Por que Walmart decidiu anunciar que aumentaria os preços e arriscar a fúria de Trump
Publicado 20/05/2025 • 14:48 | Atualizado há 4 horas
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Publicado 20/05/2025 • 14:48 | Atualizado há 4 horas
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No mês passado, o Walmart minimizou o impacto das tarifas do presidente Donald Trump em seus negócios diante de um grande público de investidores. O CEO da emprea, Doug McMillon, destacou outros momentos desafiadores pelos quais a empresa passou — como as consequências do 11 de setembro — e o CEO de seus negócios internacionais nem sequer abordou o comércio durante um painel com líderes corporativos globais.
A maior varejista dos EUA adotou um tom bem diferente na quinta-feira (15). Em sua teleconferência de resultados e em entrevistas à CNBC sobre seus resultados trimestrais, a empresa alertou que tarifas mais altas sobre importações logo significariam preços mais altos para seus consumidores.
“Estamos satisfeitos com o progresso feito pelo governo [Trump] nas tarifas em relação aos níveis anunciados no início de abril, mas elas ainda estão muito altas”, disse o CFO John David Rainey à CNBC em uma entrevista.
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Rainey acrescentou que o Walmart está “preparado para preços baixos todos os dias, mas a magnitude desses aumentos é maior do que qualquer varejista pode absorver”.
Os comentários da loja de descontos eram arriscados, considerando o histórico de Trump de atacar publicamente outras empresas ou pessoas vistas como contrárias à sua agenda. De fato, ele atacou o Walmart em uma publicação nas redes sociais no fim de semana, dizendo à empresa para ‘absorver as tarifas’.
A mudança de tom do Walmart em relação ao impacto das tarifas — e o vaivém com a Casa Branca — é a mais recente ilustração da delicada dança de líderes empresariais que tentam apaziguar clientes, acionistas e uma Casa Branca notoriamente transacional, enquanto a política comercial em constante mudança de Trump perturba seus negócios. Mas a resposta mais franca da loja de descontos também destaca uma área em que os líderes corporativos se tornaram mais dispostos a criticar publicamente as posições políticas de Trump.
“Tarifas são realmente o único tópico que rompeu um período realmente silencioso de engajamento corporativo”, disse Joanna Piacenza, vice-presidente de liderança inovadora da Gravity Research, uma empresa sediada em Washington, D.C., que auxilia empresas a lidar com riscos de reputação e conta com empresas da Fortune 500 como suas clientes.
“É uma questão sobre a qual as empresas, os CEOs, se sentem confortáveis em se manifestar porque a vinculam a questões comerciais. Isso não pode necessariamente ser dito sobre outras questões polarizadoras que estão dominando o zeitgeist atualmente”, completou.
O Walmart respondeu a Trump com sua própria declaração, ecoando seu compromisso de manter preços baixos. “Sempre trabalhamos para manter nossos preços o mais baixo possível e não vamos parar”, disse o Walmart. “Manteremos os preços o mais baixo possível pelo maior tempo possível, dada a realidade das pequenas margens de lucro do varejo.”
O Walmart não quis comentar além do comunicado. Uma fonte próxima à empresa disse que a decisão da rede varejista de alertar sobre preços mais altos foi motivada por um senso de obrigação de explicar aos clientes e investidores por que os preços aumentariam.
Embora os preços do Walmart sejam monitorados de perto devido ao seu enorme alcance, ele não está sozinho: outras empresas, incluindo Microsoft e Subaru, alertaram sobre aumentos de preços relacionados a tarifas. Mas na terça-feira (20), a Home Depot rompeu com esse padrão, com seu CFO, Richard McPhail, afirmando que a empresa planeja “manter, de modo geral, os níveis de preços atuais em todo o nosso portfólio”.
Consumidores e investidores terão uma visão mais clara sobre como as empresas lidarão com os preços nos próximos dias, com a Target e a Lowe’s, entre outras, divulgando os resultados do primeiro trimestre.
Enquanto Trump se preparava para assumir o cargo, o mundo corporativo o recebeu com uma arrecadação recorde de US$ 239 milhões para seu comitê de posse. Esses fundos incluíram doações da Federação Nacional do Varejo (NRF), o braço de lobby do setor, e da gigante de varejo Target, que contribuiu para o comitê de posse pela primeira vez em pelo menos uma década. A NRF doou US$ 250 mil para o fundo, enquanto a Target emitiu um cheque de US$ 1 milhão.
O Walmart também contribuiu com US$ 150 mil para o comitê de posse de Trump, consistente com as doações da varejista sediada no Arkansas nas últimas três posses presidenciais — incluindo a do ex-presidente Joe Biden em 2021 e a primeira de Trump em 2017.
O Walmart, a Target e diversas outras empresas também seguiram o exemplo de Trump, revertendo ou eliminando importantes programas de diversidade, equidade e inclusão. As empresas, impulsionadas pela esperança de que Trump cortasse seus impostos, permaneceram em silêncio sobre as políticas do presidente durante os dois primeiros meses de seu governo.
Mas então vieram as tarifas. Mais empresas se manifestaram sobre as tarifas americanas depois de 9 de abril do que imediatamente após o anúncio de Trump, em 2 de abril, de que imporia pesadas barreiras comerciais a dezenas de países, de acordo com dados da Gravity Research. 9 de abril foi o dia em que Trump reduziu temporariamente essas pesadas taxas retaliatórias, mas aumentou as tarifas sobre as importações chinesas para astronômicos 145%.
Houve 139 respostas corporativas às tarifas em canais como comunicados à imprensa, teleconferências de resultados, mídias sociais, entrevistas com a imprensa e memorandos de funcionários entre 10 e 25 de abril, em comparação com 79 entre 2 e 9 de abril, segundo a Gravity Research. Quase metade das declarações corporativas desde o adiamento temporário das tarifas veio de teleconferências de resultados, nas quais CEOs proferiram comentários preparados e responderam a perguntas de analistas.
A reação às tarifas ganhou força entre alguns executivos de alto escalão que, apenas alguns meses antes, haviam elogiado as políticas de Trump como um benefício para os negócios. Os CEOs da Delta Air Lines e do JPMorgan Chase, empresas que doaram US$ 1 milhão cada para o fundo de posse de Trump, se manifestaram sobre como as tarifas estavam prejudicando os gastos do consumidor americano.
Horas antes de o presidente suspender algumas tarifas naquele dia, o CEO do JPMorgan Chase
Jamie Dimon foi ao programa “Mornings With Maria” da Fox Business — que Trump costuma assistir — e disse que via as tarifas de Trump levando a uma recessão nos EUA. Isso marcou uma reviravolta em relação às suas declarações em janeiro, quando ele disse que as tarifas eram positivas para a segurança nacional e que as pessoas precisavam “superar isso”.
O CEO da Delta, Ed Bastian, também disse à CNBC, em uma entrevista pouco antes do adiamento do conflito comercial, que a incerteza econômica causada pelas tarifas estava causando a desaceleração das reservas de passagens aéreas e descreveu as políticas comerciais em rápida mudança de Trump como “a abordagem equivocada”. Em janeiro, Bastian afirmou que 2025 seria o “melhor ano financeiro da história” da transportadora. Mas, em 9 de abril, a Delta cortou seus planos de crescimento e retirou sua projeção anual.
No mesmo dia em que a Delta retirou sua projeção anual, o Walmart se concentrou principalmente em sua estratégia de negócios de longo prazo no dia do investidor — às vezes se esforçando para contornar a questão das tarifas.
McMillon adotou um tom leve ao iniciar uma sessão de perguntas e respostas com investidores, brincando sobre quantas vezes as tarifas seriam mencionadas.
“Caso algum de vocês queira fazer uma aposta online, o over/under atual para perguntas relacionadas a tarifas é de seis”, disse ele na ocasião.
Embora o Walmart não tenha se manifestado publicamente sobre as tarifas por semanas depois disso, McMillon foi um dos líderes do varejo que se encontrou com Trump no final de abril na Casa Branca para discutir suas políticas comerciais. Os CEOs da Home Depot e da Target também compareceram.
Após o término da reunião, as três empresas emitiram declarações quase idênticas, descrevendo a reunião como “produtiva” ou “informativa e construtiva”.
Na quinta-feira (15), o Walmart deixou claro como acreditava que as tarifas afetariam seus negócios e clientes. Além do alerta de preço, o grande varejista manteve sua previsão para o ano inteiro, mas não forneceu projeções para o lucro por ação ou crescimento do lucro operacional no segundo trimestre fiscal devido à política tarifária flutuante dos EUA.
O analista de varejo Michael Baker, da D.A. Davidson, disse que a linguagem dos líderes da empresa estava “mais clara e específica” do que no mês passado — algo que aconteceu por escolha própria, não por acidente.
“O Walmart faz tudo com um propósito e entende que há muita atenção no que eles dizem”, disse Baker. “Eles estão tentando sinalizar a ideia de que os preços vão subir e preparar o consumidor e a população dos EUA para essa ideia, e também, de certa forma, enviar uma mensagem aos formuladores de políticas de que é impraticável pensar que a totalidade das tarifas será absorvida pelo varejista ou pelo fabricante.”
Esse alerta levou Trump a uma publicação nas redes sociais. Ele e seus principais assessores econômicos insistiram que os consumidores não arcarão com o custo das tarifas, mesmo que a maioria dos economistas diga o contrário.
“O Walmart deveria PARAR de tentar culpar as tarifas como a razão para o aumento de preços em toda a cadeia”, escreveu Trump no sábado no Truth Social. O Walmart faturou BILHÕES DE DÓLARES no ano passado, muito mais do que o esperado. Entre o Walmart e a China, eles deveriam, como se costuma dizer, “COMER AS TARIFAS” e não cobrar NADA dos clientes. Eu estarei de olho, e seus clientes também!!!
As críticas de Trump aos lucros anuais do Walmart ecoam um refrão comum de muitos legisladores democratas, mas são raras em um republicano — especialmente um que presidiu um grande corte de impostos corporativos em seu primeiro mandato presidencial.
As margens de lucro mais estreitas do Walmart em comparação com outros varejistas e empresas também podem explicar por que ele sentiu a necessidade de se manifestar e explicar os preços mais altos, disse Steven Shemesh, analista de varejo da RBC Capital Markets. A margem operacional da empresa normalmente gira em torno de 4% a 5%, semelhante à de outros varejistas de alimentos, mas tende a ser menor do que a de alguns varejistas que vendem mais produtos discricionários.
Por exemplo, a margem operacional da Lululemon foi de quase 29% em seu trimestre mais recente.
Com seus comentários na quinta-feira, o Walmart pareceu buscar “um meio-termo” ao agradecer ao governo Trump pelo progresso nas negociações com a China, que levaram os EUA a reduzir temporariamente as taxas sobre as importações chinesas de 145% para 30%, mas disse que gostaria de ver essa taxa cair ainda mais, disse Shemesh.
Ele disse que o Walmart pode ter decidido ser transparente com seus consumidores sobre as realidades financeiras das tarifas para seus negócios, especialmente porque sua base de clientes tende a ser sensível a preços.
“As margens estão estreitas, os custos estão subindo, eles vão comer o máximo que puderem, mas em algum momento a matemática não bate”, disse ele.
O Walmart, com sua reputação de preços baixos e vasta presença nos EUA, está melhor posicionado para resistir às críticas de Trump do que muitas outras empresas, disse Baker, da D.A. Davidson. A rede de descontos frequentemente se refere a uma estatística que ilustra seu enorme alcance e explica, em parte, por que é o maior supermercado do país: cerca de 90% da população dos EUA mora a menos de 16 quilômetros de uma loja Walmart.
“Nunca é bom para um varejista estar do lado oposto de uma questão com o governo dos EUA e, particularmente, com o discurso de intimidação que Trump tende a usar. Então, não é ótimo”, disse Baker.
Mas o Walmart conseguiu transmitir aos clientes que trabalhará para manter os preços baixos, especialmente para alimentos essenciais como leite e ovos.
“Se os preços precisarem subir, os clientes entendem que o Walmart ainda terá um bom custo-benefício em relação aos outros”, disse ele.
Nas próximas duas semanas, outros grandes varejistas, incluindo a Target e a Best Buy, compartilharão suas próprias atualizações sobre suas perspectivas de vendas — e se as tarifas significarão aumentos de preços.
Piacenza, da Gravity Research, disse que as marcas estão monitorando umas às outras de perto.
“Ninguém quer ser a maior folha de grama”, disse ela. “Eles querem fazer o que seus concorrentes estão fazendo.”
Mas, ela acrescentou, os esforços das empresas para alertar os clientes sobre preços mais altos e explicar os motivos podem ajudar as marcas a se anteciparem à culpabilização.
“Isso nos leva de volta a esta questão: quando se trata do tribunal da opinião pública, os consumidores apontarão para a Casa Branca ou para as empresas pelos preços mais altos que estão vendo?”, disse ela.
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Este conteúdo foi fornecido pela CNBC Internacional e a responsabilidade exclusiva pela tradução para o português é do Times Brasil.
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