Ambipar despenca quase 30% com o anúncio de recuperação judicial e acusações a ex-CFO; analista vê crise de confiança prolongada

As ações da Ambipar (AMBP3) despencaram 29,31% nesta terça-feira (21), em meio à maior crise da história da empresa, que entrou com pedido de recuperação judicial e acusa o ex-diretor financeiro João Daniel Piran de Arruda de ter empurrado a companhia “para a beira do precipício”. Como os papéis foram excluídos dos nove índices da B3 no início do mês, a forte queda não influenciou o Ibovespa, que também recuou nesta terça-feira.

A Ambipar levou à Justiça acusações formais contra Arruda, apontado como responsável por decisões que teriam precipitado a crise financeira e o colapso de liquidez. A empresa cita aditivos desastrosos em contratos de swap cambial com o Deutsche Bank, que resultaram em chamadas de margem sucessivas e acenderam o alerta para vencimentos cruzados junto a outras instituições financeiras. A defesa do ex-diretor nega as acusações e sustenta que ele não assinou os contratos mencionados.

Para o analista Felipe Machado, o caso simboliza uma reviravolta impressionante na trajetória da companhia, que passou “do céu ao inferno” em menos de um ano. Após ser uma das queridinhas do mercado no auge da agenda ESG, com valorização de 3.000% em 2024, a Ambipar acumula perdas superiores a 90% desde então. Machado avalia que a disputa judicial com o ex-CFO tende a prolongar a crise de confiança e dificultar o processo de recuperação, reforçando a necessidade de transparência e responsabilização na gestão.

O analista lembra que a Ambipar se destacou por atuar em soluções ambientais e gestão de resíduos, num momento em que investidores buscavam empresas com perfil sustentável. Entretanto, as mudanças contratuais realizadas em agosto de 2024 foram mal recebidas pelo mercado e provocaram perda abrupta de credibilidade, agravada pelo colapso dos COEs (Certificados de Operações Estruturadas) ligados à companhia. O desdobramento culminou nos pedidos de recuperação judicial no Brasil e nos Estados Unidos, encerrando um ciclo de ascensão meteórica seguido por um colapso sem precedentes.

Ibovespa cai

O Ibovespa B3 fechou em queda de 0,29%, aos 144.085,15 pontos, após um pregão marcado pela volatilidade e pela cautela dos investidores diante de fatores internos e externos.

A derrocada da companhia, que vem acumulando fortes oscilações nas últimas semanas, exerceu pressão sobre o índice e contaminou o sentimento do mercado. Brava Energia (BRAV3) caiu 5,64% e Ambev (ABEV3) recuou 1,62%, enquanto Raízen (RAIZ4) avançou 3,26% e Gol (GOLL54) perdeu 1,21%.

O setor bancário e o de commodities tiveram desempenho misto, com predomínio de cautela e ajustes pontuais após recentes altas.

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As taxas de juros futuras tiveram leve recuo, acompanhando a fraqueza dos rendimentos longos dos Treasuries. A Taxa DI de 20/10 permaneceu em 14,90%, e o Índice DI 21/10 registrou 52.807,80 pontos, refletindo estabilidade nos juros curtos diante de expectativas de manutenção da Selic em 15% por mais tempo.

Dólar fecha em alta leve após sessões de queda

O dólar fechou em alta de 0,36%, cotado a R$ 5,390, após quatro sessões de queda frente ao real. O movimento reflete valorização moderada da moeda americana ante pares desenvolvidos e algumas emergentes ligadas a commodities.

O mercado acompanha a possível nova rodada de negociações comerciais entre Estados Unidos e China e ajustes em políticas fiscais e de crédito nos EUA.

No Brasil, a atenção está no fechamento do orçamento e no impacto da proposta de isenção de IR sobre rendas até R$ 5 mil, que ainda enfrenta divergências políticas.

As commodities, como petróleo e minério de ferro, operaram com leve valorização, ajudando a limitar perdas mais expressivas no mercado doméstico. Ao mesmo tempo, o Ibovespa B3 permaneceu em compasso de espera diante da combinação de fatores fiscais internos e cenário externo incerto.

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