Trump ignora pedidos de empresários por mais clareza sobre tarifas

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, minimizou as preocupações de CEOs, investidores e formuladores de políticas que pedem maior transparência sobre sua política tarifária. “Eles sempre dizem isso. ‘Queremos clareza’”, afirmou Trump em entrevista à Fox News exibida no domingo (9).

Para o presidente, as empresas já têm informações suficientes sobre as tarifas. “Eles têm bastante clareza”, disse à apresentadora Maria Bartiromo, do programa Sunday Morning Futures.

Os apelos do setor empresarial à Casa Branca por diretrizes mais concretas, segundo Trump, não passam de discursos vazios. “Eles apenas usam isso — quase como um bordão.”

Questionado se haverá mais clareza para o meio empresarial, a resposta do presidente foi ambígua:

“Acho que sim, mas, veja, as tarifas podem aumentar com o tempo. E elas podem subir. E, sabe, não sei se isso é previsibilidade.”

Bartiromo rebateu: “Isso não é clareza.”

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Mercado reage com queda nas bolsas

Um dia após a entrevista, os mercados abriram em queda, refletindo a incerteza econômica gerada pelas declarações de Trump.

O índice Dow Jones caiu 400 pontos, o equivalente a 1%. O S&P 500 recuou 1,4%, enquanto o Nasdaq teve queda de 2%. Ainda pela manhã, o S&P 500 e o Nasdaq atingiram seus menores patamares desde setembro de 2024.

As declarações de Trump encerraram uma semana turbulenta para a economia americana, marcada pela falta de previsibilidade sobre suas tarifas e pelo desempenho volátil do mercado financeiro.

O S&P 500 caiu 3,1% na semana, registrando sua pior marca desde setembro. O Dow Jones perdeu 2,37%, enquanto o Nasdaq recuou 3,45%.

No centro da instabilidade, estão as tarifas de 25% sobre importações do Canadá e do México, que foram inicialmente adiadas por um mês, depois retomadas na terça-feira (4), reduzidas na quarta-feira (5) e, por fim, parcialmente suspensas na quinta-feira (6).

Economia pode sentir impactos negativos

Enquanto a administração Trump tenta equilibrar sua política comercial, o governo já admite que os americanos podem enfrentar dificuldades econômicas, como aumento de preços. No entanto, insiste que os impactos negativos serão passageiros.

A constante mudança de postura da Casa Branca tem deixado investidores incertos sobre os próximos passos. Enquanto Trump minimiza os efeitos de sua política comercial, analistas de Wall Street veem riscos crescentes.

“Seguimos sem clareza sobre a economia diante do caos provocado por Trump”, escreveu Byron Anderson, chefe de renda fixa da Laffer Tengler Investments, em relatório.

“Quanto mais tempo esse cenário de turbulência persistir, maior a probabilidade de os indicadores econômicos começarem a apresentar tendência negativa”, acrescentou.

A Casa Branca não se pronunciou sobre os pedidos de esclarecimento em relação às tarifas e às incertezas causadas por sua agenda econômica.

Semana decisiva para o mercado financeiro

Nos próximos dias, uma série de novos dados econômicos deve testar as diferentes perspectivas sobre o cenário econômico.

Nesta segunda-feira (10), será divulgado o levantamento do Federal Reserve de Nova York sobre expectativas dos consumidores. Na quarta-feira (12), saem os números do índice de preços ao consumidor (CPI) de fevereiro.

Na quinta-feira (13), será divulgado um novo conjunto de dados sobre preços ao produtor. A semana se encerra na sexta-feira (14) com a publicação do índice de sentimento do consumidor da Universidade de Michigan.

Com a administração Trump iniciando uma reavaliação das relações comerciais dos EUA, os impactos da incerteza podem ser ainda mais acentuados.

“O mercado teme mais a incerteza do que as más notícias”, afirmou Mark Malek, diretor de investimentos da Siebert Financial. “Tarifas de 25% são mais fáceis de precificar do que ‘talvez 10%, talvez mais, talvez menos’.”

Banco Central americano também busca clareza

Não são apenas empresas e investidores que precisam de mais previsibilidade antes de tomar grandes decisões. O Federal Reserve, banco central dos EUA, também aguarda definições.

Na sexta-feira (7), o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que a instituição está “bem posicionada para esperar por mais clareza” enquanto o governo Trump implementa mudanças significativas em quatro áreas: comércio, imigração, política fiscal e regulamentação.

“O efeito líquido dessas mudanças será determinante para a economia e para a condução da política monetária”, disse Powell durante um evento sobre política econômica nos EUA.

Por enquanto, acrescentou, a incerteza sobre essas mudanças e seus impactos permanece elevada.

“Estamos focados em separar o sinal do ruído à medida que o cenário econômico evolui”, concluiu o presidente do Fed.

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