Pacote fiscal: para economista, mercado desconfia da proposta do governo
Publicado sáb, 14 dez 2024 • 3:19 PM GMT-0300 | Atualizado há 61 dias
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Publicado sáb, 14 dez 2024 • 3:19 PM GMT-0300 | Atualizado há 61 dias
KEY POINTS
Em meio às discussões sobre o pacote fiscal apresentado pelo governo, a economista Carla Argenta, da CM Capital, afirmou nesta sexta-feira (13) que, apesar de alguns avanços, a proposta enfrenta uma séria desconfiança do mercado quanto à sua capacidade de solucionar os problemas estruturais da economia brasileira.
Segundo ela, o atual patamar do dólar reflete esse ceticismo e a insegurança dos investidores.
“O patamar atual do dólar é muito representativo da incerteza que cerca os rumos do governo e da economia. Ele já está bastante estressado se contrastarmos com os fundamentos macroeconômicos da economia brasileira, como o PIB elevado, o mercado de trabalho aquecido e uma inflação que, embora acima da meta, ainda não demonstra um quadro de degringolamento”, afirmou Argenta.
De acordo com Argenta, o governo buscou inserir elementos no pacote que dialogassem com as preocupações do mercado, mas as medidas não atingem o nível de austeridade esperado. “O mercado esperava cortes de gastos, mas o que foi apresentado é um pacote de contenção. Existe uma diferença significativa”, disse a economista.
Argenta também destaca que o governo fez um aceno ao mercado financeiro, mas sem entregar exatamente o que era desejado, resultando em ajustes refletidos principalmente no câmbio. “Momentaneamente, o mercado pode ser atendido, mas é difícil imaginar uma resposta estruturalmente positiva a longo prazo com base nesse pacote”, afirmou.
Para a economista, o foco do pacote fiscal é tentar recobrar a confiança do investidor, mas isso não será suficiente para resolver os desequilíbrios estruturais das contas públicas. “Mesmo que o mercado veja a aprovação do pacote como uma sinalização positiva, os elementos essenciais para o equilíbrio do Estado não estão contemplados”, disse.
Argenta aponta que o principal desafio do governo é estabilizar a relação dívida/PIB, que hoje é alta para os padrões internacionais. Segundo ela, esse equilíbrio depende do crescimento econômico, que tende a desacelerar nos próximos anos. “É muito difícil a economia brasileira continuar crescendo no ritmo atual. Devemos ver um movimento mais paulatino em 2025, com desaceleração mais acentuada no segundo semestre”, afirmou.
A economista também ressalta que a preocupação não está diretamente ligada à magnitude dos juros, mas à capacidade do PIB de manter uma relação dívida/PIB estável. “Com o esgotamento dos vetores que impulsionaram o mercado de trabalho e a retirada de estímulos econômicos, o crescimento deve perder força”, afirmou.
No longo prazo, Argenta acredita que, caso o governo cumpra as metas fiscais, a dívida pode ser estabilizada em um patamar elevado, mas que ainda assim seria positivo em relação ao cenário atual. “A estabilização em torno de 80% do PIB seria um grande passo. O desafio é garantir a confiança de que não haverá um aumento ainda maior desse índice”, disse.
Apesar das incertezas, Argenta acredita que alguma aprovação deve ocorrer no Congresso. “Talvez não na magnitude esperada pelo governo, mas alguma coisa deve ser aprovada”, pondera, destacando que este movimento seria fundamental para evitar uma crise ainda mais profunda.