Justin Trudeau renuncia ao cargo de primeiro-ministro do Canadá

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, renunciou ao cargo nesta segunda-feira (6). Em coletiva, ele anunciou que ficará no cargo até que seja escolhido o novo líder do Partido Liberal.

“Tenho a intenção de renunciar como líder do partido e como primeiro-ministro após o partido escolher seu próximo líder por meio de um processo robusto”, declarou Trudeau. Ele também informou que o parlamento canadense será prorrogado até março.

A imprensa local já havia divulgado que Trudeau poderia anunciar sua saída antes de uma reunião importante do caucus nacional na próxima quarta-feira (8).

A recente crise política no Canadá começou com a saída abrupta de Chrystia Freeland, ex-aliada de Trudeau e então vice-primeira-ministra e ministra das Finanças, que renunciou em dezembro. Freeland citou divergências sobre como o governo canadense deveria responder ao nacionalismo econômico dos Estados Unidos sob a futura administração de Donald Trump.

Desde então, Dominic LeBlanc foi nomeado para assumir a pasta das Finanças.

Trajetória de Trudeau

Trudeau, de 53 anos, está no cargo desde 2015 e foi reeleito duas vezes. Contudo, sua popularidade entre os eleitores despencou para apenas 19% após a saída de Freeland, de acordo com pesquisa da Abacus Data divulgada em 17 de dezembro.

Um relatório do instituto Angus Reid, publicado em 30 de dezembro, classificou 2024 como um “ano difícil para os liberais federais” e apontou apenas 16% de apoio popular ao partido – o nível mais baixo desde que o instituto começou a monitorar esses dados, em 2014.

O Partido Conservador, principal força de oposição, lidera as pesquisas com mais de 20 pontos percentuais de vantagem, a poucos meses das eleições gerais previstas para outubro. O líder conservador, Pierre Poilievre, ganhou elogios do empresário Elon Musk, aliado de Trump, que recentemente elogiou uma entrevista concedida por Poilievre.

Apesar das crescentes pressões para renunciar, Trudeau vinha resistindo à ideia desde meados de dezembro. Além disso, o Partido Liberal não possui mecanismos internos para destituir seu líder sem consentimento.

Em um novo golpe contra Trudeau, Jagmeet Singh, líder do Novo Partido Democrático (NDP), aliado à esquerda, anunciou no dia 20 de dezembro, por meio de uma carta aberta, que apresentará uma moção para derrubar o governo liberal e abrir caminho para uma eleição antecipada.

“Justin Trudeau falhou na tarefa mais importante de um primeiro-ministro: trabalhar para o povo e não para os poderosos”, declarou Singh, segundo tradução da CNBC. “Os liberais de Justin Trudeau fizeram muitas promessas bonitas, mas repetidamente decepcionaram o povo.”

Trudeau tem enfrentado dificuldades econômicas no Canadá, que conseguiu reduzir a inflação para abaixo da meta de 2% apenas em novembro, mas ainda sofre com o alto endividamento das famílias, aumento do desemprego, o pior desempenho em produtividade da OCDE em 2023 e uma forte dependência econômica dos Estados Unidos.

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, que já ridicularizou Trudeau como “governador”, sugeriu a possibilidade de impor tarifas de 25% ao Canadá e até mencionou anexação. As divergências sobre como lidar com o “nacionalismo econômico agressivo” de Trump foram o ponto final para Freeland, que se afastou de Trudeau em dezembro.

“Precisamos levar essa ameaça muito a sério”, alertou Freeland em sua carta de renúncia, destacando os “grandes desafios apresentados pelos Estados Unidos” e pedindo uma resposta determinada para combater o nacionalismo econômico “América em primeiro lugar”, defendendo investimentos e empregos no Canadá.

Naty Falla

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