O preço do memecoin de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, despencou 16% poucas horas após ele realizar um jantar de gala em seu clube de golfe na Virgínia para seus maiores compradores – um público de elite que gastou um total de US$ 148 milhões (cerca de R$ 836,2 milhões, na cotação atual) no token para ter a chance de estar lá.
Foi anunciado como “o convite mais exclusivo do mundo”. Entre os 220 presentes estavam influenciadores de criptomoedas, executivos do setor, como Sandy Carter da Unstoppable Domains, e o ex-astro da NBA, Lamar Odom, que aproveitou a ocasião para elogiar Trump como “o maior presidente” e promover seu próprio token, $ODOM.
Os 25 maiores investidores receberam a promessa de uma recepção privativa e visita guiada. Outros, como Nicholas Pinto, de 25 anos — cujo pai o levou ao evento em sua Lamborghini — saíram decepcionados e famintos.
“A comida era péssima”, disse Pinto. “Não me serviram nenhuma bebida além de água ou o vinho do Trump. Eu não bebo, então tomei água. Meu copo só foi enchido uma vez”.
Trump fez uma breve aparição. “Ele não conversou com nenhum dos 220 convidados — talvez com os 25 maiores”, disse Pinto.
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Os celulares não foram trancados em bolsas, e a segurança era frouxa, de acordo com Pinto. “Depois que Trump saiu, eles não se preocuparam muito com mais nada”, ele acrescentou.
Havia ostentação à mostra. “Relógios Richard Mille eram comuns”, disse Pinto. “Vi pelo menos 16 pessoas usando-os. Nunca vejo isso, a menos que esteja em um restaurante de alto nível em Miami ou Dubai”.
Mas o clima estava mais contido do que o esperado, ele disse: “Muitas pessoas nem tinham mais o token. Elas estavam verificando seus celulares durante o jantar para ver se o preço mudava”.
A CNBC entrou em contato com representantes de Trump para comentários sobre o jantar e os participantes.
Protestos
Para legisladores e reguladores, o jantar foi um alerta.
O maior detentor do token era o magnata de criptomoedas nascido na China, Justin Sun, que atualmente enfrenta acusações de fraude pela Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês) que foram recentemente suspensas, com a agência citando “o interesse público”.
Sun possui mais de US$ 22 milhões (R$ 124,3 milhões) no token $TRUMP e outros US$ 75 milhões (R$ 423,8 milhões) no token nativo da World Liberty Financial.
“Como o maior detentor de $TRUMP e orgulhoso apoiador do presidente Trump, foi uma honra participar do Jantar de Gala de Trump”, postou Sun nesta sexta-feira (23). “Obrigado @POTUS pelo seu apoio inabalável à nossa indústria!”.
Fora dos portões do Trump National Golf Club, em Potomac Falls, Virgínia, cerca de cem manifestantes se reuniram, de acordo com a NBC News. O senador Jeff Merkley, democrata de Oregon, juntou-se a eles, apoiando um novo projeto de lei contra a corrupção em criptomoedas com o líder da minoria no Senado Chuck Schumer, democrata de Nova York.
Os cartazes diziam “Corrupção em Cripto” e “Trump é um traidor”.
Criptomoeda no Capitólio
“A atividade da família Trump no espaço dos meme coins torna meu trabalho no Congresso mais complicado”, disse o representante French Hill, republicano do Arkansas, à CNBC na sexta-feira.
Hill, que está liderando as negociações sobre um projeto de lei bipartidário conhecido como GENIUS Act, chamou o jantar de “uma distração do bom trabalho que precisamos fazer”.
Agora, o GENIUS Act, um projeto para regular stablecoins, está em risco.
O senador Josh Hawley, republicano do Missouri, recentemente adicionou uma cláusula controversa ao projeto que limitaria as taxas de atraso de cartões de crédito — o que é visto como uma armadilha que poderia alienar aliados bancários e atrasar a aprovação final.
Na noite de quinta-feira (22), enquanto o jantar do concurso de meme coin acontecia, um bloco de senadores democratas anunciou que pressionaria por uma nova disposição que proibiria presidentes e altos funcionários de lucrar com empreendimentos em criptomoedas enquanto estivessem no cargo — um desafio direto ao stablecoin USD1 vinculado a Trump que foi lançado recentemente.
Em Washington, há uma crescente preocupação de que as disputas políticas em torno dos empreendimentos em criptomoedas de Trump possam descarrilar o projeto de lei dos stablecoins. Isso representa um risco ainda maior.
Segundo o Wall Street Journal, JPMorgan, Bank of America, Citi e outros grandes bancos estão em negociações iniciais para emitir um dólar digital unificado para competir com a Tether, o stablecoin controlado por estrangeiros que agora comanda mais de 60% do mercado global.
Esses planos dependem de clareza legal.
Se o GENIUS Act estagnar, os EUA podem perder sua janela para recuperar terreno na corrida global por pagamentos digitais.
A Casa Branca tentou traçar uma linha entre Trump presidente, e Trump empresário privado.
“O presidente está participando em seu tempo pessoal. Não é um jantar da Casa Branca”, disse a secretária de imprensa Karoline Leavitt aos repórteres quando pressionada sobre a transparência dos participantes.
O governo se recusou a divulgar uma lista de convidados. Mas dados de blockchain — e uma colcha de retalhos de fotos dos convidados — contam parte da história.
Uma análise da Bloomberg News mostrou que 19 dos 25 maiores compradores usaram exchanges estrangeiras, ostensivamente fora dos limites para usuários dos EUA. Mais da metade dos 220 maiores investidores estavam ligados a plataformas offshore semelhantes.
A Freight Technologies, uma ação de baixo valor listada na Nasdaq, divulgou em um documento da SEC que gastou US$ 2 milhões (R$ 11,3 milhões) no token de Trump para promover a política comercial EUA-México. Não conseguiu um lugar no jantar — ficando em 250º lugar.
Desde sua estreia em janeiro, o coin $TRUMP gerou mais de US$ 324 milhões (R$ 1,83 bilhão) em taxas de negociação. Cerca de 80% do fornecimento de tokens $TRUMP é controlado pela Trump Organization e afiliados, de acordo com o site do projeto.
WLFI, o token paralelo de Trump, vendeu US$ 550 milhões em duas vendas de tokens.
Ainda assim, o chefe de IA e criptomoedas da Casa Branca, David Sacks, permaneceu otimista quanto ao “apoio bipartidário significativo” para a legislação de stablecoins.
“Já temos mais de US$ 200 bilhões (R$ 1,13 trilhão) em stablecoins — só não são regulamentados”, disse Sacks ao “Closing Bell Overtime” da CNBC na última quarta-feira (21). “Se fornecermos a clareza legal e o marco legal para isso, acho que poderíamos criar trilhões de dólares em demanda por nossos títulos praticamente da noite para o dia, muito rapidamente”.
“Temos todas as expectativas agora de que vai passar,” acrescentou Sacks, embora ele não tenha respondido a uma pergunta sobre as preocupações dos democratas de que não há salvaguardas suficientes para impedir que o presidente e sua família lucrem com a legislação.
Enquanto Sacks vendeu US$ 200 milhões (R$ 1,13 bilhão) em participações relacionadas a criptomoedas antes de assumir seu cargo na Casa Branca, segundo um documento divulgado, Trump e sua família têm se empenhado em construir um império de criptomoedas.
Os Trumps são financiadores da World Liberty Financial, que está por trás do stablecoin UDS1, que é lastreado por títulos e depósitos em dólares.
O fundo de investimento MGX de Abu Dhabi recentemente prometeu US$ 2 bilhões (R$ 11,3 bilhões) em USD1 para a Binance, a maior exchange de ativos digitais do mundo. É o maior investimento da empresa feito em criptomoedas até hoje.
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Este conteúdo foi fornecido pela CNBC
Internacional e a
responsabilidade exclusiva pela tradução para o português é do Times Brasil.
