os mercados turcos inicialmente despencaram com a notícia da prisão, e o governo do país, em 23 de março, proibiu as vendas a descoberto e flexibilizou as regras de recompra, em um esforço para impulsionar as ações.
Em 20 de março, a queda da lira levou o banco central a realizar um aumento emergencial de 200 pontos-base, que elevou sua taxa de empréstimo overnight para 46,00%, o teto de sua faixa de juros.
O aumento da taxa de juros desta quinta-feira (17) é, portanto, um ajuste em grande parte técnico após os acontecimentos de março, de acordo com Brad Bechtel, chefe global de FX da Jefferies.
“Veremos o que (o presidente turco Recep) Erdogan tem a dizer sobre as medidas do banco central, mas até agora o banco central tem feito um bom trabalho navegando pelo ruído político em sua luta contínua contra a inflação”, escreveu a Bechtel em nota após o anúncio do banco na quinta-feira.
A medida do banco central “formalizaria o aperto adotado no mês passado e sugere que as autoridades monetárias estão mais preocupadas com os riscos de alta para a inflação”, escreveu Nicholas Farr, economista emergente especializado em Europa da Capital Economics, em análise nesta quinta-feira (17).
A declaração do comitê monetário “destacou os riscos de uma lira mais fraca e que as autoridades monitorariam de perto os fluxos de capital em meio à atual incerteza em torno do protecionismo comercial dos EUA”, escreveu Farr.
Analistas da Capital Economics avaliam que a inflação na Turquia está em trajetória de queda nos próximos meses e não preveem novos apertos.
“Mas está claro”, acrescentou a nota, “que o ciclo de flexibilização do banco central encontrou um grande obstáculo e pode levar algum tempo até que o ciclo de flexibilização seja reiniciado. Agora, projetamos que a taxa repo de uma semana encerre o ano em 40,00% (anteriormente 35,00%).”
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Este conteúdo foi fornecido pela CNBC Internacional e a responsabilidade exclusiva pela tradução para o português é do Times Brasil.
