Com corrida global por minerais críticos, ações de terras raras estão em alta

A emergência dos minerais críticos como uma nova arena de competição geopolítica coincidiu com uma valorização vertiginosa das ações de mineradoras de terras raras listadas nos EUA. Apesar de ter reduzido os ganhos nas últimas semanas, as ações da Critical Metals avançaram 241% nos últimos três meses, enquanto a NioCorp Developments, Energy Fuels e Idaho Strategic Resources subiram bem acima de 100% no mesmo período.

Os ganhos surpreendentes são ainda mais notáveis no acumulado do ano. O preço das ações da Energy Fuels quadruplicou nos primeiros 10 meses do ano, enquanto as ações da NioCorp Developments quase quintuplicaram.

As terras raras vieram à tona como uma peça-chave na rivalidade geopolítica em curso entre os EUA e a China, as duas maiores economias do mundo.

Tony Sage, CEO da Critical Metals, que possui um dos maiores depósitos de terras raras do mundo no sul da Groenlândia, descreveu a valorização das mineradoras de terras raras listadas nos EUA como evidência de um grande boom de mercado.

“Eu falo disso assim, quero dizer, houve quatro grandes booms. Você teve o boom do ouro no século XIX, o boom do petróleo no século XX, no início do século XXI você teve o boom da tecnologia — e agora você tem o boom das terras raras”, disse Sage à CNBC por telefone.

“Mas o boom das terras raras é o futuro. Ele impulsionará tudo o que foi dito acima.”

Terras raras se referem a 17 elementos na tabela periódica que possuem uma estrutura atômica que lhes confere propriedades magnéticas especiais. Esses materiais são componentes vitais para uma vasta gama de tecnologias modernas, desde eletrônicos do dia a dia, como smartphones, a veículos elétricos e equipamentos militares.

A China, que detém um quase monopólio sobre as terras raras, recentemente ameaçou expandir seus controles de exportação sobre os elementos para alavancar ainda mais seu domínio da cadeia de suprimentos. No entanto, após uma reunião presencial na Coreia do Sul na quinta-feira entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder chinês Xi Jinping, Pequim concordou em atrasar os controles de exportação de 9 de outubro por um ano.

As ações de terras raras listadas nos EUA valorizaram com a notícia, embora os analistas permaneçam céticos sobre se a aparente trégua comercial pode oferecer alívio a longo prazo.

O presidente dos EUA, Donald Trump, aperta a mão do presidente chinês, Xi Jinping, enquanto realizam uma reunião bilateral no Aeroporto Internacional de Gimhae, à margem da cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), em Busan, Coreia do Sul, 30 de outubro de 2025.

“Como em todos os booms, havia muitas empresas de petróleo que não conseguiam encontrar petróleo e muitas empresas de ouro que não conseguiam encontrar ouro. E tenho certeza de que haverá muitas empresas de terras raras que também não conseguirão — porque quando há um boom, há um burburinho. E quando há um burburinho, há um excesso de entusiasmo nos investimentos”, disse Sage, da Critical Metals.

“Não é uma ascensão reta. É uma linha irregular, mas a tendência está na direção certa se você tiver o projeto certo no lugar certo e tiver os parceiros certos”, acrescentou.

‘Um superciclo muito maior e mais longo’

Kevin Das, consultor técnico sênior da New Frontier Minerals, uma exploradora de terras raras com sede na Austrália, concordou com a descrição de Sage de um boom do mercado de terras raras, ao mesmo tempo em que reconheceu a probabilidade de recuos nos preços das ações.

“As pessoas estão dizendo que estamos em uma tendência de alta no que é um superciclo maior e algumas das evidências por trás disso são que tem havido baixos preços de commodities por algum tempo, tem havido subinvestimento. E agora, com o advento da IA… vamos ver um superciclo muito maior e mais longo”, disse Das à CNBC por telefone.

Das traçou paralelos entre o apoio da administração Biden a projetos de energia limpa, que coincidiu com uma valorização das ações relacionadas ao lítio, e o apoio da administração Trump às terras raras.

“Nos últimos nove a 10 meses em que Trump esteve no poder, ele falou sobre anexar a Groenlândia, falou sobre fazer um acordo com a Ucrânia por terras raras e então o verdadeiro ponto crucial foi este acordo de capital com a MP Materials”, disse Das.

“Então, acho que a pista nos próximos dois a três anos será muito frutífera”, acrescentou.

Nem todos estão tão otimistas com as perspectivas para as ações relacionadas a terras raras, no entanto. Audun Martinsen, chefe de pesquisa da cadeia de suprimentos da Rystad Energy, disse que o recente aumento nos preços das ações refletiu uma mistura de tensão geopolítica, apoio estratégico de políticas e impulso especulativo.

“As terras raras claramente se moveram para o centro da estratégia industrial global, vitais para defesa, EVs e energia limpa, mas isso parece mais os estágios iniciais de uma mudança estrutural do que um ‘quarto boom’ maduro”, disse Martinsen à CNBC por e-mail.

Neodímio é exibido na fábrica da Inner Mongolia Baotou Steel Rare-Earth Hi-Tech Co. em Baotou, Mongólia Interior, China, em 5 de maio de 2010.

“Estamos passando de uma filosofia de ‘preencher a lacuna’ por meio de importações para ‘minerar a lacuna’ domesticamente ou regionalmente”, continuou ele. “Será um caminho longo, caro e rochoso, pois recursos adequados e econômicos e a diversidade de elementos são complexos de controlar totalmente.”

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Transição energética limpa

Gernot Wagner, economista climático da Universidade de Columbia, disse que havia dois fatores claros em jogo à medida que a competição global se intensifica para garantir o fornecimento de minerais críticos –um estrutural e outro político.

“O estrutural: Apesar de quaisquer tentativas políticas que possam haver para parar ou descarrilar as coisas, a transição para a energia limpa está acontecendo – e está acelerando – e sim, depende de uma série de minerais críticos, cujos preços estão fadados a subir”, disse Wagner à CNBC por e-mail.

A China, por exemplo, é o fornecedor de baixo custo de muitos desses minerais, disse Wagner, observando que o domínio mineral do gigante asiático não é de forma alguma um acidente.

“Pequim investiu pesadamente em política industrial verde por anos, focando na cadeia de suprimentos completa e integrada. É aí que a política entra”, disse Wagner. “Algumas tentativas de nacionalizar as cadeias de suprimentos são eminentemente justificadas por segurança nacional e outras razões, e essas tentativas aumentarão os preços e as ações das empresas de mineração dos EUA. Parte do que vemos, é claro, é meramente a política atual ou guerras comerciais erráticas e coisas do tipo”, acrescentou.

Cauê Rigamonti

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