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Vida nas organizações Joaquim Santini

No Olho do Furacão: desvendando a cultura do excesso nas organizações contemporâneas

Publicado 15/04/2025 • 13:08 | Atualizado há 3 dias

Joaquim Santini

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Joaquim Santini

Pesquisador e Palestrante Internacional sobre a vida nas organizações.

Mulher cansada no trabalho

Cultura do excesso

Pexels

No coração das empresas modernas, um furacão implacável se forma, alimentado pela cultura do excesso. Esse fenômeno, que gira cada vez mais rápido, drena a vida das organizações, deixando um rastro de destruição em seu caminho. No centro desse turbilhão, encontramos empresas sufocadas, lutando desesperadamente para sobreviver, com seus gritos de socorro abafados pelo rugido ensurdecedor do excesso corporativo.

Nascido da ambição desenfreada e da busca incansável por lucros, este furacão ganha força a cada dia. Seus ventos violentos, compostos por práticas de trabalho tóxicas, expectativas irrealistas e uma mentalidade de "sempre mais", arrancam a humanidade das organizações, deixando apenas estruturas vazias e almas esgotadas em seu rastro.

Diante desse cenário, uma questão se impõe: até quando esse furacão poderá continuar sua destruição? Até quando as empresas suportarão o peso esmagador da cultura do excesso? É hora de enfrentar a tempestade, de navegar para fora do olho do furacão e buscar um caminho mais sustentável.

A cultura do excesso se manifesta quando a produtividade e o desempenho são colocados no topo das prioridades organizacionais, frequentemente em detrimento da saúde, do equilíbrio emocional, da qualidade de vida dos colaboradores e da sustentabilidade do planeta. Expectativas irrealistas, metas excessivamente ambiciosas e jornadas extenuantes tornam-se rotineiras, criando um ambiente de constante pressão para superar limites pessoais e profissionais.

Diversos fatores contribuíram para o fortalecimento dessa cultura no contexto empresarial atual: o avanço veloz da globalização, a intensificação da competitividade em escala global, as rápidas mudanças tecnológicas e a crescente financeirização da economia. Esses elementos impulsionaram as empresas em direção a estratégias agressivas de expansão e inovação, pressionando por resultados imediatos e lucros cada vez maiores.

Os sinais da cultura do excesso nas organizações são complexos e multifacetados, manifestando-se de maneiras sutis, mas com impactos significativos no desempenho dos colaboradores e na essência dos valores e objetivos da empresa. Um dos elementos mais pronunciados é o comportamento workaholic, impulsionado por uma voz interior crítica e exigente, que pressiona o indivíduo a buscar incessantemente realizações profissionais para compensar uma sensação de inadequação. Esse comportamento é frequentemente reforçado pela cultura organizacional que valoriza o excesso de trabalho como sinal de comprometimento, levando os funcionários a negligenciarem sua saúde física e mental em prol das demandas corporativas.

Outro sinal de alerta é a comunicação excessiva, com organizações criando um fluxo contínuo de informações que mais confunde do que esclarece. Mensagens desencontradas, e-mails e grupos de WhatsApp em excesso e reuniões intermináveis prejudicam a performance dos colaboradores e podem levar ao esgotamento mental. É fundamental estabelecer políticas claras de comunicação e incentivar momentos de desconexão e foco.

O consumismo desenfreado permeia as práticas organizacionais, refletindo uma mentalidade que valoriza a ostentação e a superficialidade. Os colaboradores, motivados pela busca por reconhecimento através do consumo conspícuo, se veem aprisionados em um ciclo vicioso de desperdício e degradação ambiental. A reflexão sobre a importância de um consumo sustentável e responsável torna-se essencial para a criação de uma cultura organizacional que busca a consciência ambiental e o bem-estar emocional de seus membros.

A competitividade exacerbada transforma ambientes colaborativos em arenas de rivalidade, onde a constante comparação entre colaboradores e equipes gera um clima de tensão e desconfiança. A mentalidade de "vencer a qualquer custo" pode levar a um ambiente de competição tóxica, afetando negativamente a saúde mental e o desempenho dos colaboradores. É crucial que as organizações cultivem um espírito de equipe e valorizem o crescimento individual e o aprendizado contínuo.

Além disso, a burocracia organizacional aprisiona os funcionários em um emaranhado de procedimentos e regulamentações sufocantes, consumindo tempo e energia preciosos e aumentando o estresse e a frustração. É vital que as organizações analisem e simplifiquem suas estruturas, criando um espaço onde a informação flua com naturalidade e a inovação possa prosperar livremente.

Os impactos dessa cultura são profundos e preocupantes. O aumento generalizado dos casos de estresse crônico, ansiedade e burnout compromete diretamente a saúde física e mental dos colaboradores. Além disso, os vínculos afetivos, a empatia e a confiança interpessoal são progressivamente enfraquecidos, dificultando a construção de relações saudáveis e cooperativas. Como consequência, observa-se uma alta rotatividade, queda da produtividade real e esgotamento da criatividade e do potencial inovador das equipes.

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É essencial compreender que, nas relações organizacionais, operam dinâmicas subjetivas e processos inconscientes que influenciam significativamente o comportamento individual e coletivo. As relações entre colaboradores são atravessadas por projeções, identificações e fantasias inconscientes, que tanto podem fortalecer quanto fragilizar o ambiente organizacional. Frequentemente, os grupos estabelecem vínculos baseados em alianças inconscientes, pactos tácitos de silêncio ou negação, e contratos implícitos que podem sustentar tanto a cooperação saudável quanto perpetuar situações de sofrimento e alienação emocional.

Nesse contexto, é crucial que as empresas reconheçam e acolham essas dinâmicas subjetivas e intersubjetivas presentes nos grupos e equipes de trabalho. Para transformar a cultura do excesso em uma cultura de cuidado e bem-estar, é necessário criar espaços seguros de diálogo e escuta ativa, permitindo que os colaboradores expressem livremente suas experiências, angústias e expectativas. Esses espaços coletivos favorecem a elaboração conjunta das dificuldades vivenciadas, permitindo aos sujeitos ressignificar suas experiências, superar bloqueios emocionais e reconstruir juntos formas mais saudáveis e sustentáveis de trabalhar em equipe.

Para enfrentar efetivamente a cultura do excesso, as empresas devem adotar uma abordagem genuinamente centrada no ser humano. Isso significa priorizar qualidade sobre quantidade, estabelecer expectativas realistas e metas sustentáveis, incentivar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, promover ativamente a colaboração e o trabalho em equipe, valorizar a saúde mental e emocional dos funcionários e simplificar processos organizacionais para reduzir a burocracia excessiva.

É igualmente importante evitar práticas que reforcem comportamentos nocivos: ignorar sinais claros de estresse e sofrimento emocional, alimentar a competitividade tóxica e o individualismo excessivo, glorificar a dedicação extrema ao trabalho como sinônimo de comprometimento, negligenciar vínculos afetivos e empáticos entre colegas e manter estruturas organizacionais rígidas e burocráticas.

A cultura do excesso representa uma ameaça real e significativa para as empresas contemporâneas, seus colaboradores e para o planeta. Ao navegar por esse furacão corporativo, torna-se urgente repensar valores, práticas e prioridades organizacionais, colocando genuinamente o ser humano no centro das decisões estratégicas e operacionais. Somente dessa forma será possível construir ambientes de trabalho mais saudáveis, éticos e sustentáveis, onde o bem-estar e a realização pessoal caminhem lado a lado com resultados e prosperidade. Embora desafiadora, essa mudança é imprescindível à sobrevivência e ao sucesso das organizações no complexo cenário atual.

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