Tensões comerciais entre EUA e China geram impacto para o Brasil, avalia professor da FGV
Publicado 11/04/2025 • 13:40 | Atualizado há 4 dias
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Publicado 11/04/2025 • 13:40 | Atualizado há 4 dias
KEY POINTS
As novas medidas tarifárias adotadas pelos Estados Unidos contra a China reacenderam as preocupações sobre os efeitos da disputa comercial no mercado internacional. O professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Pedro Brites, avaliou, em entrevista ao jornal Real Time, do Times Brasil – Licenciado Exclusivo CNBC, os possíveis reflexos da escalada entre os dois países para a economia brasileira.
“A guerra comercial iniciada por Trump já traz efeitos pro Brasil”, afirmou Brites. Segundo ele, a tarifa de 10% anunciada pelos Estados Unidos não representa o cenário mais grave para o Brasil no momento, mas as consequências podem se manifestar em outras frentes.
“O Brasil não está entre os mais prejudicados no momento imediato, mas a gente tem que pensar em todas as cadeias de eventos que decorrem disso”, explicou. Entre os pontos destacados, o professor apontou o risco de redirecionamento de produtos chineses para mercados já ocupados pelo Brasil. “Será que eles não vão ocupar outros mercados que o Brasil hoje ocupa ou entrarem aqui no Brasil e serem concorrentes fortes para a indústria brasileira?”, questionou.
De acordo com Brites, esse tipo de movimentação pode afetar o país no médio prazo. Além disso, o professor ressaltou que a disputa prejudica o ambiente institucional internacional, com impacto direto sobre a estratégia de inserção global adotada historicamente pelo Brasil.
“O Brasil sempre confiou muito nas instituições internacionais como principal mecanismo de inserção global. À medida que você tem uma crise desse tipo, onde as instituições perdem força, onde os países acabam adotando medidas unilaterais, isso enfraquece a posição brasileira de forma geral”, disse.
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O professor também comentou os efeitos sobre setores específicos da economia. Ele citou o caso do aço, que mesmo após a aplicação de uma tarifa de 25% pelos Estados Unidos, teve aumento nas exportações brasileiras. Para Brites, o comportamento foi pontual. “É um setor muito específico, já tinha encomendas feitas também. Nem todos os setores da nossa economia são tão resilientes”, pontuou.
Entre os setores mais vulneráveis, Brites destacou os produtos industrializados, como aeronaves e bens com maior valor agregado. “Os Estados Unidos são um parceiro muito relevante pro Brasil, principalmente no que diz respeito aos nossos produtos industrializados. Além do aço, os aviões também. Eventualmente, uma desaceleração ou um enfraquecimento do mercado americano pode impactar na absorção desses produtos”, afirmou.
O professor alertou que a inflação nos Estados Unidos, caso resulte em um cenário recessivo, poderá atingir diretamente exportações brasileiras. “Se a gente pensa na consolidação de um cenário inflacionário na economia americana e eventualmente uma hipótese de recessão, isso pode impactar essas exportações para esses setores que são centrais, principalmente para as economias aqui do sudeste brasileiro”, avaliou.
Sobre os impactos inflacionários no Brasil, Brites disse que o cenário internacional afeta diretamente os preços internos, principalmente de alimentos e combustíveis. “A gente já tem uma dependência de muitos produtos que são calculados a partir do mercado internacional de commodities. Isso impacta principalmente a inflação sobre alimentos”, observou.
O professor acrescentou que a oscilação cambial amplia essa pressão. “Se a gente pensa naquele boom de dólar chegar a mais de R$ 6, isso gera efeitos em cascata pra economia brasileira, o que gera uma pressão inflacionária que já tem sido uma preocupação do governo e do Banco Central nos últimos meses”, afirmou.
Na avaliação de Brites, setores como o de carnes podem se beneficiar da nova configuração do comércio global, caso o Brasil não seja incluído em tarifas mais elevadas. “O setor de carnes ali na frente também pode ser um importante parceiro, porque se essas tarifas começarem a valer e se outros parceiros de fato forem taxados, o Brasil por ter recebido menos tarifas pode conseguir ganhar mercados de outros concorrentes nesses setores”, explicou.
O professor também apontou possíveis ganhos com acordos comerciais em negociação. “Será que isso não abre espaço pro Brasil ganhar mais mercados na Europa, à medida que nós avançamos num acordo com a União Europeia? No Japão, por exemplo, onde o presidente Lula recentemente fez viagem?”, disse. “Tem essas oportunidades em alguns setores chaves.”
A postura da China em resposta às tarifas americanas também foi analisada. O professor observou que o país asiático respondeu com aumento de tarifas para até 125% e reforçou seu compromisso com as instituições multilaterais.
“A China tenta se colocar globalmente. À medida que a China toma medidas de responder de forma proporcional às medidas tomadas pelos Estados Unidos, mas sem tentar escalar essa guerra comercial, ela evita isso. É uma tentativa de se mostrar como um parceiro confiável pros outros países”, afirmou.
Segundo ele, a China acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC) como forma de demonstrar confiança no sistema multilateral. “Foi simbólico nesse sentido o fato de a China ter reivindicado junto à OMC, ou seja, mostrando que ela confia nas instituições internacionais.”
No plano interno, a necessidade de demonstrar firmeza diante das medidas americanas também é uma preocupação para o governo chinês. “A China não vai poder deixar de retaliar em alguma medida, pois isso poderia ter um impacto negativo dentro da China. Mostrar fraqueza diante das pressões dos Estados Unidos enfraqueceria o próprio discurso de soberania chinesa”, explicou.
Brites avaliou que a estratégia da China é manter firmeza, mas evitar escalar o conflito. “Ela tenta botar um freio, botar um pouco de panos quentes, mas sem demonstrar vulnerabilidade. Jogando parada, numa posição mais conservadora, esperando os movimentos dos Estados Unidos e tentando reagir a eles”, concluiu.
O professor também comentou a reunião entre o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Comércio da China, Wang Wentao. O encontro reforçou os laços comerciais entre os dois países.
“A China já vem há um tempo tentando se consolidar como parceiro de países chaves em regiões que ela tem aumentado sua participação, e a América Latina é uma delas. Nesse caso, o Brasil é um parceiro muito relevante”, afirmou Brites.
Para ele, a relação sino-brasileira deve se fortalecer como parte da estratégia da China de reposicionamento no cenário global. “Essa aproximação com o Brasil tem relevância de aproximação de mercados, gerando oportunidades de negócios que são fundamentais para a China nesse momento.”
Brites disse ainda que essa relação ajuda a reforçar o papel da China no grupo dos BRICS e no G20. “Recoloca a China como um player fundamental, como um dos protagonistas dessas negociações a partir do Sul Global”, afirmou.
Por fim, ele avaliou que o Brasil também tem interesse em manter esse canal de diálogo. “A China é o nosso principal parceiro comercial e também reforça essa necessidade mútua de confiarem nas instituições internacionais. Foi um pouco do tom do que a gente viu na conversa entre o vice-presidente Alckmin e o ministro do Comércio chinês.”
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