Há 10 anos, Aaron Cordovez vende eletrodomésticos de cozinha na Amazon. Agora ele está em apuros, porque a maioria de seus produtos é fabricada na China.
Cordovez, cofundador da Zulay Kitchen, disse que sua empresa está se movendo “o mais rápido que podemos” para transferir a produção para Índia, México e outros mercados, onde as tarifas estão aumentando sob o presidente Donald Trump, mas são brandas em comparação com as taxas impostas sobre produtos da China. Esse processo provavelmente levará pelo menos um ou dois anos para ser concluído, ele disse.
“Estamos fazendo nosso estoque durar o máximo possível”, disse Cordovez em um e-mail.
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A Zulay também está aumentando temporariamente o preço de alguns de seus espumadores de leite, espetos para marshmallows e outros produtos. O popular coador de cozinha da empresa agora custa US$ 12,99, acima dos US$ 9,99 antes de Trump anunciar sua ampla proposta tarifária no início deste mês.
Comerciantes da Amazon estão aumentando os preços de tudo, desde bolsas de fraldas e ímãs de geladeira até colares com pingentes e outros itens mais vendidos, à medida que enfrentam custos de importação mais altos. A empresa de software de e-commerce SmartScout rastreou 930 produtos na Amazon que tiveram aumento de preços desde 9 de abril, com um salto médio de 29%.
Os aumentos de preço afetam uma variedade de categorias, incluindo vestuário, joias, itens domésticos, material de escritório, eletrônicos e brinquedos.
A guerra comercial com a China ameaça desestabilizar os vendedores do marketplace de terceiros da Amazon, que representa cerca de 60% das vendas online da empresa. Muitos comerciantes estão baseados na China ou dependem da segunda maior economia do mundo para obter e montar seus produtos.
Os vendedores agora enfrentam o dilema de aumentar os preços ou arcar com os custos adicionais associados às novas tarifas de Trump. É uma ameaça existencial para muitos vendedores, que sobrevivem com margens de lucro extremamente apertadas e, nos últimos anos, lidaram com custos crescentes na Amazon relacionados a armazenamento, logística, frete e taxas de publicidade, além da pressão de preços vinda do aumento da concorrência.
O CEO da Amazon, Andy Jassy, disse à CNBC no início deste mês que a empresa “fará tudo o que puder” para manter os preços baixos para os consumidores, incluindo renegociar termos com alguns de seus fornecedores. Mas ele reconheceu que alguns vendedores terceirizados vão “precisar repassar esse custo” das tarifas aos consumidores.
O preço das ações da Amazon caiu 15% até agora este ano, acompanhando a queda do mercado em geral. A empresa divulgará os lucros do primeiro trimestre na próxima semana.
Os produtos importados da China agora enfrentam tarifas de importação de 145%, embora Trump tenha dito na quarta-feira (23) que seu governo está “ativamente” conversando com a China sobre um possível acordo para reduzir tarifas. Autoridades chinesas negaram na quinta-feira (24) que estejam ocorrendo negociações comerciais.
Cerca de 25% dos aumentos de preços observados pela SmartScout foram iniciados por vendedores sediados na China, disse Scott Needham, CEO da empresa. Na semana passada, a fabricante de joias de aço inoxidável Ursteel aumentou os preços de quatro de seus produtos em US$ 6,50, enquanto a marca de roupas Chouyatou elevou o preço de alguns de seus vestidos em US$ 2. Ambas as empresas estão sediadas na província de Zhejiang, na China.
A Anker, marca chinesa de eletrônicos e um dos maiores vendedores da Amazon, aumentou os preços de um quinto de seus produtos vendidos nos EUA, incluindo um carregador portátil, que subiu de US$ 110 para US$ 135, segundo dados da SmartScout.
Representantes da Anker, Ursteel e Chouyatou não responderam aos pedidos de comentário.
A Zulay, com sede na Flórida, é uma das muitas empresas americanas que estão aumentando os preços. A empresa também está cortando custos. Cordovez disse que foi forçado a demitir 19% de sua força de trabalho e cortar os gastos com anúncios online em 85%.
A Desert Cactus, com sede em Illinois, também está tomando medidas. Joe Stefani, presidente da empresa, tem buscado transferir a produção de parte dos produtos com tema universitário da marca da China para o México, Índia e Vietnã. Cerca de metade dos produtos da Desert Cactus vêm da China, enquanto o restante é produzido nos EUA, disse Stefani.
Um dos principais produtos da empresa é uma moldura de placa de carro personalizável fabricada na China. No início do primeiro mandato de Trump em 2016, a empresa de Stefani pagava 4% em taxas de importação e envio pelas placas. Essa taxa disparou para 170%, segundo ele.
“As tarifas não podem permanecer tão altas”, disse Stefani. “Tem muita gente que simplesmente não vai conseguir continuar.”
Stefani disse que espera que a Desert Cactus acabe aumentando os preços de alguns produtos, embora esteja preocupado com a possível rejeição dos consumidores diante do choque de preços.
“Será que alguém vai estar disposto a pagar US$ 50 por um boné na Amazon?” disse Stefani. “Você sabe que vai ser caro no estádio, mas na Amazon a gente não sabe.”
Dave Dama, cofundador da empresa de saúde e beleza Pure Daily Care, disse que o custo de fabricação de um de seus produtos para cuidados com a pele na China saltou de US$ 10 para US$ 25. A maioria dos vendedores da Amazon não terá escolha a não ser aumentar os preços, afirmou.
“Se você vendia algo por US$ 40 e lucrava US$ 7 ou US$ 8 no fim do dia, com essas tarifas, esses dias acabaram”, disse Dama. “Você não consegue mais fazer isso. É insustentável.”
A Pure Daily Care planeja escalonar os aumentos de preços ao longo de várias semanas, e somente nos produtos “nos quais realmente for necessário”, para evitar que os algoritmos da Amazon classifiquem a empresa mais abaixo nos resultados de busca ou perca a valiosa “caixa de compra” (“buy box”), disse ele. A buy box determina qual anúncio aparece primeiro quando um consumidor clica em determinado produto — e qual será comprado quando ele tocar em “Adicionar ao carrinho”.
Um porta-voz da Amazon disse que as políticas de preços da empresa continuam em vigor.
“Como sempre, os vendedores definem seus próprios preços e monitoramos regularmente como destacamos grandes preços como Ofertas em Destaque, para oferecer aos clientes preços baixos em uma ampla seleção,” disse o porta-voz em um comunicado.
Dama disse que sua empresa tem estoque suficiente de alguns produtos para durar até seis meses, o que pretende “alongar o máximo possível” na esperança de que China e EUA cheguem a um acordo comercial. A empresa também está abrindo mão de algumas promoções e descontos, além de pausar gastos com alguns anúncios gráficos e em vídeo.
Sobre seu estoque, Dama disse: “Podemos tentar alongar isso por sete, oito, nove meses, o que nos dá muito mais tempo para que isso se resolva, com sorte.”
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Este conteúdo foi fornecido pela CNBC Internacional e a responsabilidade exclusiva pela tradução para o português é do Times Brasil.
