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Custo Invisível: os acidentes de moto que fraturam corpos, famílias e o sistema de saúde brasileiro
Publicado 21/11/2025 • 19:44 | Atualizado há 47 minutos
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Publicado 21/11/2025 • 19:44 | Atualizado há 47 minutos
Acidente de moto
Com mais de 1,4 milhão de internações desde 2010, os acidentes com motociclistas sobrecarregam hospitais, mutilam jovens e drenam bilhões do SUS — numa tragédia cotidiana que poderia ser evitada.

Herbert Vital Giovanelli Lima carrega no nome uma premonição. Filho de fãs dos Paralamas do Sucesso, foi batizado em homenagem a Herbert Vianna e à música Vital e sua Moto. Em 2015, perdeu a perna esquerda justamente num acidente de moto. “Meu sonho de metal agora é uma perna, não mais uma moto”, diz ele, hoje com 36 anos.
Ator e fisioterapeuta, transformou o trauma em reinvenção pessoal e profissional. Mas o caminho até aqui foi longo: 33 dias em coma, infecção hospitalar grave, promessas que a mãe pagou indo a pé até Aparecida do Norte. “Acordar foi glorioso. Eu não morri. Tive uma nova chance e agarrei com força”, diz.
A porta aberta de um carro no corredor da Avenida Tiradentes, em São Paulo, mudou tudo. Herbert desviou, mas bateu em outro veículo. Fraturou seis costelas, perfurou os pulmões e teve alguns órgãos comprometidos. Como se não bastasse, teve que amputar a perna.
“Fui atendido no Hospital das Clínicas e depois levado ao Oswaldo Cruz. Minha mãe vendeu o carro para comprar o antibiótico. Quando o médico tirou o remédio, foi taxativo: agora é com o corpo dele. Finalmente eu reagi. Minha mãe agradeceu e foi a pé até Aparecida. Demorou três dias para chegar, mas cada passo dela era uma prece que me empurrava de volta à vida”, relata.
Hoje, Herbert defende mais segurança no trânsito. “Aquela faixa azul como corredor de moto salvou vidas. Deveria estar em toda cidade.”
Segundo o Dr. Moisés Cohen, um dos mais renomados nomes da ortopedia brasileira e diretor do Instituto Cohen, acidentes com moto são de alta energia e causam danos devastadores. “O que mais vemos são fraturas de tíbia, fêmur, tornozelo, punho, coluna. Há risco de paralisia, amputação, dor crônica, perda funcional.”
Dados mostram que as internações de motociclistas cresceram 55% em 10 anos. O perfil das vítimas é claro: homens jovens, trabalhadores, muitos entregadores. “Mais motos nas ruas é igual a mais trauma. A prevenção continua sendo o elo frágil”, afirma Cohen.
Ele defende um pacote de soluções: educação desde a habilitação, fiscalização de verdade, infraestrutura segura e parcerias com empresas. “Cada fratura é uma história interrompida. Investir em prevenção custa menos do que reconstruir vidas.”

Duas vidas, um impacto invisível: Herbert perdeu a perna. Sérgio carrega oito pinos no ombro. Ambos sobreviveram, mas jamais serão os mesmos.
No iFood, a segurança dos entregadores é prioridade, afirma Johnny Borges, diretor de impacto social da empresa. “Atuamos em três frentes: prevenção, proteção e escuta ativa.”
Entre as iniciativas estão o Indicador de Direção Segura, tecnologia que monitora frenagens bruscas e alerta os entregadores; seguro pessoal gratuito com coberturas que vão até R$ 120 mil; assistência psicológica e social; e 30 pontos de apoio pelo país.
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“Criamos a área Visão Zero, que atua com dados e campanhas para reduzir acidentes. O tempo de entrega considera o limite de velocidade. A construção de um trânsito seguro é dever de todos: empresas, governo e sociedade.”
Sergio Amando de Barros Jr., corretor de imóveis, sofreu um acidente em 2023. “O cara saiu da garagem sem olhar. Eu estava a 30km/h e estampei na porta dele. Quebrei o úmero e o pé. Coloquei placa e oito pinos no ombro. Nunca mais dormi de bruços.”
Apesar do bom atendimento que recebeu no hospital, Sérgio relata sequelas permanentes. “Tenho dor com o frio e perdi elasticidade dos movimentos. A vida mudou. O que ajudou foi a família. Minha irmã e meus filhos estiveram comigo o tempo todo”, relembra Sergio.
Para ele, falta respeito geral: “Motoristas, motociclistas e caminhoneiros. Todos têm culpa. Fora isso, falta asfalto decente. Eles recapeiam, aí chove e o buraco volta ainda maior.”
Para o Dr. Paulo Lobo, presidente da SBOT, a situação é alarmante. “Mais de 66% dos traumas nos hospitais envolvem motos. É uma epidemia silenciosa. O sistema está sobrecarregado e os profissionais exaustos.”
E não é para menos. Segundo levantamento da entidade, 82,1% dos pacientes têm dor crônica, 69,5% sofrem com deformidades e 35,8% passam por amputações. “O motociclista é o elo mais vulnerável da mobilidade urbana e o menos protegido.”
A SBOT lidera a campanha ‘Na moto, não mate, não morra’ e cobra ações integradas. “Campanhas permanentes, formação de qualidade, fiscalização e melhores condições de trabalho são fundamentais”, cobra o presidente.
De 2010 a 2023, o SUS gastou mais de R$ 2 bilhões com internações de motociclistas. Em 2024, já foram R$ 233,3 milhões. Estudos apontam que acidentes de trânsito consomem de 3% a 5% do PIB em países como o Brasil.
Segundo a Abramet, motociclistas respondem por quase 60% das lesões de trânsito. “A sobrecarga afeta o SUS, a Previdência e as famílias. Prevenir acidentes é garantir dignidade e proteger o futuro”, resume Dr. Paulo Lobo.

Herbert fecha com um recado inesperado: “Sabe o que podia ter me salvado? Uma buzina. Eu não buzinava por vergonha. Hoje, digo: buzine, seja chato. É barulhenta, mas pode salvar sua perna.”
A perna de Herbert agora é feita de metal. Mas o que mais brilha é sua lucidez: “O problema é que a gente acha que não vai acontecer com a gente. Até acontecer.”
Alexandre Hercules é editor-chefe da Brazil Health
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